O Comité Judicial do Senado norte-americano aprovou por 11 votos contra 10 o nome de Brett Kavanaugh para ser presente ao Senado como candidato ao lugar de juiz do Supremo Tribunal. A votação, contudo, esteve envolta em grande confusão depois de o senador Jeff Flake — que tinha o voto decisivo de desempate — ter estado reunido com os democratas e ter proposto que a votação final no Senado seja atrasada uma semana para que o FBI investigue as alegações de caráter sexual que pendem sobre Kavanaugh.

Foi precisamente por causa dessa polémica que Kavanaugh foi ouvido na quinta, neste mesmo comité, bem como a mulher que o acusa de abusos, Christine Blasey Ford.

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Com o Comité Judicial do Senado dividido (11 republicanos, 10 democratas) faltava saber se não falhava ninguém no lado republicano e isso acabou por não acontecer. O senador republicano do Arizona que estava indeciso, Jeff Flake, anunciou o seu voto a favor de Kavanaugh mesmo antes da sessão começar. “Votarei para confirmar Kavanaugh”, escreveu o senador.

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Horas depois, Flake abandonou a sessão, tendo sido seguido por alguns colegas. Nos bastidores, realizou-se uma reunião privada entre Flake e alguns democratas, que poderia indicar uma mudança do sentido de voto de Flake. Contudo, chegado à votação, o senador do Arizona explicou que votaria a favor do nomeado, com a ressalva de que acharia correto “atrasar o voto no Senado uma semana, no máximo, para que sejam feitas as diligências necessárias” sobre este caso. Em causa estava uma investigação do FBI à acusação de Christine Blasey Ford.

Este país está a ser destroçado aqui. Temos de ter a certeza que são feitas as deligências devidas”, acrescentou Flake à saída da sessão

Contudo, não ficou claro na sessão se tal ocorrerá de facto. Como relembrou o próprio senador republicano Lindsey Graham, não é o Comité quem tem o poder para marcar a data da votação — mas sim o líder dos republicanos na câmara, Mitch McConnell. O presidente do Comité, o republicano Chuck Grassley, encerrou rapidamente a sessão, o que levou a senadora democrata Diane Feinstein a perguntar: “O quê?”, indignada. “Isto é um acordo de senhoras e cavalheiros”, respondeu-lhe Grassley.

Kavanaugh teve assim luz verde da parte do Comité, mas a declaração do senador Flake abre a porta a um possível chumbo, caso não haja investigação ou esta tenha conclusões lesivas para Kavanaugh. De qualquer forma, para tal acontecer, pelo menos uma das duas outras senadoras republicanas indecisas — Susan Collins, do Maine, e Lisa Murkowski, do Alaska — teriam de acompanhar Flake.

As frases marcantes da mulher que acusa o juiz escolhido por Trump para o Supremo — e as do próprio acusado

De manhã, durante as considerações iniciais dos senadores, já tinha havido momentos de tensão. A dada altura, quando o presidente do comité, Chuck Grassley leu a sua posição sobre o caso e considerou o testemunho de Christine Ford “credível”, ao mesmo tempo que dfendeu não ver “qualquer razão para recusar um lugar no Supremo ao juiz Kavanaugh”. Nesse momento, quatro senadores democratas saíram da sala do comité em protesto contra todo o processo.

A senadora Kamala Harris, uma das que saiu da sala, disse que “este processo tem sido, de cima a baixo, sobre bullies. Tudo o que pedimos foi que houvesse uma investigação do FBI”. As críticas foram sobretudo em relação à velocidade com que foi conduzido o processo de audições e ao facto de os republicanos terem travado qualquer intenção de uma investigação mais a fundo sobre este caso.

Esta sexta-feira, na mesma sessão do comité, foi chumbada a proposta do democrata Richard Blumenthal que pedia a audição de Mark Judge, uma testemunha que poderia ser importante neste processo, porque será a única testemunha do momento da agressão sexual.

No Senado, que votará sobre a confirmação do juiz para o Supremo, estão 51 senadores republicanos contra um grupo de 47 democratas e dois independentes (Bernie Sanders e Angus King, que muitas vezes votam com os democratas), ou seja, há dois votos de diferença entre os dois grupo. No entanto, duas senadoras republicanas (Susan Collins e Lisa Murkowski) ainda não manifestaram o seu sentido de voto e isso será determinante para a confirmação de Kavanaugh.

Para além disso, dois senadores democratas também ainda não anunciaram o sentido de voto — Joe Manchin e Heidi Heitkamp. O seu voto é relevante, porque ambos são senadores por estados tradicionalmente republicanos (Virgínia Ocidental e Dakota do Norte) e têm o seu lugar no Senado em disputa nestas eleições intercalares de 6 de novembro. Flake juntou-se agora a este grupo, fazendo o seu voto depender de uma investigação do FBI, deixando todo o processo de confirmação de Brett Kavanaugh ainda mais confuso.