Uma prova de fogo para Theresa May. É assim que pode ser classificada a reunião de Conselho de Ministros que decorre esta segunda-feira, para a primeira-ministra britânica. May terá de enfrentar não apenas um Governo dividido na matéria do Brexit, como um conjunto de ministros descontentes com o facto de o plano Chequers — proposta para o Brexit apresentada por May aos restantes líderes europeus, em Salzburgo — ter sido rejeitada.

De acordo com o jornal Telegraph, a maioria dos ministros defende agora um modelo que se inclina ainda mais para um hard Brexit, recorrendo a um acordo comercial semelhante ao do Canadá. Ainda no domingo, o The Guardian avançava que pelo menos dois ministros estavam prontos para abordar a proposta na reunião. “Chequers da forma que está não é aceite pela União Europeia (UE), portanto é tempo de olharmos para as alternativas. Devíamos pelo menos voltar a olhar para a possibilidade de um acordo comercial”, declarou ao jornal uma fonte do Governo.

A proposta de um modelo “canadiano” foi apresentada pelo think tank Instituto para os Assuntos Económicos e conta com o apoio público de alguns conservadores de relevo como o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros Boris Johnson e o antigo ministro para o Brexit David Davis — ambos demitiram-se do Executivo em julho, por considerarem que o rumo para o Brexit proposto por May era demasiado moderado.

O modelo semelhante ao do Canadá eliminaria quaisquer tarifas sobre determinados bens e daria às empresas britânicas acesso preferencial ao mercado europeu. Resolveria os problemas relativos ao comércio, mas continuaria a ser necessário negociar acordos noutros temas como a segurança, explica a BBC.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Boris Johnson pronunciou-se sobre o assunto na sua coluna de opinião, defendendo que um modelo deste tipo seria o único que evitaria a criação de uma fronteira rígida entre o Reino Unido e a Irlanda do Norte.

“Se seguirmos a abordagem de Chequers, a opinião pública vai perceber. Vão perceber que o Reino Unido se tornou num Estado vassalo, que não recuperámos o controlo e que o perdemos”, escreveu, acrescentando que isso pode levar a um regresso do partido nacionalista UKIP e a uma subida do poder do líder trabalhista Jeremy Corbyn.

Contudo, outros Tories defendem um modelo radicalmente diferente. A ex-ministra da Educação Nicky Morgan, por exemplo, critica o modelo canadiano, que diz que demoraria anos a ser negociado. Morgan prefere um modelo semelhante ao norueguês: acesso preferencial ao mercado europeu, sim, mas aceitando regras europeias como a livre circulação de pessoas e bens. “Se tomássemos uma decisão consciente de optar pelo modelo da Noruega, poderíamos sair da UE agora — honrando o resultado do referendo de 2016”, afirmou.

O Guardian explica que alguns Tories mais moderados face ao Brexit veem esta opção com bons olhos: “Como Brexiter, pode-se pensar ‘Vamos fazer um acordo comercial a longo-prazo’. Ou então podemos olhar para o modelo da Noruega e pensar ‘Isto é o melhor que se consegue'”, disse um dos aliados de May dentro do Conselho de Ministros ao jornal.

As divisões internas do Governo britânico relativamente ao Brexit podem revelar-se de tal monta que já há conservadores a discutirem a possibilidade de uma eleição antecipada em novembro.

Theresa May pondera antecipar eleições para novembro

Oficialmente, contudo, o Executivo nega que tal esteja a ser planeado — da mesma forma que, publicamente, a mensagem é de que Londres continuará a negociar com base no plano Chequers. “Vamos manter a calma e vamos continuar a negociar de boa fé. O que não vamos fazer é ser mandados”, declarou no domingo o ministro para o Brexit, Dominic Raab. “Não vamos saltar de plano em plano como se fôssemos uma borboleta diplomática.”