Há momentos assim. Em que as equipas se unem na adversidade e fazem das fraquezas forças. Do último jogo do FC Porto, com o Tondela, tinham sobrado uma má notícia e um desafio: a lesão grave de Aboubakar, que rompeu os ligamentos do joelho esquerdo; e a necessidade de pensar no resto da época sem o camaronês que tem sido sinónimo de golos na era de Sérgio Conceição (26 em 43 jogos, na época passada).

O técnico portista tratou transformar a adversidade em meta – dedicar uma eventual vitória diante do Galatasaray ao camaronês. Foi isso mesmo que fez, desde logo, na conferência de imprensa do jogo, onde procurou desdramatizar (como tem feito, de resto, desde que chegou ao FC Porto) a ausência de Aboubakar – e já agora de Soares, que não está inscrito na Champions – afirmando que os avançados do plantel lhe davam “garantias” (desde o habitual Marega aos menos utilizados André Pereira e Adrián López).

Na hora de formar o onze, Sérgio Conceição não foi de grandes ousadias. Terá talvez pensado numa certa derrota com outra equipa turca, no caso o Besiktas — num certo jogo em que um meio campo a dois se revelou catastrófico perante jogadores fortes no plano individual. Por isso, na tarefa de defrontar o campeão turco — que tinha derrotado o Lokomotiv por expressivos 3-0 na primeira ronda — o técnico portista optou por solidificar o meio-campo, juntando Otávio a Herrera e a Danilo (que regressou ao onze onde já tinha estado na última jornada europeia) e promoveu aos eleitos Corona — que formou o trio de ataque com Brahimi e Marega. Trio — sim, leu bem. A ausência de Aboubakar — e provavelmente a valia do adversário — fez Sérgio Conceição mudar o sistema para o 4x3x3 que tem sido a fórmula Champions esta época.

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FC Porto-Galatasaray, 1-0

2.ª jornada do grupo D da Liga dos Campeões

Estádio do Dragão

Árbitro: Michael Oliver

FC Porto: Casillas; Maxi Pereira, Felipe, Militão, Alex Telles; Danilo, Herrera (Sérgio Oliveira, 90′), Otávio (André Pereira, 80′), Corona (Óliver, 69′), Brahimi, Marega.

Suplentes não utilizados: Vaná, Adrián, Hernâni e Chidozie.

Treinador: Sérgio Conceição

Galatasaray: Muslera; Linnes, Maicon, Serdar, Nagatomo; Donk (Inan, 69′), Fernando (Yunus Akgun, 86′), Belhanda (Feghouli, 74′); Henry, Rodrigues, Sinan.

Suplentes não utilizados: Ismail, Ozan, Mariano, Omer, Selçuk.

Treinador: Fatih Terim

Golos: Marega (49′)

Ação disciplinar: Cartão amarelo para Donk (31′), Éder Militão (42′), Aziz (44′), Linnes (54′), Otávio (58′), Danilo (60′) e Maicon (90′).

No Galatasaray, notou-se a tentativa de anular aquela que será, certamente, a maior fraqueza da equipa — a desorganização defensiva e o espaço deixado entre as linhas defensiva e média. A formação turca tentou ser coesa e Fatih Terim até lançou Linnes a lateral direito — que é forte a estancar os ataques contrários e, a bom rigor, foi eficaz a secar Brahimi. O problema estava no outro flanco, onde Corona fez o que quis de Nagatomo, sobretudo naquele lance aos 26 minutos, que merecia outro destino. O extremo mexicano foi pelo corredor fora, driblou, foi à linha, parou, esperou o momento certo e cruzou atrasado para Brahimi, que armou um remate acrobático apenas travado com uma defesa do outro mundo de Muslera.

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Antes disso, Maxi já tinha vestido a capa de super herói quando, em cima da linha, deu o corpo às balas (ou à bola) para travar um cruzamento atrasado de Onyekuru, que terminou nos pés de Gumus — e só não terminou dentro da baliza porque o uruguaio intercetou o lance.

Sérgio Conceição gritava para dentro do campo, pedia profundidade e pedia pressão, mas o nulo teimou em manter-se até ao intervalo. Não se desfez quando Brahimi isolou Marega que, na cara de Muslera, em vez de rematar optou por centrar (com a bola a perder-se nos pés de Maicon, muito assobiado no regresso ao Dragão). Também não se desfez porque Casillas voltou a dizer presente — e fez uma mancha perfeita perante o isolado Nagatomo para, logo depois, esticar o pé esquerdo a um remate de Gumus.

Desfez-se quando o pano da segunda parte se abriu. Alex Telles — que, sem surpresa, era quem mais assistia nos remates portistas — apontou um canto pela esquerda e colocou a bola redondinha na cabeça de Marega. O maliano saltou completamente sozinho para o golo portista e apontou o primeiro golo na Liga dos Campeões. Os defesas turcos ficaram a ver navios, de pés colados ao chão, como que incrédulos por se terem esquecido do homem-golo dos portistas.

O golo chegou da única forma em que Marega conseguiu, verdadeiramente, criar perigo à formação turca. O maliano foi eficaz no cabeceamento certeiro, mas mostrou o outro lado de si mesmo — um lado em que é facilmente desarmado, em que nem sempre apresenta qualidade no domínio da bola e no passe. Marcou na ausência de Aboubakar, mas nunca o fez, verdadeiramente esquecer — é legítimo pensar no que teria feito o camaronês se tivesse recebido aquele passe de morte de André Pereira, a isolá-lo, e que, nos pés de Marega, permitiu Muslera agigantar-se.

Em desvantagem, o Galatasaray tentou libertar-se das amarras, subiu a pressão mas só conseguiu criar perigo em alguns laivos — como o de Garry Rodrigues, que combinou com Gumus e apareceu a finalizar, mas falhou o alvo. Quando não era assim, estava lá Casillas, que foi sempre o Porto seguro da equipa, mesmo com os 37 anos que já soma nas costas. Até final, o FC Porto soube estancar os lances de perigo contrários, nunca deixou de atacar e pareceu sempre ter o jogo relativamente controlado. Lá está, não deslumbrou, não praticou o futebol ‘champanhe’ de que fala Conceição, mas Marega bebeu o golo que trouxe a saborosa vitória que traz a liderança partilhada do grupo — e que acrescenta confiança nas vésperas da deslocação à Luz.