“Um tiro no pé.” Foi assim que Luís Marques Mendes classificou a intenção do PSD de apresentar uma proposta para travar a especulação imobiliária, semelhante à do Bloco de Esquerda (BE), que Rui Rio não considerou ser assim tão disparatada. No seu espaço semanal de comentário na SIC, Marques Mendes considerou que o CDS saiu favorecido da questão porque, “se o PSD dá tiros no pé, há muita gente que, não gostando de António Costa, passa” para o partido de Assunção Cristas. “O CDS nunca escondeu que gosta de crescer à custa do PSD”, afirmou o comentador.

Para o comentador, houve “muita precipitação” da parte de Rio, que decidiu “dar um pontapé na coerência” ao defender uma mudança do regime fiscal quando tem vindo a advogar, “e bem, a estabilidade fiscal”. Além disso, o líder dos sociais-democratas pronunciou-se sobre uma proposta — a do BE — que “ainda ninguém conhece”, não compreendendo que o que os bloquistas estavam a tentar fazer era “branquear os seus disparates durante o mês de agosto” relativamente ao caso Robles. “Deve ter posto em pé os cabelos dos eleitores do PSD.”

“Acho que um candidato a primeiro-ministro não se deve precipitar. Acho que deve primeiro estudar os assuntos, ouvir os especialistas porque esta matéria tem uma dimensão muito técnica, falar no tempo próprio, não no tempo do Bloco de Esquerda ou de qualquer outro partido, em vez de entrar nesta onda que é um bocadinho de demagogia, de populismo, e que depois acaba por ser por ser mau”, disse ainda o comentador da SIC, defendendo que Rio se precipitou sobretudo “no conteúdo”, recebendo críticas daqueles que lhe são próximos. “É muito difícil justificar uma precipitação tão grande como esta.”

Marques Mendes considera que o BE está a tentar “desviar as atenções do grande problema que teve em agosto, o caso Robles, e sobretudo da reação desastrosa que teve na altura” ao avançar com outra proposta contra a especulação. O BE “está aqui a ensaiar uma manobra para desviar as atenções”, só que “foi pior a emenda do que o soneto”. “O Bloco de Esquerda, de disparate em disparate, cada vez se enterra mais”, afirmou o comentador, frisando que o partido ficou “muito mal nesta fotografia” depois de o Governo, “seu aliado”, lhe ter tirado “o tapete”.

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Quem saiu a ganhar foi o PS, que, graças ao “tiro no pé” do BE, deu “mais um passo em direção ao seu grande objetivo”, à maioria absoluta. “A classe média assusta-se com estas ideias do Bloco de Esquerda e só de pensar que daqui a um ano o Bloco pode ir para o Governo, que é um susto ainda maior, [faz com que] muita gente moderada, da área do centro, vai fazer? Vai votar em António Costa para que ele possa ter uma maioria absoluta e evitar o Bloco”, explicou o comentador. “É um mal menor.”

Convocar congresso antecipado no PSD é “monumental disparate”

Para Marques Mendes, a ideia de convocar um congresso antecipado no PSD para derrubar Rui Rio é “um monumental disparate, do tamanho da Torre dos Clérigos”. O comentador defende que os mandatos são para ser cumpridos e que as avaliações devem ser feitas no fim, e não a meio. Além disso, Marques Mendes acredita que afastar Rio da liderança só iria provocar “mais divisão, mais ruído e mais instabilidade” dentro do partido, sobretudo com as eleições cada vez mais perto. “Seria uma verdadeira tontaria. O PSD precisa de tréguas”, afirmou, defendendo que as críticas, a existirem, devem ser feitas construtivamente e que a atitude de Rio tem de mudar. Tem de “ser mais humilde, menos convencido” e “menos arrogante”.

No que diz respeito à recondução ou não recondução da atual procuradora-geral da Justiça, Marques Mendes, admitindo que não tem qualquer conhecimento interno sobe o caso, afirmou que, na sua opinião, nomear novamente Joana Marques Vidal para o cargo que ocupa há seis anos é a melhor solução para o país. “Joana Marques Vidal tem feito um mandato considerado muito positivo mesmo por aqueles que, por outras razões, não querem que haja recondução. Se é positivo, é normal que se reconduzia e não que se substitua”, disse, admitindo que não o surpreende que, por isso, “a decisão seja a recondução”.

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Visita de Costa a Angola é “de carácter eminentemente político”

Outro tema abordado durante o comentário deste domingo foi a visita de António Costa a Angola, a primeira de um primeiro-ministro português desde que Pedro Passos Coelho esteve no país em 2011. Para o comentador, esta é “sobretudo de carácter eminentemente político”, independentemente dos acordos que possam eventualmente ser firmados entre as duas nações. “Esta visita é sobretudo de carácter eminentemente político porque vai ser o reatar das relações, digamos assim, mais firmes, mais intensas, entre Angola e Portugal depois de um período de degelo durante vários anos por causa daquelas querelas judiciais”, afirmou.

Marques Mendes acredita que Angola tem, neste momento, “uma vontade muito forte de estreitar relações com Portugal”. Sinal disso é o anúncio de que o presidente angolano irá visitar Portugal em novembro a convite de Marcelo Rebelo de Sousa, feito quando António Costa estava a chegar ao país. “Significa que há uma forte vontade de Angola de intensificar estas relações”, frisou, acrescentando “que Portugal tem boas condições para aproveitar este período muito importante que se esta a viver em Angola”. Os dois países “têm a perder quando estão de costas voltadas e ambos têm a ganhar quando estreitam relações”, disse ainda.