Rui Rio não queria dedicar sequer “2 ou 3%” da entrevista a falar dos críticos, pois não queria ser acusado de só falar para dentro. Justiça seja feita, numa entrevista à RTP de meia hora, o presidente do PSD dedicou só alguns minutos aos críticos internos. O líder do PSD acusou “aqueles que vão criando ruído” de estarem a “fazer o jogo do PS” e que, por isso, têm de “assumir as responsabilidades” pelos danos que a “permanente turbulência” está a criar no partido. Na segunda entrevista que deu à televisão houve coerência com a primeira (na TVI): defendeu as mesmas ideias e, mais uma vez, não houve novidades. Até a reação ao caso do dia, Tancos, tinha sido arrumada horas antes em declarações à Lusa. Limitou-se a repeti-la.

O discurso do líder do PSD, seguiu assim o habitual. Rio assumiu que “só pode” ter “um objetivo, ganhar as eleições legislativas”, mas deixa uma manifestação de humildade em deixo de apelo às bases: “para eu conseguir ganhar, é preciso que o PSD queira ganhar“. E Rio continua a acreditar que “o grosso dos militantes do PSD quer ganhar.” Aos críticos já não pede para saírem, mas para “estarem calados” caso não queiram colaborar.

O presidente do PSD admitiu, ainda, que o partido que lidera está ainda muito longe do PS, mas o seu barómetro não é as sondagens. “Não me interessa as sondagens, porque não confio na maior parte delas“, confessa o presidente social-democrata. Apesar do atraso que admite ter neste momento face ao PS, Rui Rio acredita que vai disputar as eleições “taco-a-taco” em 2019 com o PS e que a vitória pode cair para qualquer um dos lados.

Quanto a coligações pós-eleitorais, Rio lembrou que “o CDS tem sido o parceiro natural”. Quanto à recém-formada Aliança do antigo líder do PSD, Rio não descartou coligar-se. Nem o contrário. E justificou: “Eu nem sequer sei o que é o novo partido de Santana Lopes.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Não acredito que o Chefe do Estado-Maior do exército não soubesse”

O líder social-democrata acabaria por repetir na entrevista o que disse durante a tarde sobre o caso de Tancos, defendendo que a ser verdade que Azeredo Lopes sabia do encobrimento, o ministro devia ser despedido. Com a ressalva de que não estava diretamente a pedir a demissão do ministro: “Quem sabe se o ministro deve continuar ou não é naturalmente o primeiro-ministro”. Rio disse ainda que lhe “custa acreditar que o Comandante do Estado Maior do Exército não tenha conhecimento de nada. Se não tiver, é grave na mesma. Se os dois [o major e o CEME] sabiam, disseram ao chefe de gabinete do ministro e ele não contou ao ministro, é igualmente grave porque o chefe de gabinete é escolha pessoal do ministro, da sua responsabilidade.”

Rio defende ser “impossível manter ministro da Defesa” se houve encobrimento no roubo em Tancos

Rui Rio já tinha alertado para a estranheza da investigação a Tancos a 9 de setembro. Questionado por Vítor Gonçalves esta quinta-feira à noite, o presidente do PSD garantiu que não tinha informação “direta da investigação” e que as pode ter obtido ” de outra forma”. Uma coisa é certa: “Juntando as pontas, achava que a investigação se estava a arrastar há tempo a mais, há casos como BES ou a Operação Marquês que são muito mais complexos.”

Rio chegou à guerra a tempo para disparar contra a comunicação social e o Ministério Público

Sobre a reivindicação dos professores, de que seja contabilizado todo o tempo de serviço em que as carreiras estiveram congeladas, Rio disse num primeiro momento: “Quem tem razão são os professores”. Questionado sobre se pagaria se fosse primeiro-ministro, respondeu: “Calma. Os professores exigem isto ao Governo PS apoiado pelo PCP e BE. Porque é esse Governo que deu expectativas que podia ser contado todo o tempo. Eu não dei. O CDS também não. Se eu prometer alguma coisa algum dia, tenho de ter a certeza que é exequível.”

Rio disse ainda não ter a certeza sobre o impacto orçamental da medida, já que na reunião que teve com os sindicatos, estes dizem que a medida “custa 200 e tal milhões”, enquanto o Governo “diz que custa 600 e tal milhões”. E acrescentou:”Eu não tenho o ministro das Finanças para lhe perguntar para saber as contas direitinhas.” Isto depois de reconhecer que a “reivindicação é justa” e de propor que se chegue a uma solução de compromisso que inclua, por exemplo, nesta negociação a contagem de tempo de serviço para reformas antecipadas sem penalização.

O presidente do PSD comentou ainda o facto do primeiro-ministro dizer que vai utilizar a folga que tem para subir os vencimentos mais baixos na Função Pública. ” É popular eu dizer: eu tenho pouco dinheiro e vou dar aos que têm menos. É popular e é justo. Mas a Função Pública tem um problema mais sério. Um quadro médio da função pública, um arquitecto, um engenheiro, ganha pouco no topo da carreira.”

Rio não partilha visão de Cavaco e Passos sobre substituição de PGR

Ainda sobre a não recondução da Procuradora-Geral da República, Rio voltou a insistir que se a ideia era de continuidade, era preferível ter continuado Joana Marques Vidal. No entanto, disse não corroborar as teorias de Cavaco Silva e Passos Coelho que defenderam haver algo de estranho por detrás desta recondução: “Não quero acreditar nisso”.

Rio teve ainda dificuldade em marcar a diferença para o PS, mas deu um exemplo: o PSD põe o país primeiro, o PS não. Prova disso é, por exemplo, “reduzir de 40 para 35 horas, sabendo que não se aguentam no Serviço Nacional de Saúde. Precisaram de fazer isso para segurar a solução parlamentar. Aí puseram o partido à frente do país.”