O surto de cólera no Zimbabué já provocou pelo menos 45 mortos nas últimas três semanas, segundo um relatório das autoridades e da Organização Mundial da Saúde (OMS), que anunciou o lançamento de uma campanha de vacinação oral.

“De um total de 6.428 casos suspeitos, foram registados 45 mortes e 96 casos confirmados”, refere o relatório, divulgado esta terça-feira. A maioria das mortes – 43 – ocorreram na capital do país, Harare, e as restantes duas nos distritos de Makoni, leste do Zimbabué e Masvingo (centro).

Segundo a agência noticiosa France Presse, meio milhão de doses de vacinas orais são esperadas na quarta-feira no país, sendo distribuídas nos subúrbios mais afetados de Harare.

O surto foi detetado a 6 de setembro nos subúrbios de Glen View e Budiriro, de onde uma fuga nas canalizações teria contaminado a água dos poços comunitários que abastecem os vizinhos, segundo funcionários do Concelho Municipal de Harare.

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Harare, tal como outras cidades do Zimbabué, conta com várias áreas sem um sistema de água corrente potável, o que obriga os residentes a usar água de poços não protegidos.

No passado dia 11, as autoridades declararam o estado de emergência, proibindo concentrações nas ruas de Harare, assim como a venda ambulante de carne e de peixe nas áreas afetadas, uma medida que alguns locais ignoram por tratar-se da sua única forma de subsistência. A Organização Mundial de Saúde (OMS) enviou para o Zimbabué, país fronteiriço com Moçambique, especialistas epidemiológicos e especialistas para organizar uma campanha de vacinação, além de mandar ‘kits’ com material de reidratação e antibióticos para tratar os doentes.

Organizações dos direitos humanos, como a Amnistia Internacional (AI), apontam o Governo do Zimbabué como único responsável por esta crise, por não melhorar as precárias condições de higiene e da rede de saneamento do país. “A atual epidemia de cólera é uma terrível consequência da incapacidade do Zimbabué para investir e gerir tanto as infraestruturas básicas de água e saneamento, como o sistema de assistência médica”, denunciou na semana passada a diretora executiva de Amnistia Internacional no país, Jessica Pwiti. “É espantoso que em 2018 as pessoas continuem a morrer de uma doença evitável”, lamentou.

Este surto de cólera é o mais mortal desde o de 2008/09, quando a doença matou mais de 4.000 pessoas e infetou cerca de 100.000 no Zimbabué. Esta é a quarta vez nos últimos 15 anos que esta nação da África Austral sofre um surto de cólera, uma doença tratável que causa vómitos e diarreia intensos, e que pode chegar a ser mortal se não for tratada a tempo.