Em matéria de ambiente, os responsáveis pela União Europeia (UE) andam ‘nervosos’ essencialmente por dois motivos. Primeiro, porque as vendas de veículos eléctricos crescem, mas não ao ritmo que julgaram expectável . Segundo, porque não param de aumentar as emissões de dióxido de carbono (CO2), gás que apesar de não ser tóxico, contribui para o aquecimento global, o que ameaça tornar-se um problema ainda mais grave.

O segundo ponto era previsível e só foi uma surpresa para os políticos mais “distraídos” de Bruxelas, dada a mudança das motorizações de pequena e média capacidade a gasóleo para gasolina. É bom recordar que isto decorreu de uma ‘perseguição’ movida contra os diesel, motivada por razões políticas e não suportada em argumentos técnicos. Como os motores a gasolina queimam mais combustível, logo emitem mais carbono (um dos seus constituintes) para a atmosfera, aí está a explicação para a maior concentração de CO2 no ar que respiramos e o correspondente efeito estufa.

Quanto às vendas de veículos eléctricos estarem aquém das expectativas, haverá diferentes explicações. Mas sem dúvida que, para tal, muito contribuirá a falta de oferta à medida das massas, pois além do Renault Zoe e do Nissan Leaf, todos os outros modelos no mercado são demasiado potentes e caros para poderem ser vendidos em grande quantidade.

Início do pagamento da energia vai ajudar

Mas há muitos outros factores que não contribuem para que os europeus, portugueses incluídos, corram em direcção ao concessionário mais próximo para materializar a encomenda do seu automóvel eléctrico. Um dos principais prende-se com a ausência de uma rede em condições, não só devidamente mantida para todos os postos estarem a funcionar, em vez de avariados como é normal em Portugal, depois com cobertura nacional, pois a menos que se pretenda que os veículos eléctricos estejam limitados aos grandes centros urbanos, é forçoso que se montem postos de carga nas auto-estradas (o que já está), mas também ao longo das principais estradas nacionais, o que está longe de ser uma realidade, sobretudo mais para o interior.

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Contudo, ao que o Observador apurou, é bem possível que este problema venha a ser resolvido em breve com a cobrança da energia fornecida. Há muito que se fala nisso, até como condição para garantir a manutenção e o crescimento da rede, com uma fonte próxima do processo a confidenciar-nos que o pagamento das recargas de bateria nos postos públicos vai arrancar no final deste mês ou, o mais tardar, nas primeiras semanas de Outubro.

A EDP e os outros distribuidores não ajudam

Por muitos postos de carga públicos que existam, é forçoso que sempre que possível os veículos eléctricos sejam recarregados em casa, até para evitar picos de consumo que desestabilizem a rede. É certo que nem todos os condutores têm forma de realizar esta operação, mas há alguns milhões que podem, pelo que esses devem ser incentivados a recarregar a bateria enquanto dormem. Mas é exactamente aqui que se podem deparar com um “imprevisto” chamado EDP, empresa que controla quase 90% do mercado doméstico.

Partindo do princípio que todos os lares tentam pagar o mínimo possível pela energia que consomem, temos de aceitar que os portugueses optem pela menor potência instalada, capaz ainda assim de fazer o seu lar funcionar. Isto significa que após comprar um carro eléctrico, o condutor nacional tem de enfrentar a dura realidade: se o Estado e os construtores se desdobram a fornecer incentivos para que sejam adquiridos veículos accionados a electricidade, a EDP lucra com isso – bem como os restantes operadores, de menor dimensão, como a Galp, Endesa, Prius, Coopérnico e outras. E lucra duplamente.

Na maioria dos casos, a necessidade de passar a abastecer o veículo eléctrico obriga a contratar uma maior potência, o que significa que a taxa diária cobrada pela distribuidora aumenta. Depois, o facto de o carro eléctrico consumir energia faz com que o consumo global do lar aumente e, com ele, vem uma quase inevitável subida de escalão. E isso repercute-se no preço do kWh extraído da rede. Uma coisa e outra dão uma machadada considerável – quanto, depende do tarifário de cada um e da capacidade da bateria – na tão apregoada redução dos custos de utilização pelos veículos eléctricos.

Agora que o Governo tem cima da mesa a discussão sobre a redução do IVA sobre a electricidade, dos actuais 23% para os 6% que eram praticados antes da Troika nos obrigar a apertar o cinto, era da maior justiça convencer a EDP – e se quiserem também a Galp, Endesa, Prius e outras – a tornarem-se parte da solução e não do problema. Caso contrário, resta esperar que os operadores mais pequenos vejam na mobilidade eléctrica uma oportunidade de “comer” uma fatia importante à EDP, oferecendo a quem tem um veículo a bateria condições mais vantajosas para o recarregar na rede doméstica, caso os escolham como fornecedores para a energia lá de casa. É só uma ideia.