Apesar de algumas ameaças, parece que o tempo invernoso ainda não veio para ficar. As mais recentes previsões meteorológicas confirmam que o sol e o calor mantêm-se e isso faz com que seja indesculpável ficar fechado em casa. Se mais argumentos fossem precisos para justificar um programa diferente, estas duas novidades gastronómicas (e não só, logo verá), podem ser mais um motivo a favor do “sair à rua”.

O Erva e o Ōkah (que tem o Zazah Good View atrelado) são dois recentes espaços em Lisboa que já pode descobrir. Dentro de registos diferentes, ambos os projetos podem ser uma boa solução para juntar a família e/ou os amigos num programa diferente. Conheça melhor ambas as casas e tome a sua decisão.

Erva

Hotel Corinthia, Av. Columbano Bordalo Pinheiro, 105, Lisboa. 217 236 313. Das 12h30 às 15h30 e das 19h à 1h. 25€ (preço médio).

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Da próxima vez que alguém lhe disser para ir pastar, pense duas vezes: podem estar a desejar-lhe algo bom, caso pretendam encaminhá-lo para o mais recente restaurante na zona de Sete Rios, em Lisboa: o Erva.

O nome pode remeter-nos a um imaginário vegetariano, mas desengane-se, aqui come-se de tudo. “Erva porque é suposto ser uma coisa simples e orgânica”, explicou ao Observador o chef Carlos Gonçalves, responsável pelos espaços de restauração do Hotel Corinthia, em Lisboa. É precisamente nesta unidade hoteleira que mora o Erva, casa que pretende também dissipar o preconceito que ainda afasta muita gente de espaços deste género. “Não é por acaso que temos porta direta para a rua, por exemplo”, completa o cozinheiro que ainda este ano ficou em segundo lugar no Concurso de Chefe Cozinheiro do Ano.

Ao entrar neste Erva, uma das primeiras coisas que chama logo à atenção é o próprio espaço em si e a forma como é decorado. Enorme, luminoso e pautado por materiais mais rústicos como madeiras escuras, ferro e verde, vai ser difícil não querer puxar logo uma cadeira e ficar por lá. Quando isso acontecer, comece pela zona do bar, por exemplo, onde poderá provar alguns dos cocktails (ainda está para nascer um novo restaurante que não tenha este serviço da moda) criados pelo bar manager Nelson Antunes, que também é responsável pelo já célebre Tempus Bar, também ele residente do Corinthia. Na carta vai encontrar criações como o Chá das Cinco — custa 13€ e leva rum, bourbon infusionado com nozes e avelãs, mezcal, marmelada e bitter de chocolate negro com eucalipto — ou até mesmo o Expresso da Meia-Noite, uma mistura com aguardente da Lourinhã, Averna (licor italiano típico da Sicília), creme de cacau escuro, xarope de casca de laranja, café Arabica e bola de gelado de nata (13€).

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Quando já estiver à mesa, pronto a comer, prepare-se para conhecer o mundo gastronómico deste jovem cozinheiro que já tem provas dadas na Seleção Olímpica de Cozinha, por exemplo, e que pretende pôr o melhor de Portugal à mesa do seu novo “rebento”.

“Aqui damos 100% de prioridade ao produto português, sempre o mais local possível”, explica o chef. Minutos antes tinha chegado à mesa uma das entradas, as batatas bravas com tártaro de lulas e créme fraiche de lima (5,50€), que se fez seguir do refrescante carapau com salada algarvia de tomate e beterraba (14€). Ao longe vê-se a cozinha aberta, onde a maioria dos pratos são terminados e muitas crianças, principalmente, tentam meter conversa com os cozinheiros de serviço — “Os miúdos adoram a cozinha, de vez em quando vão lá espreitar”, afirmou o chef Carlos. Ao lado, a câmara de maturação de carnes.

Uma onda cosmopolita sente-se por todo o restaurante, muito por causa da decoração, claro, mas tanto o serviço como a banda sonora providenciada pelo DJ residente ajudam a relaxar. A diretora do restaurante, Marta Pereira (ex braço direito do chef Henrique Sá Pessoa), contou ainda ao Observador que há a ideia de, no futuro, criar uma espécie de exposições de arte rotativas. Pormenores à parte, voltemos à comida. No capítulo dos pratos principais vai encontrar uma saborosa posta de corvina com arroz de lingueirão e salicórnia (16€) e aquele que será, seguramente, o prato que pode vir a tornar-se imagem de marca deste Erva, a pá de cordeiro de leite assada com batata aligot (24€). Trata-se de uma perna deste bicho que chega à mesa inteira (dá para duas pessoas ou mais), até sai de fora do prato, e que cada um desmancha como bem entender.

Terraço do Lisbon Art Center & Studios (Zazah Good View e Ōkah)

Cais Rocha Conde de Óbidos, Lisboa. Das 19h às 2h (Zazah Good View); das 12h às 15h e das 19h às 24h; não fecha. 914 110 791. 15 e 30€ preço médio, respetivamente

Nunca a expressão “ficar a ver navios” teve significado mais agradável. Na zona de Alcântara, em Lisboa, mora um projeto criativo chamado Lisbon Art Center & Studios (o LACS), uma espécie de polo criativo com áreas dedicadas a exposições e cowork. No topo deste prédio à beira-mar plantado mora também um dos espaços mais cool e recentes da cidade, o Zazah Good View e o Ōkah.

De aspeto descontraído e sofisticado, estes dois projetos — o primeiro é um bar e o segundo um restaurante — têm e não têm, ao mesmo tempo, coisas em comum. Começando pelo Zazah: os mais atentos podem reconhecer este nome, já que remete a um restaurante inaugurado há pouco menos de um ano na zona do Príncipe Real. Liderado pelo chef Moisés Franco, esta “casa mãe” é um espaço de comida honesta com um twist contemporâneo onde as obras de arte não surgem só nos pratos — funcionando como espécie de showroom, as paredes desta casa são decoradas com várias peças de arte moderna que fazem parte da coleção privada de um dos proprietários do projeto, o brasileiro Sidnei Gonzalez. Nesta nova reencarnação, a vertente tradicional de restaurante é trocada por um conceito de bar onde pode provar cocktails (a carta e feita pela Liquid Consulting) como o Smash the Pumpkin, com gin, puré de abóbora caseiro e xarope de canela (9,50€) ou o Summer Berry, com rum, morango e baunilha (9€).

Nos contentores de carga convertidos em zona de sofás ou nas pequenas mesas altas que polvilham uma pequena pista de dança vai poder provar alguns pequenos petiscos. Para que não tenha de beber em seco, opte por forrar o estômago com as bolinhas de alheira (6€) ou o já famosos cones de sapateira (8,50€). Aproveite estes exemplos de finger food mas não se entusiasme demasiado — ali ao lado (literalmente) tem o Ōkah, o restaurante “a sério” onde vai poder comer de forma mais substancial.

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“Ōkah é o nome de umas casas típicas, suspensas, dos índios da Amazónia”, explica o chef Bruno Rodrigues, responsável pela comida desta novidade (que agora passa a estar aberta ao almoço) que trabalha em estreita comunicação com o mesmo Moisés Franco, o grande mentor gastronómico de todos estes conceitos.

No lado direito deste glorioso terraço — tem uma vista única do Tejo — surgem os contentores semelhantes ao do Zazah Good View, pintados de laranja forte, que têm como diferença o facto de serem “recheados” com o mobiliário típico de qualquer restaurante. Entre mesas, cadeiras e talheres circulam pratos simples com uma forte inspiração asiática — “queremos só aproveitar alguns pormenores dessas gastronomias, não fazer cópias exatas de receitas completas”, explica o chef — como o kinilaw, uma especialidade filipina em tudo semelhante a um ceviche de peixe branco (13,5€), ou o camarão com sriracha (10,50€).

No capítulo dos pratos principais pode encontrar o borrego neozelandês com hortelã (18,50€), que é servido com um suave puré de batata com queijo ou a dourada grelhada com molho de tamarindo (16,50€) e salada asiática, que vem regada com um aromatico caldo dashi. Finalmente, para terminar a refeição numa nota doce, experimente o o ananás grelhado com canela e gelado de yuzu (citrino japonês semelhante ao limão mas mais intenso), que custa 7,50€, ou o subtil pudim de leite cambojano  (6,50€), que é aromatizado com erva príncipe.