Na antevisão do Sp. Braga-Sporting que esta segunda-feira encerrou a 5.ª jornada da Primeira Liga NOS, José Peseiro disse: “No início da época estávamos fora de tudo e agora já nos querem pôr na frente de tudo”. O treinador dos leões desvalorizava assim o ténue favoritismo atribuído ao clube de Alvalade – ainda que, à entrada para este encontro, tivesse os mesmos pontos do Sp. Braga – e tentava restituir alguma humildade a um eterno candidato ao título que em junho parecia arredado de todas as grandes decisões. Mas mais do que humildade, a frase parece agora esconder algum receio.
José Peseiro não tinha nem Bas Dost, nem Mathieu, nem Wendel — todos lesionados — e Abel Ferreira não podia contar com João Palhinha, impedido de jogar por estar emprestado pelo Sporting. O clube de Alvalade entrou em campo com o mesmo onze que na passada quinta-feira recebeu e venceu o Qarabag, salvo a troca de Mathieu por André Pinto, e repetiu em Braga o mesmo arranque morno a que os adeptos que se deslocaram a Alvalade para o encontro da Liga Europa assistiram. O Sp. Braga entrou mais forte, sem medo de lutar pelo resultado e com a atitude já conhecida e reconhecida de quem já não é apenas “o melhor dos outros”. Wilson Eduardo, João Novais e Dyego Sousa são um tridente bem oleado que funciona sem necessidade de grande troca de palavras e Coates e André Pinto, além de Battaglia, demoraram a antecipar as movimentações dos atacantes minhotos.
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Ficha de jogo
Sp. Braga- Sporting CP, 1-0
5.ª jornada da Primeira Liga
Estádio Municipal de Braga
Árbitro: Artur Soares Dias (AF Porto)
Sp. Braga: Tiago Sá; Goiano, Bruno Viana, Pablo, Sequeira; Ricardo Esgaio, João Novais, Claudemir, Ricardo Horta (Fábio Martins, 79’); Wilson Eduardo (Eduardo, 61’), Dyego Sousa (Fransérgio, 84’)
Suplentes não utilizados: Marafona, Lucas, Murilo e Paulinho
Treinador: Abel Ferreira
Sporting CP: Salin; Ristovski, Coates, André Pinto, Acuña; Battaglia, Gudelj (Diaby, 85’); Bruno Fernandes, Raphinha, Nani (Jovane Cabral, 70’); Montero (Castaignos, 70’)
Suplentes não utilizados: Renan, Marcelo, Jefferson e Petrovic
Treinador: José Peseiro
Golos: Dyego Sousa (66’)
Ação disciplinar: Cartão amarelo a Pablo (65’), a Battaglia (73’) e a Gudelj (83’)
O Sporting precisou de tempo – e dos gritos de José Peseiro – para se entrosar no jogo e descobrir linhas até aí bem ocupadas por Sequeira e Marcelo Goiano (que assinou uma ótima exibição). As primeiras tentativas de desbloquear a bem organizada defensiva do Sp. Braga apareceram através de contra-ataques rápidos e com poucos toques, como é o caso do grande remate de Raphinha, ao minuto 15, que passou muito perto da trave da baliza de Tiago Sá. Do outro lado, os minhotos tinham dificuldades em materializar o maior caudal ofensivo em reais oportunidades de golo e só ficaram perto de inaugurar o marcador com um remate forte de fora de área de João Novais.
A grande ocasião da primeira parte acabou por pertencer mesmo ao Sporting, através de um cabeceamento de Nani depois de um livre de Bruno Fernandes que permitiu uma grande defesa de Tiago Sá. Os rapazes de José Peseiro acabaram por ir para o balneário numa altura em que tinham mais bola, mais perigo e mais controlo do jogo e tinham já descoberto a maneira de impedir o Sp. Braga de chegar com espaço ao último terço do relvado.
A segunda parte trouxe o jogo assim como ele foi para o descanso. Mais Sporting, um Sp. Braga mais recatado e a jogar mais em contra-ataque e transições diretas. Essas transições, contudo, revelaram-se uma dor de cabeça para os verde e brancos, já que Gudelj falhou muitas vezes a dobra em terrenos interiores quando Battaglia saía em pressão e criaram-se frequentemente clareiras à entrada da área de Salin. Coates, magistral, soube quase sempre resolver.
⏰ 57’ | Braga 0-0 Sporting
Coates ganhou 9 dos 11 duelos que disputou#LigaNOS #SCBSCP pic.twitter.com/2zRE23W3ZM
— GoalPoint.pt ⚽ (@_Goalpoint) September 24, 2018
Mas estes desequilíbrios, ainda que agudizados pela escassa noção posicional de Gudelj no jogo desta segunda-feira, eram frequentemente provocados por Marcos Acuña. O argentino passou ao lado da partida e esteve mais agressivo do que o normal – chegou a encostar a cabeça a Artur Soares Dias e beneficiou da benevolência do árbitro da partida – e falhou grande parte dos passes que tentou. O Sp. Braga solidificou com o passar dos minutos, assentou o jogo e beneficiou do facto de ter no banco um treinador inteligente e altamente conhecedor da realidade tática da sua equipa. E, tão ou mais importante, da equipa adversária.
Abel Ferreira percebeu que o Sp. Braga precisava de aproveitar os espaços completamente oferecidos pela segunda linha do meio-campo do Sporting e retirou Wilson Eduardo de campo para colocar Eduardo. A subida de qualidade, de definição e de discernimento no ataque dos minhotos foi quase instantânea e tornou-se fulcral para o desbloqueio do resultado. Aos 66 minutos, depois de (mais uma) perda de bola dos centro-campistas do Sporting, o Sp. Braga lançou um contra-ataque rápido e organizado: Eduardo na esquerda a liderar as hostes, Dyego Sousa e Ricardo Esgaio na área prontos a finalizar. Foi o primeiro, a quem bastou desviar, que tirou o nulo do marcador.
A partir daqui, o Sp. Braga esteve muitas vezes mais perto de avolumar a vantagem do que o Sporting esteve de empatar. Bruno Fernandes e Raphinha tentaram, como tentam sempre, remar contra a maré de forma individual mas não tiveram sucesso. Ao contrário de Abel, José Peseiro não soube interpretar a partida e ao invés de trocar estratégias trocou jogadores: saíram Nani e Montero, dois dos elementos que mais velocidade davam ao ataque leonino, e entraram Jovane Cabral e Castaignos. O primeiro esteve perto do golo; o segundo nem sequer foi mencionado pelos comentadores televisivos.
O Sporting sofreu a primeira derrota da temporada e caiu para o quinto lugar do campeonato. Já o Sp. Braga manteve a invencibilidade e juntou-se ao Benfica na liderança da tabela. Os leões perderam com os minhotos. Mas, mais do que isso, José Peseiro perdeu com Abel Ferreira. E é útil recordar que o Sporting tem o hábito de olhar para o banco técnico do Sp. Braga e sentir-se tentado.