“A Balada de Adam Henry”

Feliz a nação que tem actores principais como Emma Thompson e secundários como Jason Watkins. Ela, no papel de uma juíza inglesa especializada em casos de família, e ele no seu competentíssimo assessor, e a imediata e longa cumplicidade que as suas personagens têm, são motivos mais do que suficientes para irmos ver “A Balada de Adam Henry”, assinado por Richard Eyre, que aos 75 anos continua a fazer cinema e televisão e a encenar no teatro, e com argumento de Ian McEwan baseado no seu livro, “The Children Act”. Thompson é Fiona Maye, a juíza que tem que decidir se um adolescente com leucemia, Testemunha de Jeová, deve ou não ser obrigado a receber, no hospital onde está internado, uma transfusão de sangue que lhe poderá salvar a vida. Mas esta situação é só o pretexto para o verdadeiro tema da fita, o retrato de uma mulher que se deixou engolir pelo trabalho e pelas obrigações, que lhe recalcaram e secaram a vida matrimonial, sentimental e íntima. Stanley Tucci faz o marido e Fionn Whitehead o jovem paciente, nesta fita onde se impõe o verismo inatacável que caracteriza o cinema e a televisão ingleses.

“A Casa Junto ao Mar”

A nostalgia de um passado que não se pode recuperar – familiar, dos sentimentos, de amizades e de empenhamento político – e os temores de um presente dominado por valores desagradáveis e cada vez mais imprevisível, são os temas do novo filme de Robert Guédiguian, ambientado, como quase sempre, em Marselha e seus arredores, de onde o realizador é natural e a que se tem mantido sempre fiel, na vida  como na sua arte. Interpretado por muitas caras habituais da obra de Guédiguian, a começar por Ariane Ascaride, a sua mulher, e ainda Jean-Pierre Darroussin ou Robinson Stévenin, “A Casa Junto ao Mar” circula entre a tristeza, a melancolia e o bom humor, continuando a desfraldar a bandeira do realismo romanesco de tintas socio-políticas que outrora teve bastante peso no cinema francês. A única fífia do filme é, no final, a adesão à demagogia tão sentimental como perigosa da causa dos “refugiados”, como substituição das causas das ideologias derrotadas pela História (Robert Guédiguian é ex-militante comunista).

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“Operação Shock and Awe”

A execução deste filme de Rob Reiner está longe de corresponder às nobres e meritórias intenções que lhe presidem. Em “Operação Shock and Awe”, Reiner recria as investigações de dois jornalistas da cadeia de jornais Knight-Ridder, que na sequência dos atentados de 11 de Setembro e até ao caso das “armas de destruição maciça” e à invasão do Iraque, não se deixaram ir nas mistificações da Casa Branca e perceberam tudo o que estava a realmente a acontecer. Ao contrário da esmagadora maioria dos grandes órgãos de comunicação americanos, entre jornais de referência e grandes estações de televisão, que papaguearam acriticamente a “informação” fornecida por Washington. A intenção de Reiner é das melhores, mas a realização é prosaica, somnífera e demonstrativa até á exasperação. Woody Harrelson e James Marsden personificam os dois jornalistas que fazem o que lhes manda a profissão – investigar, questionar, analisar, duvidar – em vez de engolir a papinha fornecida pelos centros do poder, e o próprio Rob Reiner interpreta o seu editor.

https://youtu.be/QiQ1OaQwbSM

“Guerra Fria”

O polaco Pawel Pawlikowski, realizador de “Ida”, Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, realiza esta história de um amor complicado, dilacerante e ardente, que une as duas personagens do filme, Zula e Wiktor, desde o pós-II Guerra Mundial na Polónia até aos anos 60, e que passa por uma Berlim ainda sem muro, pela Jugoslávia titista e por Paris, para regressar de novo ao ponto de partida. Zula (Joanna Kulig) é mais jovem que Wiktor (Tomasz Kot) quando se conhecem, na Polónia comunista, em 1949. Ele faz parte de uma equipa com a função de recrutar e formar os melhores jovens cantores e bailarinos do país, para fazerem parte de um grupo folclórico que representará o país, e a cultura popular socialista, nos países-irmãos de Leste e mesmo no Ocidente; ela é bonita e despachada, e canta e dança bem. Apaixonam-se e percebem de imediato que são feitos um para outro. “Guerra Fria” ganhou o Prémio de Realização no Festival de Cannes e foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.