O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Yves Le Drian, afirmou esta segunda-feira que “não há alternativa” à iniciativa de paz conduzida pela União Africana na República Centro-Africana, onde Moscovo procura iniciar um processo concorrente.

“Não há alternativa, nem desejável, nem suscetível de ter sucesso”, afirmou durante uma conferência à margem da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), ao comentar o facto de a Federação Russa estar cada vez mais presente, diplomática e militarmente, bem como através de mercenários, neste país.

Além do apoio às Forças Armadas, os russos estão a intrometer-se na mediação complexa com os grupos armados que controlam a maior parte do território, tendo organizado no final de agosto em Cartum uma reunião entre vários grupos, em paralelo com a mediação oficial feita pela União Africana (UA).

As autoridades da República Centro-Africana declararam o seu apoio à mediação da UA, que procura desde julho de 2017 fazer sentar à mesa das negociações os grupos armados e o governo.

“A iniciativa de paz promovida pela UA apresenta o único quadro credível e aprovado pelo conjunto da comunidade internacional para uma saída da crise durável”, afirmou Le Drian. “Esta passa pelo desarmamento dos grupos armados e a restauração da autoridade do Estado no conjunto do território”, acrescentou, lembrando que a situação de segurança “continua preocupante”.

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No início de 2018, cinco oficiais militares e 170 instrutores civis da Federação Russa chegaram a Bangui, onde ajudaram à deslocação de soldados centro-africanos para fora da capital. Moscovo também já vendeu armas a Bangui, depois de ter obtido uma dispensa do embargo decretado pelas Nações Unidas.

Para quinta-feira está prevista uma reunião sobre a República Centro-Africana, à margem da Assembleia Geral da ONU. A República Centro-Africana caiu no caos e na violência em 2013, depois do derrube do ex-Presidente François Bozizé por vários grupos juntos na designada Séléka (que significa coligação na língua franca local), que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas sob a designação anti-balaka.

O conflito neste país, que tem o tamanho da França e uma população que é menos de metade da portuguesa (4,6 milhões), já provocou 700 mil deslocados e 570 mil refugiados e colocou 2,5 milhões de pessoas a necessitarem de ajuda humanitária.

O governo do Presidente Faustin Touadera, um antigo primeiro-ministro que venceu as presidenciais de 2016, controla cerca de um quinto do território. O resto é dividido por mais de 15 milícias, que, na sua maioria, procuram obter dinheiro através de raptos, extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.

Portugal está presente no país desde o início de 2017, no quadro da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana (MINUSCA). No início de setembro, o major-general do Exército Marco Serronha assumiu o cargo de 2.º comandante da MINUSCA.

A que já é a 4.ª Força Nacional Destacada Conjunta, composta por 159 militares, dos quais 156 do Exército, sendo 126 paraquedistas, e três da Força Aérea, iniciou a missão em 05 de setembro último.

Portugal também integra a Missão Europeia de Treino Militar-República Centro-Africana (EUMT-RCA), que é comandada pelo brigadeiro-general Hermínio Teodoro Maio.

A EUTM-RCA, que está empenhada na reconstrução das forças armadas do país, tem 45 militares portugueses, entre os 170 de 11 nacionalidades que a compõem.