O Papa Francisco tornou público esta sexta-feira que aceitou a resignação de dois bispos chilenos na sequência dos escândalos de abusos sexuais que devastaram a Igreja Católica naquele país — uma semana depois de ter expulsado diretamente e ex officio um padre chileno acusado de abusar de menores.

Recorde-se que, em maio deste ano, todos os bispos chilenos apresentaram a renúncia ao Papa na sequência dos escândalos de abusos. Colocaram o seu lugar à disposição do Papa depois de uma reunião com Bergoglio em Roma em que o assunto foi discutido e a atuação dos bispos foi colocada em causa.

Segundo um comunicado da Santa Sé, os bispos Carlos Eduardo Pellegrín Barrera (da diocese de San Bartolomé de Chillán) e Cristián Enrique Contreras Molina (da diocese de San Felipe) foram substituídos temporariamente por sacerdotes que vão assumir a administração apostólica das dioceses enquanto um novo bispo não é escolhido por Francisco.

Papa Francisco expulsa padre chileno acusado de abusos sexuais que já foi herói nacional

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A lei da Igreja Católica obriga os bispos a apresentar a renúncia ao Papa assim que completam 75 anos de idade. Porém, nem sempre o Papa aceita a renúncia de imediato, sendo comum pedir aos bispos que sirvam durante mais alguns anos, se a saúde lhes permitir. Neste caso, porém, não se coloca sequer a questão da idade: Carlos Eduardo Pellegrín Barrera tem 60 anos e Cristián Enrique Contreras Molina tem 72.

O escândalo dos abusos sexuais cometidos por membros do clero no Chile reacendeu-se no início deste ano com a visita do Papa Francisco àquele país. A viagem motivou novamente fortes críticas contra o bispo Juan Barros, acusado de encobrir durante décadas abusos sexuais praticados pelo padre Fernando Karadima — que, aliás, foi condenado em 2011 pelo Vaticano e suspenso das funções de sacerdote.

Karadima era considerado um protegido do bispo Juan Barros, que, em 2015, foi nomeado pelo Papa Francisco como bispo da cidade de Osorno. A nomeação não agradou à comunidade católica chilena.

Bispos chilenos apresentaram renúncia ao Papa

Na viagem ao Chile, entre 15 e 18 de janeiro, foram várias as vítimas do padre Karadima que vieram a público exigir um pedido de desculpas do Papa. Mas o Papa respondeu que tudo eram “calúnias”. “No dia em que vir uma prova contra o bispo Barros, então falarei. Não há uma única prova contra ele. É tudo calúnia. Está claro?”, disse Francisco.

As palavras do Papa Francisco causaram um choque de grandes dimensões no país e por todo o mundo, com cardeais de topo — incluindo o cardeal Seán O’Malley, o homem forte do Papa na luta contra os abusos sexuais — a vir criticar publicamente o líder da Igreja Católica por ter causado “grande dor” às vítimas.

O que é que a Igreja está (mesmo) a fazer para acabar com os abusos sexuais?

O Papa veio depois pedir desculpa pelo que disse. “O drama dos abusados é tremendo. O que é que sentem as vítimas? Tenho de pedir-lhes desculpa, porque a palavra ‘prova’ feriu. A minha expressão não foi feliz. Peço desculpa se as feri, sem me aperceber, sem o querer. Dói-me muito”, disse Francisco no voo de regresso do Chile a Roma.

Na sequência da polémica, o Papa Francisco decidiu ordenar uma investigação de grandes dimensões ao escândalo no Chile. Em maio, os bispos chilenos foram convocados pelo Papa para uma reunião no Vaticano para discutir o assunto — e foi na sequência dessa reunião que decidiram, coletivamente, colocar os seus lugares à disposição de Francisco.

No início da semana, o Papa Francisco decidiu decretar a redução ao estado laical do padre chileno Cristián Precht Bañados, que em tempos foi considerado um herói nacional no Chile por defender os direitos humanos durante a ditadura de Augusto Pinochet.