A revista The New Yorker noticiou no domingo que os democratas que integram o comité do Senado norte-americano estão a investigar a acusação de assédio sexual de uma segunda mulher pelo juiz nomeado pelo Presidente dos EUA para o Supremo Tribunal.

O incidente reporta ao ano letivo de 1983-84, o primeiro de Brett Kavanaugh na Universidade de Yale. Deborah Ramirez, de 53 anos, contou à revista nova-iorquina que Kavanaugh, embriagado, pressionou o pénis no seu rosto, tendo Ramirez tocado nele sem querer quando tentava afastá-lo. Tudo terá ocorrido durante uma pequena festa num dormitório, onde ambos participavam.

Numa declaração divulgada pela Casa Branca, Kavanaugh garantiu que o incidente “não aconteceu” e que a alegação era “uma difamação, pura e simples”. Um porta-voz da Casa Branca acrescentou, numa segunda declaração, que a alegação foi “planeada para derrubar um bom homem”. A New Yorker explicita que foi a revista a contactar Ramirez e não o contrário, e que a antiga aluna de Yale estava inicialmente reticente em falar abertamente sobre o caso, devido ao facto de ter bebido em excesso nessa festa. Contudo, ao fim de alguns dias, reforçou que está convicta das suas memórias e decidiu falar.

A revista não conseguiu confirmar o alegado abuso com testemunhas que estariam na festa em causa, mas abordou vários ex-colegas de Kavanaugh e de Ramirez que falaram sobre a personalidade de cada um. Um colega de turma de Ramirez que preferiu não ser identificado recorda Kavanaugh como um estudante “relativamente tímido”, que por vezes se tornava “agressivo e até beligerante” quando bebia. Outro ex-colega, James Roche — que foi colega de quarto de Kavanaugh e que se tornou amigo de Ramirez — não estava presente na festa, mas descreveu assim a situação:

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“É credível ela ter estado sozinha com um grupo de rapazes tipo alcateia que acharam giro atormentaram sexualmente uma rapariga como Debbie? Sim, sem dúvida. É credível que Kavanaugh fosse um deles? Sim.”

Outros amigos de Kavanaugh dos tempos da universidade, contudo, tomaram posições diferentes. Algumas das pessoas que estariam presentes nessa festa são ainda hoje amigos de Kavanaugh e fazem parte de um círculo social ao qual a própria Ramirez pertenceu — tendo inclusivamente tirado fotografias com o juiz no casamento de um desses ex-colegas do qual ficou amiga. Contactados pela New Yorker, alguns decidiram comentar as alegações, desmentindo-as. “Podemos dizer convictamente que, se o incidente que a Debbie alega ter ocorrido tivesse acontecido, nós teríamos assistido ou ouvido falar dele — e isso não aconteceu”, declarou num comunicado a mulher de um dos jovens que Ramirez afirma ter sido testemunha do caso. A mulher em causa afirma que era amiga próxima de Ramirez durante os tempos da faculdade e que ela nunca comentou consigo o caso.

A New Yorker avança ainda que pelo menos quatro gabinetes de senadores democratas receberam informações sobre este caso e que dois deles estarão a investigá-lo. Segundo a revista, alguns colaboradores de representantes republicanos também souberam das alegações na semana passada e demonstraram preocupação sobre o impacto que estas alegações podem ter no processo de nomeação de Kavanaugh, somadas à acusação de Christine Blasey Ford, que acusou o juiz de ter tentado abusar sexualmente dela numa festa em 1982, quando ambos eram menores de idade.

Audição de Christine Ford confirmada para quinta-feira

Esta nova informação sobre Deborah Ramirez surgiu horas depois do comité do Senado ter acordado uma data e hora para uma audiência para ouvir Ford. “Estamos comprometidos em avançar com uma audiência pública na quinta-feira, 27 de setembro, às 10h00 (15h00 em Lisboa). Apesar das atuais ameaças à sua segurança e à sua vida, a Dr.ª Ford acredita que é importante para os senadores ouvi-la diretamente”, lê-se numa mensagem dos advogados de Christine Blasey Ford, citada pela imprensa norte-americana.

Christine Ford, psicóloga, comprometeu-se com a audiência aberta, confirmaram os advogados em comunicado.

“Fizemos progressos importantes, Ford acredita que é importante para os senadores ouvirem diretamente dela sobre a agressão sexual que sofreu. Ela concordou em ir em frente”, acrescentaram os advogados.

Ford concordou em testemunhar depois de Kavanaugh, disse uma fonte ligada às negociações, mas está disposta a aceder a qualquer ordem de testemunho. De acordo com uma fonte ouvida pelo New York Times, as audições serão abertas ao público, mas Ford terá segurança reforçada, devido às ameaças de morte que tem recebido.

O testemunho da psicóloga é tido como um momento chave no processo de confirmação do juiz para o Supremo Tribunal. A mulher acusou Kavanaugh de a agredir sexualmente numa festa, quando ambos andavam na escola secundária, nos princípios da década de 1980. O juiz negou, mas a questão está a atrasar a sua confirmação para o Supremo.

Uma mulher chamada Leland Keyser, que supostamente foi identificada por Ford como uma das cinco pessoas presentes na festa, disse ao comité de senadores “não conhecer o senhor Kavanaugh” e não se lembrar de “ter estado alguma vez” num encontro com ele, com ou sem a presença da suposta vítima. Keyser, contudo, disse mais tarde em entrevista ao Washington Post que, embora não se recorde dessa festa em particular, acredita no relato de Ford.