Não foi necessário esperar muito para que a Peugeot – na realidade, todo o Grupo PSA, pois a Citroën, DS e a Opel vão passar a oferecer veículos similares – iniciasse contactos com o Governo francês, numa tentativa de convencê-lo a recuperar os apoios à compra de veículos híbridos plug-in (PHEV). França mantém as ajudas de 6.000€ para viaturas exclusivamente eléctricas, mas retirou em 2017 os apoios aos PHEV, fixados em 1.000€.

Estamos a pedir que se reintroduzam os incentivos aos PHEV, veículos que evitam as limitações de autonomia que afectam os veículos eléctricos e que asseguram uma adesão mais fácil a veículos electrificados”, disse Laurent Fabre, o responsável pelas marcas Citroën, DS, Opel e Peugeot nas negociações com o Governo.

Esta posição não espanta, vinda de um grupo que apresentou esta semana as versões PHEV dos Peugeot 3008 e do 508, que só vai começar a comercializar no segundo trimestre de 2019, a que pensa juntar em breve mais oito modelos com as mesmas características.

A Renault, por outro lado, não parece entusiasmada com estes incentivos aos PHEV, tanto mais que ela não oferece esta classe de veículos, tendo apostado nos 100% eléctricos, tipo de solução em que Carlos Tavares, o CEO da PSA, parece continuar a não acreditar fervorosamente.

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Todos os construtores apostam nos eléctricos. Menos a PSA de Carlos Tavares

Simultaneamente, Fabre está a pedir que o Governo não só que recupere como que incremente o pacote de incentivos, dos 1.000€ pagos até 2017, para um mínimo de 2.000€. Ou seja, o dobro, o que na sua opinião tornaria os PHEV mais interessantes. Isto representa um esforço de cerca de 40 milhões de euros por parte dos contribuintes, dado que o mercado espera que as vendas de PHEV dupliquem.

Vai ser interessante acompanhar estas negociações, sobretudo em países em que os consumos e as emissões de CO2 entram no cálculo dos impostos a pagar pelos PHEV, como é o caso português. De uma forma geral, os PHEV já são favorecidos pela legislação europeia (mesmo segundo o WLTP), que lhes permite anunciar consumos médios entre 2 e 3 litros, mesmo em veículos pesados e potentes, que não conseguem atingir este valor nem nos primeiros 70 a 80 km.  Isto partindo do princípio que arrancam com a bateria carregada, o que lhes concede alguma autonomia em modo eléctrico, mas dificilmente os 40 ou 50 km que anunciam. Um valor mais próximo dos 25 a 35 seria bem mais realista.

O problema é nas centenas de quilómetros seguintes, sobre as quais não há qualquer controlo e onde os PHEV poluem tanto quanto os modelos equivalentes sem assistência eléctrica. Pois se esta classe de veículos usufrui dos km iniciais em modo zero emissões (os tais 25 a 35 km), a partir daí é penalizada (por transportarem mais peso, dos motores eléctricos e das baterias), o que acaba por prejudicar o consumo e as emissões.

Fabre tem razão quando afirma que os PHEV resolvem o problema da falta de autonomia dos eléctricos. Porém, esquece-se de recordar que só conseguem fazer isso poluindo como se fossem exclusivamente a gasolina (ou diesel), o que torna pouco interessante ajudá-los com incentivos.