Noventa pessoas morreram e 67 ficaram feridas desde o início dos ataques protagonizados por grupos armados em aldeias da província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, há um ano, disse esta quinta-feira a polícia moçambicana.

“Os malfeitores, até neste momento, causaram a morte de 90 cidadãos moçambicanos e feriram 67 moçambicanos”, disse Bernardino Rafael, comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), falando momentos após a cerimónia, em Maputo, de celebração do dia da paz e reconciliação em Moçambique, que se assinala esta quinta-feira.

No balanço, o comandante-geral da PRM disse ainda que os grupos armados destruíram um total 1.605 casas em aldeias da província de Cabo Delgado.

A ação das Forças de Defesa e Segurança, acrescentou Bernardino Rafael, culminou com a detenção 280 pessoas suspeitas de envolvimento nos ataques, tendo destruído três acampamentos deste grupo.

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“Há um trabalho que a polícia está a fazer junto com as comunidades”, declarou Bernardino Rafael, acrescentando que “as Forças de Defesa e Segurança continuam a trabalhar para proteger as populações daquela região”.

Povoações remotas da província de Cabo Delgado, situada entre 1.500 a 2.000 quilómetros a norte de Maputo, têm sido atacadas por desconhecidos desde 05 de outubro de 2017, provocando um número ainda desconhecido de deslocados.

Os grupos que têm atacado as aldeias nunca fizeram nenhuma reivindicação nem deram a conhecer as suas intenções, mas investigadores sugerem que a violência está ligada a redes de tráfico de heroína, marfim, rubis e madeira.

Os ataques acontecem numa altura em que avançam os investimentos de companhias petrolíferas em gás natural na região, mas sem que até agora tenham entrado no perímetro reservado aos empreendimentos.

O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, anunciou, na terça-feira, a detenção de um cidadão estrangeiro com negócios no norte do país por ser um dos suspeitos de recrutar e instrumentalizar jovens para atacar aldeias na província de Cabo Delgado.

“Um dos que enganam as crianças, nós apanhámo-lo. Eu até o queria trazer aqui, hoje, mas o meu ministro diz que está [detido] em Nampula”, capital provincial, referiu o chefe de Estado num comício popular perante centenas de pessoas em Mueda, uma das sedes de distrito da região.

Na quarta-feira, o Tribunal Judicial da Província de Cabo Delgado começou a julgar 189 pessoas acusadas de envolvimento nos ataques armados na região, disse à Lusa fonte ligada ao processo. Entre os arguidos estão moçambicanos, tanzanianos, somalis e cidadãos naturais do Burundi e República Democrática do Congo, disse a fonte.