Aquele pontapé certeiro, aquele pontapé providencial à passagem da hora de jogo, que bateu Casillas e deu a vitória ao Benfica num clássico morno demais, confirmou a passagem de Seferovic do patinho feio em que, subitamente, se transformou na época passada, ao cisne que soube aproveitar oportunidades e que até já decide jogos.

De uma assentada, o suíço estreou-se a marcar em clássicos (depois de três tentativas), fez o décimo golo em 39 partidas pelo Benfica (aproximando-se do seu melhor registo de sempre, 19 remates certeiros pelo Eintracht Frankfurt) e regressou aos golos na Luz mais um ano depois — a última vez tinha sido a 12 de setembro do ano passado, na derrota por 2-1 frente ao CSKA de Moscovo. Mais do que isso, voltou a ser decisivo, algo que só lhe tinha acontecido uma vez, em agosto de 2017, quando o suíço salvou a equipa de Rui Vitória, já para lá dos 90, frente ao Desp. Aves.

Contratado ao Eintracht Frankfurt no verão do ano passado, Seferovic era a aposta de Rui Vitória para render Mitroglou. O suíço começou por confirmar esse estatuto sendo aposta regular do técnico nas primeiras partidas — e apontando cinco golos, entre Campeonato, Champions e Supertaça, quatro deles consecutivos.

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Mas depois veio o apagão. Antes deles, alguns avisos: frente ao Boavista e ao Paços de Ferreira, foi substituído aos 70 minutos, sem golos; ainda fez os 90 minutos com o Desp. Aves (e até marcou um golo), mas no jogo seguinte, diante do Feirense, foi novamente substituído e nunca mais recuperou a titularidade. Contas feitas, somou apenas sete golos em 29 partidas onde atuou — registo que não fazia jus a Mitroglou.

Esta temporada tem sido uma oportunidade para inverter o que parecia ser uma saída certa da Luz: aproveitou o azar alheio — entenda-se as lesões na frente de ataque encarnada — e foi subindo a pulso no plantel encarnado. Começou passo a passo — rendendo Cervi no jogo frente ao PAOK e Ferreyra frente ao Sporting, para conquistar a primeira titularidade frente ao mesmo PAOK, no jogo da segunda mão do playoff de apuramento para a Champions.

De lá para cá, tem merecido sempre a aposta inicial de Rui Vitória e deu, definitivamente, nas vistas frente ao Nacional, no regresso à titularidade para o Campeonato. Nesse jogo, marcou e fez marcar — assistindo Salvio para o segundo golo da partida (tendo interferência direta em dois dos quatro golos da vitória encarnada).

Esta semana, conseguiu algo que não conseguia desde os primeiros jogos no Benfica: marcar em duas ocasiões seguidas. Aconteceu na vitória europeia frente ao AEK e, agora, no clássico com o FC Porto — que pode bem ter uma palavra a dizer nas contas finais do Campeonato. Seferovic está a ser promovido a cisne depois de ter sido patinho feio e, mais do que tudo, a mostrar que pode ser uma importante carta no baralho encarnado.

No final do encontro, Rui Vitória confirmou-o: “O Seferovic é o reflexo do espírito da nossa equipa: não viramos a cara às dificuldades. Ele não estava a jogar, mas não se resignou, foi à luta e tem conquistado o seu espaço. Isto tem a ver com filosofia de vida que é transmitida todos os dias. A nossa equipa é o reflexo disso”, referiu.