A estratégia do PCP para o ano eleitoral que se segue parece afinada. Atacar PSD e CDS, associar o PS à “política de direita” e reforçar o papel do partido na influência que tem exercido junto do Governo, insinuando que todas as conquistas dos últimos três anos foram alcançadas apesar dos socialistas e não com eles. Quanto ao Bloco de Esquerda, a tática continua a ser a de ignorar o partido de Catarina Martins. E se dúvidas houvesse quanto a esta linha, elas foram todas dissipadas com o discurso do secretário-geral do PCP este domingo na Festa do Avante!.

“A resposta estrutural aos problemas do País não se faz com o governo do PS, nem com a sua atual política, amarrado às opções da política de direita.”, afirmou Jerónimo de Sousa. Os acordos assinados entre os socialistas e o PSD em abril (sobre fundos comunitários e descentralização) deixaram os comunistas com a certeza de que “é preciso ir mais longe” do que tem ido o “Governo minoritário do PS”.

Esta designação foi recorrentemente utilizada pelo secretário-geral do PCP ao longo dos três dias de festa e promete vir a entrar na gíria comunista nos próximos meses. A justificação pode encontrar-se na intervenção que encerrou as declarações políticas da rentrée do partido. “Não vale a pena o PS enfeitar-se com alguns dos avanços que foram alcançados nestes três anos. Muito do que se avançou começou por ter a oposição ou a resistência do PS”, revelou.

Para o Governo, estava ainda prevista uma acusação de utilitarismo: “O que se avançou ainda que limitadamente, avançou-se porque o PS não tinha os votos para, sozinho, impor a política que sempre, ao longo de quatro décadas, fez sozinho ou com o PSD e o CDS”. O mérito dos avanços deve-se aos comunistas.

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Por esse motivo, e a cerca de um ano das legislativas e a oito meses das europeias, Jerónimo de Sousa não teve pruridos em apelar ao voto no seu partido. Para o líder comunista é necessário que os portugueses tomem “consciência da importância de dar mais força à CDU com o seu voto”. E, pedindo emprestado o slogan ontem apresentado pelo CDS na rentrée centrista, justificou o pedido afirmando que o PCP é “a única alternativa” à atual política.

Para isso, o secretário-geral do PCP definiu os seus alvos e não esqueceu o PS. Houve até espaço para um ataque direto a António Costa: “O secretário-geral do PS afirmou há dias que não há governo de esquerda sem o PS. O que os portugueses sabem é que sempre que o PS foi governo o que houve foi política de direita. É essa a experiência que os portugueses podem colher dos seus sucessivos governos”, referiu.

Depois das farpas e dos auto-elogios, chegou o rol de exigências para o Orçamento do Estado, que foi extenso e transparente. Entre a proposta para “revogação das normas gravosas da legislação laboral” e “o aumento geral dos salários e do Salário Mínimo Nacional para 650 euros a 1 de janeiro de 2019″, o secretário-geral do PCP voltou a insistir na “contagem integral do tempo de serviço para professores, militares, forças e serviços de segurança e outras carreiras específicas da Administração Pública” – uma batalha que Jerónimo de Sousa ainda não dá por perdida.  A lista continuou e não foram esquecidas as velhas bandeiras: “o aumento mínimo de 10 euros em janeiro próximo” das pensões e das reformas; “a reposição do IVA na eletricidade e no gás nos 6%”; e “a universalização do abono de família”.

Perante uma plateia muito bem composta – afinal, a programação em todos os outros palcos foi interrompida à hora de início das intervenções políticas no palco principal -, que ostentava várias bandeiras do PCP e da JCP, Jerónimo de Sousa falou dos avanços e recuos e deu uma autêntica aula de anti-capitalismo, galvanizando os presentes.

O secretário-geral do PCP discursou na Festa do Avante! ao fim da tarde deste domingo e encerrou assim o ciclo de intervenções políticas da rentrée comunista. Já começou a corrida para o último ano desta legislatura.