António Costa foi claro: o PS dificilmente formará um governo com o PCP ou com o Bloco de Esquerda. “Dá para sermos amigos, não dá para casar”, afirmou o primeiro-ministro numa entrevista à TVI, na segunda-feira. O comentário não pareceu surpreender os comunistas, que se encontram por estes dias a realizar as jornadas parlamentares em Santarém. “Percebemos que a perspetiva que o Governo tem para o país não é a mesma que tem o PCP”, começou por dizer João Oliveira numa reação aos jornalistas. De seguida, colocou o ónus nos socialistas: “entendemos que em muitas matérias o PS assume posições muito recuadas relativamente àquilo que são as necessidades do país e segue critérios que inviabilizam a resposta aos problemas estruturais do país”. Por isso, é “muito difícil” que venha a formar-se um Governo PS/PCP.

Costa rejeita formar Governo com Bloco de Esquerda e PCP

O discurso tanto do PS como do PCP tem sido o de enfatizar as conquistas e desvalorizar o facto de a convergência não ser maior. É a possível, dizem. Muitas vezes, PCP e BE responsabilizam o PS pela falta de avanços, o primeiro-ministro responde com o argumento de que não é possível acolher o desejo de todos. No limite, porque “não há dinheiro”, como já chegou a evocar no Parlamento.

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Não é por isso de estranhar, sobretudo com o aproximar de um ano que vai ficar marcado por dois atos eleitorais importantes – as europeias e as legislativas -,  que o líder do grupo parlamentar do PCP diga que uma maior convergência com o PS só não acontece por culpa… do PS, que continua “amarrado às políticas de direita” e aos ditames “da União Europeia”.

“Para dar resposta aos problemas do país, faremos o caminho sempre com quem tiver uma posição convergente com essa política alternativa” e, neste caso, o PS não entra nesse leque por opção própria.

Algo que, de resto, não é novidade. Já no fim da sessão legislativa anterior, no balanço anual, João Oliveira tinha lembrado que os pontos em comum entre PS e PCP não vão muito além dos que têm permitido sustentar o atual Executivo. E até olhou para o futuro, admitindo uma solução semelhante à atual, mas sem acordos escritos. “A existência de uma posição conjunta resulta de uma exigência que foi feita na altura [em novembro de 2015] pelo Presidente da República, Cavaco Silva, e que o PS assumiu como sua. Para nós não era necessário um documento escrito”, recordou então o deputado.

PCP critica PS por impedir avanços mas não exclui acordos de futuro

Na entrevista à TVI, António Costa também afirmou que não será possível reduzir o IVA da eletricidade e do gás de 23% para 6%. Mas João Oliveira não dá o tema por encerrado. “Vamos ver até onde é possível ir, a discussão não está fechada”, disse aos jornalistas. “Há várias propostas em cima da mesa”.

Quanto à subida dos salários da função pública, o deputado comunista voltou a insistir na necessidade de o Governo ser mais ambicioso e reafirmou que é necessário que ninguém seja esquecido. “Registamos positivamente a evolução da posição do Governo, que até agora tinha recusado a necessidade de aumentar os salários da função pública”, considerou. Só isso já é uma vitória. Mas não adianta se as propostas que estão em cima da mesa são satisfatórias, já que essa é uma discussão que “tem de ser feita com os sindicatos” e não deve ser o PCP a assumir as exigências dos trabalhadores.

As declarações do líder parlamentar foram feitas à margem do contacto de uma ação de contacto com a população de Chamusca no âmbito das jornadas parlamentares do PCP, que decorrem em Santarém. Na tarde desta terça-feira os comunistas vão encerrar o evento com a apresentação de um conjunto de propostas resultante dos trabalhos feitos o longo destes dois dias de trabalho.