O Centro Pompidou, em Paris, vai ter duas obras de Rui Chafes que vão ser apresentadas no dia em que o escultor inaugura, na delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian, uma exposição com obras de Alberto Giacometti. A 1 de outubro, as esculturas “Carne Invisível” e “Carne Misteriosa” (2013) vão ser apresentadas e expostas no seio da coleção permanente do Musée National d’Art Moderne, na sala 32, graças a uma doação anónima que leva, pela primeira vez, obras de Rui Chafes para o Pompidou.

As obras tinham sido mostradas em Paris, em 2017, na Galerie Mendes, no âmbito do projeto Lusoscopia do Instituto Camões em França, quando o galerista Philippe Mendes deu ao escultor português ‘carta branca’ para expor trabalhos no meio de pinturas dos séculos XVI e XVII.

Também a 1 de outubro, a Gulbenkian de Paris vai inaugurar, a exposição “Gris, Vide, Cris”, com obras de Rui Chafes e Alberto Giacometti que estará patente ao público de 3 de outubro a 16 de dezembro. A mostra pretende “proporcionar um encontro” entre o artista suíço, que morreu em 1966, e o artista português, que nasceu em 1966, e vai contar com 11 esculturas e quatro desenhos de Alberto Giacometti, tendo todas as esculturas de Rui Chafes – exceto uma – sido concebidas para este projeto.

“Achei que havia muitos pontos de encontro, sobretudo imateriais, entre a obra de Giacometti e de Rui Chafes. É uma ideia não de um diálogo mas, sobretudo, proporcionar um encontro”, disse à agência Lusa, em janeiro, Helena de Freitas, a comissária da exposição.

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O projeto desenvolveu-se a partir de uma pesquisa sobre o léxico comum aos artistas, como a intemporalidade, a desmaterialização e o vazio que são conceitos “que eles desenvolvem de uma forma material muito diferente em tempos diferentes”, o que pode transformar o projeto em algo “luminoso”, de acordo com a curadora que, em 2016, comissariou a retrospetiva de Amadeo de Souza Cardoso, no Grand Palais, em Paris.

“Digamos que há um território de cumplicidade e esse território é até mais imaterial do que material, ou seja, o Rui Chafes não foi escolhido por fazer obras parecidas com as do Giacometti porque, de facto, até é possível pensar, em termos de realização material, em situações de contraste”, continuou Helena de Freitas.

No seu livro “O Silêncio de?” (1998), Rui Chafes escreveu que, “juntamente com Joseph Beuys, A. Giacometti é talvez o grande escultor do pós-guerra” que tomou “o caminho da negação, da redução, da austeridade e ascetismo” e que criou “um espaço calcinado”, abrindo caminho para a “moderna escultura: a escultura da consciência”.

Nascido em Lisboa, Rui Chafes fez o curso de Escultura na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, entre 1984 e 1989, e estudou na Kunstakademie Düsseldorf, de 1990 a 1992, com Gerhard Merz, tendo sido galardoado com o Prémio Pessoa, em 2015, e com o Prémio de Escultura Robert-Jacobsen, na Alemanha, em 2004.

Em 1995, Rui Chafes representou Portugal, juntamente com José Pedro Croft e Pedro Cabrita Reis, na 46.ª Bienal de Arte de Veneza, e, em 2004, participou na 26.ª Bienal de S. Paulo, com um projeto conjunto com Vera Mantero, tendo, ainda, em 2013, sido um dos artistas internacionais convidados para expor no Pavilhão da República de Cuba, na 55.ª Bienal de Veneza.

O seu trabalho tem sido exposto em Portugal e no estrangeiro, desde meados dos anos oitenta e, em 2014, apresentou a exposição antológica “O peso do paraíso”, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

O artista, que tem muitas obras colocadas em espaços públicos internacionais de forma permanente, instalou, em 2008, uma escultura em Champigny-sur-Marne, nos arredores de Paris, em homenagem à emigração portuguesa.