Karima El Mahroug, mulher marroquina conhecida como ‘Ruby’ que esteve envolvida nos escândalos sexuais com o antigo primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi e que, em 2010, alegou ter recebido dinheiro de Cristiano Ronaldo a troco de relações sexuais num hotel de luxo em Milão (tendo mais tarde desmentido a história e admitido que inventou tudo), lamenta que o seu nome esteja a ser “instrumentalizado” para acusar o futebolista português.

‘Ruby’ — que participou nas famosas orgias “Bunga Bunga” organizadas por Berlusconi quando ainda tinha 17 anos — voltou a negar que alguma vez tenha tido relações sexuais com Ronaldo depois de o tablóide inglês The Sun ter noticiado que Leslie Mark Stovall, o advogado da mulher que acusa Cristiano Ronaldo de a ter violado em Los Angeles em 2009, está a investigar testemunhos de outras três mulheres que terão queixas de violação contra o jogador.

No mesmo artigo, o The Sun recupera a história de ‘Ruby’, que em 2010 garantiu às autoridades italianas (pelas quais foi ouvida como testemunha no processo em torno de Silvio Berlusconi) que tinha recebido 4.000 euros de Cristiano Ronaldo depois de uma noite de sexo. Porém, o jornal sublinha que não é certo que “Ruby” seja uma das três mulheres cujos testemunhos estão agora a ser investigados pelos advogados da norte-americana Kathryn Mayorga.

Cristiano Ronaldo está novamente no centro de um escândalo de abusos sexuais, depois de a norte-americana Kathryn Mayorga o acusar de violação (Alessandro Sabattini/Getty Images)

A inclusão do nome de Karima El Mahroug no artigo do The Sun, a somar a vários outros artigos na imprensa internacional que têm recordado o caso ‘Ruby’ a pretexto das acusações de violação de que Ronaldo é agora alvo, levaram a marroquina a enviar uma mensagem à sua advogada, Paola Boccardi, dizendo: “Estou chateada. Mais uma vez, vejo o meu nome instrumentalizado para outros fins”. O conteúdo da mensagem é citado pelo diário italiano Corriere della Sera.

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Num interrogatório numa esquadra da polícia de Milão, em 22 de junho de 2010, ‘Ruby’, então menor, contou que nunca se prostituiu. “A única vez em que fui paga por relações sexuais foi quando tive sexo com o futebolista Cristiano Ronaldo, que conheci em 29 de janeiro de 2009”, contou na altura a marroquina, segundo o artigo publicado agora no Corriere della Sera.

A história, porém, logo da primeira vez que foi contada, continha incoerências. Por exemplo, Karima conta que naquela noite se dirigiu àquela discoteca de Milão por saber que Cristiano Ronaldo se encontrava ali. Porém, mais à frente no mesmo interrogatório, disse que não sabia quem Ronaldo era. A mulher esclarece ainda que trocou números de telemóvel com Ronaldo e que só o voltou a encontrar alguns dias depois num restaurante, onde jantaram juntos.

Foi só após alguns encontros que os dois se teriam envolvido sexualmente num hotel de luxo de Milão onde Ronaldo estaria hospedado. Segundo explicou à polícia, após a noite de sexo, ‘Ruby’ acordou sozinha no quarto. Na mesa-de-cabeceira, encontrou um bilhete no qual se lia “Espero que, quando voltar, já não estejas no meu quarto” e 4.000 euros em notas de 500. Como retaliação por esta atitude, Karima diz que, quando encontrou Ronaldo novamente na discoteca, lhe despejou um copo de champanhe em cima ao mesmo tempo que lhe atirou as notas de 500 euros.

Karima El-Mahroug num protesto em 2013 em frente ao tribunal de Milão, numa altura em que o caso em volta de Silvio Berlusconi se prolongava (GIUSEPPE CACACE/AFP/Getty Images)

Ainda de acordo com o relato de ‘Ruby’, os dois ainda se encontraram uma última vez na cidade italiana, tendo Cristiano Ronaldo pedido desculpa à jovem. As autoridades, contudo, não conseguiram encontrar provas que atestassem a veracidade de qualquer parte desta história. Mais tarde, num telefonema intercetado pelas autoridades italianas, a mulher admitiu ter inventado várias histórias, incluindo a que envolvia Cristiano Ronaldo.

A história ganhou dimensões mundiais quando ‘Ruby’ contou tudo ao tablóide britânico The Sun. A notícia motivou um comunicado de Cristiano Ronaldo, divulgado através da Gestifute, no qual garantia que “todos esses relatos são absolutamente falsos” e classificava como “rocambolescos” os pormenores com que os relatos foram “apimentados”.

“Não conheço a jovem em causa; nunca a vi, nem muito menos me encontrei com ela. No dia 29 de Dezembro de 2009, concretamente, encontrava-me em Madrid, onde treinei, como aliás no dia seguinte. Entre Dezembro de 2009 e Junho de 2010 não estive em Milão uma única vez que fosse, o que é facilmente demonstrável”, garantia Ronaldo no comunicado.

Recorde-se que, em 2013, Silvio Berlusconi foi condenado a sete anos de prisão no âmbito do caso ‘Ruby’ — não só por ter pago a uma menor por sexo, mas também por ter usado o seu cargo para libertar a marroquina das autoridades quando ela foi detida por um furto. Porém, em 2015, o Supremo Tribunal italiano acabou por ilibar o antigo primeiro-ministro, por considerar que Berlusconi não sabia que Karima tinha menos de 18 anos quando participou nas festas.