Tinham pouco mais de 50 anos quando o filho, de 26, foi encontrado morto na berma da estrada depois de estar desaparecido durante dois dias. Tinha tido um acidente de mota num sítio remoto e o corpo só foi encontrado 48 horas depois. Era o filho único de um casal de ingleses “extremamente rico” que não se deixou toldar pela dor e pela perda e agiu rápido: até porque não havia qualquer tempo a perder. Com a morte do único herdeiro, o casal percebeu que tinha de tomar uma qualquer atitude para preservar a descendência. Como o sémen sobrevive até 72 horas depois da morte do ser humano, os ingleses decidiram contratar um urologista que o extraiu, congelou e armazenou durante quase um ano.

Mas havia um problema: a lei do Reino Unido proíbe tudo isto. O filho do casal milionário não estava a ser acompanhado em qualquer clínica de fertilidade nem sequer tinha autorizado a extração e o armazenamento de sémen post mortem. Ou seja, no que à lei dizia respeito, tanto o casal como o urologista tinham cometido um crime. Os dois ingleses contactaram a Autoridade de Fertilidade e Embriologia Humana britânica, pediram uma análise ao caso e esperaram durante um ano. 365 dias depois, não quiseram arriscar durante mais tempo a única hipótese de ter um herdeiro e contrataram um mensageiro que cruzou o oceano até aos Estados Unidos.

O destino final era a clínica de fertilidade La Jolla, em San Diego, na Califórnia, que é uma referência a nível internacional no que toca a técnicas de reprodução assistida. Além disso e ainda mais importante, é a clínica onde trabalha um médico bastante conhecido por ter poucos escrúpulos no que toca à ética da profissão: David Smotrich. O obstetra e ginecologista terá ajudado várias personalidades — da política à aristocracia britânica — ao longo dos anos a contornar as leis do Reino Unido que dizem respeito à fertilidade, incluindo a que proíbe os pais de escolher o género do bebé.

Nascimento nos Estados Unidos

Assim sendo, a criança acabou por nascer nos Estados Unidos em 2015 graças à colaboração de uma doadora de óvulos norte-americana e de outra pessoa que aceitou ser barriga de aluguer. Graças às técnicas de seleção de género, o casal britânico escolheu ainda que o neto seria um rapaz, além de que foram nomeados tutores legais da criança e estiveram presentes no momento do nascimento. A criança, agora com três anos, vive no Reino Unido com os avós.

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Em declarações ao Daily Mail, David Smotrich confirmou a história mas não revelou a identidade do casal para que não estes não sofram repercussões judiciais. O médico contou ainda que os dois ingleses foram “muito específicos” quanto ao tipo de pessoas que escolheram para ser doadora de óvulos e barriga de aluguer, já que tinha de ser alguém que tivessem aprovado enquanto mulher do filho.

Smotrich disse que ainda recebe postais da família no Natal e que conserva nos Estados Unidos parte do esperma extraído do filho do casal e três embriões congelados. “Não estou aqui para julgar quem deve ser pai e quem não deve ser. Segundo o que eles me contaram, ele queria ter filhos e eu fico contente por ter podido dar um final feliz a uma história trágica” afirmou o médico norte-americano, acrescentando ainda que todo o procedimento custou entre 70 e 115 mil euros.

Tanto o casal como o urologista inicial, passando pelo mensageiro, podem sofrer consequências judiciais em território britânico caso a sua identidade seja revelada. Atualmente, no Reino Unido, nascem cinco crianças por ano graças à fertilização in vitro em casos em que o pai já não está vivo no momento no nascimento: mas em todos eles é necessária a autorização prévia do progenitor.