Não é por acaso que Paris fecha o circuito das grandes semanas da moda mundiais. É lá que tudo acontece. E quando dizemos tudo, queremos dizer tudo, até uma praia dentro do Grand Palais. Foi essa a forma que a Chanel encontrou de deixar meio mundo de queixo caído. A casa já é conhecida por transformar o interior do palácio a cada desfile — nos últimos anos, montou um bosque outonal, uma selva húmida com uma cascata, um supermercado e uma estação espacial –, mas desta vez excedeu-se.

O interior do Grand Palais, em Paris, foi transformado para o desfile da Chanel, na manhã da última terça-feira © BERTRAND GUAY/AFP/Getty Images

Na praia, cenário realista, as manequins desfilaram com os pés na areia e à beira da água, já que até ondas Karl Lagerfeld, diretor criativo da marca fundada em 1910, providenciou. Ao fundo, o posto de vigia, construção elevada em madeira, fez lembrar a paisagem da série norte-americana Baywatch. Alerta estiveram os salva-vidas, vestidos a rigor com fardas Chanel (imagine como seria encontrá-los na Costa da Caparica). Nem de propósito, Pamela Anderson sentou-se na primeira fila, ao lado do Pharrell Williams. A atriz aproveitou o final do desfile para mulher os pés também.

A escolha do cenário não foi inocente. Gabrielle Chanel, fundadora da marca, tinha uma relação forte com a praia e costumava passar férias em Deauville, na costa sul de França. A paisagem foi, muitas vezes, inspiração para as suas criações, onde foram aparecendo peças com riscas náuticas e peças para ir a banhos. Quanto aos recursos usados na apresentação, a Chanel fez saber no final do desfile que não haverá lugar para desperdícios. A água será reprocessada pelo sistema de saneamento da cidade, enquanto a areia reaproveitada para a construção civil.

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Na passerelle, esteve uma portuguesa. Maria Miguel, que na estação passada se estreou com a Chanel, desfilou com os pés na areia.

A inspiração balnear não esteve só no cenário. Aos tons veraneantes e aos tecidos leves, Lagerfeld juntou silhuetas de chapéus de sol, através de estampados gráficos. A logomania há muito que chegou à Chanel (ou será a Chanel a mãe da logomania?). Colares, brincos e pulseiras repetiram vezes sem conta o nome sonante, tal como os sacos, malas e bolsas exibidos pelas modelos. Mas por muito que a marca queira pôr o pé na areia, a tradição é para se cumprir. O tweed Chanel predomina na coleção, bem como o toque chique que a caracteriza há mais de 100 anos.

Pamela Anderson aproveitou o fim do desfile para molhar os pés na passerelle de verão da Chanel © Pascal Le Segretain/Getty Images

A marca quer apostar na moda de praia. Em junho, Coco Beach, uma coleção de edição limitada, foi lançada em 26 lojas. Há um mês, a casa anunciou a compra da Orlebar Brown, marca britânica conhecida pela produção de moda de praia de luxo para homens. Segundo contas relevadas em junho deste ano, as finanças da Chanel estão de boa saúde. Em 2017, as receitas cresceram 11%, negando os rumores de que a família Wertheimer, sócia maioritária da marca desde 1924, iria vender a sua parte.

Na fotogaleria, reunimos algumas das imagens do desfile. O dia ficará para a história como aquele em que a Chanel transformou o Grand Palais, em Paris, numa praia.