Três jornalistas assinados nos últimos 12 meses e sete assassinados desde o início de 2017, todos em território europeu. São estes os números que causam alarme na União Europeia. O vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, afirmou estar “comovido pelo assassinato horrível de Victoria Marinova”, a última jornalista a ser assassinada (antes, foi também violada) na Bulgária, ligando inclusivamente a sua atividade profissional à morte: “De novo, uma jornalista corajosa caiu na luta pela verdade e contra a corrupção”. A declaração foi feita no Twitter.

A violação e posterior homicídio de Viktoria Marinova foi o terceiro crime de homicídio de jornalistas em território europeu, no período de um ano. Já esta segunda-feira, a Comissão Europeia pediu às autoridades búlgaras que clarifiquem quanto antes se a violação e o homicídio de Viktoria Marinova estão relacionados com o seu trabalho de jornalista, escreve o El País. Foi pedida uma “investigação rápida e em profundidade” sobre o caso.

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A última classificação mundial sobre liberdade de imprensa estabelecida pelos Repórteres sem Fronteiras (RSF) colocou a Bulgária no 111.º lugar entre 180, o pior da União Europeia, e o país é regularmente questionado pela situação de vasta corrupção nos media, que impede a liberdade de informar. Esta situação conduziu numerosos observadores a relacionarem a morte da jornalista à sua profissão.

Daphne, Ján e Marina, todos assassinados na Europa

A primeira vítima dos últimos 12 meses, em território europeu, foi Daphne Caruana Galizia, jornalista nascida em Malta e especialista em investigação de casos de corrupção, particularmente no governo e nos partidos políticos do país. Daphne Caruana Galizia, que também chegou a noticiar casos relativos a possíveis lavagens de dinheiro e conexões entre o crime organizado e a indústria de jogo online de Malta, foi assassinada a 16 de outubro, quando uma bomba explodiu no interior do seu Peugeot 108, enquanto conduzia. A jornalista tinha sido a primeira a aceder a informação de empresas offshores do Panamá antes da divulgação dos Panama Papers, que colocaram na esfera pública 11.5 milhões de documentos sobre operações financeiras no Panamá (em particular em sociedades offshores), tendo revelado a utilização de paraísos fiscais por elementos do governo de Malta — como o ministro Konrad Mizzi e o chefe de staff do primeiro-ministro, Keith Schembri — e pela mulher do primeiro-ministro Joseph Muscat.

Daphne Caruana Galizia não foi esquecida em Malta: seis meses depois da sua morte, foram numerosas as homenagens e pedidos de justiça, nas ruas e igrejas do país. (Tolga Amken/AFP/Getty Images)

Já em fevereiro deste ano, foi assassinado Ján Kuciak, jornalista de investigação eslovaco de 27 anos que se especializara na investigação de casos de fuga ao fisco de empresários do país, alguns dos quais com ligações a políticos eslovacos. Tanto Ján Kuciak como a sua noiva, Martina Kušnírová, foram abatidos a tiro na casa em que vivia o casal, na região de Galanta. O caso provocou tumultos políticos e sociais no país, tendo levado à demissão do governo liderado pelo então primeiro-ministro Fico. Três suspeitos foram acusados de homicídio de primeiro grau, com a polícia eslovaca a encontrar evidências de que o homicídio tinha sido encomendado e que Kuciak foi assassinado devido à sua atividade como jornalista.

Já esta terça-feira, 9 de outubro, foi detido um suspeito do homicídio da jornalista Viktoria Marinova. Trata-se de um cidadão romeno com passaporte emitido na Moldávia. Marinova tinha 30 anos e o seu corpo foi encontrado este sábado, num parque de Ruse, norte da Bulgária, cidade onde trabalhava como jornalista, responsável administrativa e apresentadora da estação de televisão TVN. Segundo Atanas Tchobanov, editor chefe de um site de jornalismo de investigação, paralelamente ao seu trabalho na TVN a repórter investigava uma história sobre desvio de fundos europeus por grupos de empresas de consultoria também ligados a negócios de construção. A rede chegaria a oligarcas russos e ao presidente da delegação búlgara da multinacional russa de energia Lukoil, alega Tchobanov. Marinova não terminou o trabalho, tendo sido encontrada morta com sinais de agressões, estrangulamento e violação.

Jornalista búlgara que investigava casos de corrupção foi violada e morta

Desde o início do ano, já morreram 73 jornalistas em todo o mundo, alvos de homicídio premeditado e apanhados em tiroteios (a maioria, em zonas de conflito), refere a Federação Internacional de Jornalistas. Desses 73 jornalistas mortos, 27 foram assassinados, segundo dados da organização não governamental norte-americana CPJ – Comité para Proteger Jornalistas.