Cabo Verde enfrenta o “duplo desafio” de manter controladas as doenças transmissíveis e responder ao “aumento acentuado” de doenças não transmissíveis, como as cardiovasculares e oncológicas, afirmou esta segunda-feira o diretor nacional da Saúde cabo-verdiano.

Em declarações à agência Lusa, à margem do Atelier de Validação do Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário 2017/2021, que decorre na cidade da Praia, na ilha de Santiago, Artur Correia referiu que este plano está a ser feito “num contexto da continuidade do processo de transição epidemiológica e demográfica que o país está a enfrentar”.

“Temos de ter em conta a supremacia das doenças cardiovasculares, das doenças oncológicas e das outras doenças do desenvolvimento que estão a ganhar terreno e a ter em conta também a convivência com as doenças transmissíveis e parasitárias, que vão continuar em menor grau, cada vez mais, mas que exigem uma atenção especial, pois o país é vulnerável, e temos de estar atentos e vigilantes a essas doenças”, afirmou.

Também a consultora Paula Rodrigues, que elaborou o documento a pedido da Organização Mundial da Saúde (OMS), responsável pelo seu financiamento, referiu na sua intervenção que Cabo Verde “não pode baixar a guarda” e tem de continuar a manter o nível baixo de doenças transmissíveis. Ao mesmo tempo, afirmou, tem de “responder ao aumento das doenças não transmissíveis”.

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A consultora recordou que, em Cabo Verde, as principais causas de mortalidade e morbilidade são as doenças cardíacas e oncológicas e que estas estão a aumentar, tendo em conta a população cada vez mais envelhecida do país e os tratamentos necessários para doenças que surgem quando a vida é mais longa.

A este propósito, recordou que entre 2012 e 2016 o número de evacuações exteriores, nomeadamente para Portugal, aumentou de 409 para 608 e que a cirurgia cardíaca, a oncologia e a oftalmologia foram as principais patologias que mais motivaram este crescimento.

No âmbito do perfil sanitário de Cabo Verde, que a consultora esta segunda-feira apresentou a especialistas do setor da saúde, salientou-se o elevado número de utentes que recorrem às urgências hospitalares (75,9%). Por seu lado, apesar da sua importância, o recurso à telemedicina é ainda reduzido, verificando-se uma maior utilização nas ilhas da Brava, Boavista e Fogo. A especialidade médica que mais recurso à telemedicina motivou foi a neurologia, adiantou.

Sobre a sustentabilidade de um setor cada vez mais solicitado a responder a uma maior procura, o diretor nacional da Saúde foi perentório: “O país já abraçou a estratégia do acesso e da cobertura universal”.

Contudo, referiu que existe “uma necessidade de maior equilíbrio entre a promoção e a proteção da saúde e a prevenção da doença com o diagnóstico, o tratamento e a reabilitação, em termos de recursos humanos e financeiros, para haver um maior equilíbrio nesta mudança de paradigma numa política centrada na saúde e não na doença”. Além disso, recordou que “23% dos custos com a saúde são suportados diretamente pela população”, sustentando que terão de evitar despesas catastróficas por parte das populações, despesas que empobrecem as populações.

Por outro lado, acrescentou que “há uma necessidade premente de desenvolver o sistema de previdência social, para evitar pagamentos diretos, aumentar a cobertura das pessoas e diminuir cada vez mais os pagamentos diretos”. “Isto não pode levar a que as pessoas deixem de frequentar os serviços. Em caso de necessidade, o sistema tem de ser capaz de responder às necessidades sanitárias e de saúde das populações. Os pagamentos não podem ser um impedimento do acesso das pessoas à saúde”, frisou.

Artur Correia defende um sistema de saúde “baseado na solidariedade, em que as pessoas que trabalham e descontam contribuem para o acesso deles próprios, mas também das pessoas desfavorecidas da sociedade, numa base de solidariedade social”.