A “sorte” acabou por sorrir a Miguel Oliveira há duas semanas, quando no culminar de uma série de problemas ao longo de dois dias que fizeram com que tivesse a pior qualificação na categoria de Moto2 (23.º lugar) acabou por ver o Grande Prémio da Grã-Bretanha cancelado devido às condições climatéricas que tornaram o traçado de Silverstone demasiado perigoso para realizar mesmo a prova. Com uma desvantagem de apenas três pontos para o italiano Francesco Bagnaia na classificação do Mundial, o português acabou por passar entre os pingos da chuva numa prova que nunca lhe correu bem e as atenções viraram-se para o Grande Prémio de São Marino, que não tem sido propriamente o mais pródigo para o piloto da KTM.

O fim de semana em que tudo correu mal “favoreceu” Miguel Oliveira: GP da Grã-Bretanha cancelado

À exceção de 2014, Oliveira foi terminando sempre entre os dez primeiros no traçado agora batizado de Misano World Circuit Marco Simoncelli quando estava no Moto3, conseguindo um inédito segundo lugar em 2015 apenas atrás de Enea Bastianini. No entanto, a realidade no Moto2 tem sido diferente: em 2016 acabou no 17.º posto, no ano passado acabou por desistir. Agora, e quando faltam apenas sete provas para o final do Mundial, o sonho de conseguir sagrar-se campeão mundial também passava pelo que conseguiria fazer para melhorar esses mesmos resultados anteriores em São Marino nesta categoria. E depois de ter feito o melhor tempo na última sessão de treinos livres, não foi além do nono lugar na qualificação (último da terceira fila da grelha) depois de sofrer uma queda nesse período onde o rival direto foi o mais rápido.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Miguel Oliveira fez o melhor tempo na última sessão de treinos livres mas acabou qualificação no nono lugar (Mirco Lazzari gp/Getty Images)

“Foi uma qualificação um pouco estranha. Sabíamos que era importante conseguir uma volta rápida logo no início. Gostava de estar um pouco mais à frente na grelha, apesar de ter ficado a menos de um décimo do quinto posto. Também ambicionamos continuar a lutar pelo título e não queremos perder a oportunidade de encurtar a distância”, comentou após a nona posição na qualificação de uma prova que tem registado sempre casa cheia nas bancadas. Mas esta não seria a primeira nem a segunda vez que o português saía de trás e ia lutar pela corrida. Mais uma vez, o arranque mostrou isso mesmo.

Chegados à curva oito do traçado, Miguel Oliveira já tinha saltado para o quinto lugar enquanto Pecco Bagnaia cimentava uma vantagem de meio segundo sobre Marcel Schrötter. Pouco depois, e confirmando o período menos conseguido no Mundial, Alex Márquez, terceiro classificado na classificação com apenas dois pontos de avanço sobre Brad Binder e já com mais de 70 pontos de distância para os dois primeiros, sofreu mais uma queda com Augusto Fernández e acabou por ficar logo no início longe dos lugares cimeiros da prova. Com três voltas realizadas, o Falcão português já tinha aberto as asas o suficiente para chegar às posições do pódio mas com alguma distância para o líder do Campeonato e o também italiano Mattia Pasini.

Com menos gasolina no depósito, e apesar da pressão de Schrötter ou Joan Mir (sobretudo estes, à frente de Binder, Jorge Navarro e Fabio Quartararo), Miguel Oliveira foi tentando encurtar distâncias para Pasini enquanto Bagnaia ia confirmando as indicações na qualificação e consolidava o primeiro lugar, com mais de um segundo de avanço na liderança da corrida. A meio da prova, com 13 voltas cumpridas, a diferença entre a terceira e a segunda posição era de meio segundo; a dez voltas do fim, depois de uma ameaça inicial, a ultrapassagem estava conseguida. 

Ainda havia a dúvida sobre a possibilidade de ser a tempo de poder discutir a liderança com Bagnaia, mas a vantagem que o transalpino que lidera o Mundial conseguiu na primeira metade da corrida acabou por ser determinante para uma gestão muito tranquila desse primeiro lugar e Miguel Oliveira acabaria a prova a defender o segundo posto em São Marino perante a melhoria de tempos e ritmo do germânico Marcel Schrötter, da Kalex, conseguindo mesmo segurar essa importante posição (apesar de um ataque com tudo do alemão numa das últimas curvas, que não resultou por ter saído mal depois de ainda passar para a frente) depois de mais uma grande exibição saindo da última vaga da terceira linha da grelha.

“Sabíamos que ia ser difícil conseguir bater aqui o Pecco [Bagnaia] mas tentámos tudo. Nas primeiras voltas não consegui ter o mesmo ritmo do que ele mas de qualquer forma cá estamos nós outra vez no pódio. Conseguimos minimizar os danos em termos de Mundial e continuamos na luta. Ainda faltam algumas provas, boas corridas para nós, e estou confiante que vamos regressar ao lugar a que pertencemos”, comentou Miguel Oliveira no final do Grande Prémio de São Marino.

Com este triunfo, e quando faltam apenas seis provas para o final do Campeonato do Mundo de Moto2, passou a somar 214 pontos, mais oito do que Miguel Oliveira, que somou o terceiro pódio consecutivo. Brad Binder, que subiu agora ao terceiro posto do Mundial, já tem uma distância de 100 pontos para os dois da frente. A próxima prova será o Grande Prémio de Aragão, no dia 23, seguindo-se os traçados de Tailândia, Japão, Austrália, Malásia e Valência. De recordar que, no ano passado, o português fechou com chave de ouro o Mundial com três triunfos consecutivos.