A modelo indiano-americana Padma Lakshmi confessou que foi assediada por um familiar do padrasto quando ainda era criança e violada aos 16 anos por um namorado sete anos mais velho. Numa carta enviada ao The New York Times, a modelo de 48 anos diz entender porque é que mulheres como Christine Blasey Ford e Deborah Ramirez demoraram tanto tempo a confessar os abusos sexuais que sofreram por parte de Brett Kavanaugh, nomeado no Supremo Tribunal norte-americano:

“Na sexta-feira, o presidente Trump escreveu que, se o que Blasey disse fosse verdade, ela teria apresentado queixa há muitos anos. Mas eu entendo porque as duas mulheres guardariam essa informação para si mesmas por tantos anos, sem envolver a polícia. Durante anos fiz a mesma coisa. Na sexta-feira, escrevi sobre o que havia acontecido comigo há muitos anos”.

Padma Lakshmi conta que tudo aconteceu numa noite de Ano Novo, poucos meses depois de ter começado a namorar com o homem: “Nós dois fomos a algumas festas. Depois fui para o apartamento dele. Enquanto conversávamos, estava tão cansada que me deitei na cama e adormeci. A próxima coisa que me lembro é de acordar com uma dor aguda como uma lâmina de faca entre as minhas pernas. Ele estava em cima de mim. Perguntei: ‘O que estás a fazer?’. Ele disse: ‘Só vai doer por um tempo’. ‘Por favor, não faças isso’, gritei”.

Umas horas depois, o homem levou-a a casa e desculpou-se dizendo que acharia que, se ela estivesse a dormir, custaria menos. Padma nunca apresentou queixa a ninguém: “Não contei isto a ninguém. Nem à minha mãe, aos meus amigos e certamente não à polícia. No começo estava em choque. Naquela noite, disse à minha mãe quando cheguei a casa, depois fui dormir, na esperança de esquecer aquela noite”. E explica porquê: “Comecei a sentir que era culpa minha. Nós não tínhamos linguagem na década de 1980 para violação. Imaginei que os adultos diriam: ‘O que raio estavas a fazer no apartamento dele? Por que estavas a namorar com alguém muito mais velho?’

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Uns anos antes, quando tinha sete anos, Padma Lakshmi já tinha sofrido nas mãos de um familiar padrasto: na carta publicada pelo jornal norte-americano, a modelo disse ter sido tocada por ele entre as pernas quando ainda era criança. “O parente do meu padrasto tocou-me entre as minhas pernas e colocou minha mão no pénis ereto dele. Pouco depois de contar à minha mãe e ao meu padrasto, eles mandaram-me para a Índia por um ano para morar com meus avós. A lição foi: se falares, serás expulsa”. Isso também contribuiu para manter o silêncio sobre o que lhe aconteceu aos 16 anos durante todos estes anos.

Padma Lakshmi revelou que era virgem quando essa violação aconteceu. E que na altura não pensou naquela relação sexual como a perda dela, porque imaginava que esse momento seria “algo especial”: “A perda de controle foi desorientadora. Na minha opinião, quando um dia tivesse relações sexuais, seria para expressar amor, compartilhar prazer ou ter um bebé. Aquela situação claramente não era nenhuma dessas coisas. Mais tarde, quando tive outros namorados no último ano do secundário e no meu primeiro ano de faculdade, menti-lhes e disse que ainda era virgem. Emocionalmente, era”.

A modelo acredita que, se tivesse contado imediatamente o que lhe tinha acontecido, tinha sofrido menos nos últimos 32 anos. Agora que tem uma filha com oito anos, é isso que lhe ensina: “Há anos que lhe digo as palavras mais simples e mais óbvias que me levaram muito da minha vida para entender: ‘Se alguém te tocar em suas partes íntimas ou te fizer sentir desconfortável, grita muito alto. Sais de lá e dizes a alguém. Ninguém tem permissão para colocar as mãos em ti. O teu corpo é teu’“.