O Banco de Portugal avisa que as “pressões exercidas pela concorrência têm contribuído para atenuar, de algum modo, a restritividade na concessão de crédito a particulares“. Por outras palavras, os bancos estão menos exigentes na hora de conceder crédito, alerta o Banco de Portugal. A análise da instituição liderada por Carlos Costa, que consta do Boletim Económico divulgado esta quinta-feira, tem por base os resultados do último inquérito feito junto dos bancos para perceber quão exigentes os bancos estão a ser na análise de risco dos clientes na hora de avaliar operações de crédito, tanto na área do crédito à habitação como ao consumo.

Segundo dados do Banco de Portugal, a banca nacional concedeu novos créditos ao consumo no valor de 3.132 milhões de euros entre janeiro e agosto — o valor mais alto em 14 anos.  Só no mês de agosto os bancos concederam empréstimos ao consumo no valor de 404 milhões de euros, o valor mais alto para este mês desde 2003.

Na área do crédito hipotecário, na terça-feira o Banco de Portugal indicou que os empréstimos concedidos pelos bancos para habitação totalizaram 810 milhões de euros em agosto, com juros médios mais baixos. Em julho, tinha havido 919 milhões de euros em crédito, mês em que entrou em vigor a recomendação que o Banco de Portugal — ou seja, indicando que não está a contribuir para uma desaceleração da tendência de aumento do crédito.

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Já no inquérito aos bancos relativo a julho o Banco de Portugal revelava que “uma instituição indicou que as pressões exercidas pela concorrência de outras instituições bancárias contribuíram ligeiramente para tornar os critérios aplicados nos empréstimos para aquisição de habitação menos restritivos. No segmento do crédito ao consumo e outros fins, uma instituição assinalou que as pressões exercidas pela concorrência, com origem em outras instituições bancárias ou em instituições não bancárias, bem como a situação e as perspetivas económicas gerais mais favoráveis, contribuíram ligeiramente para uma menor restritividade dos critérios de concessão de crédito nesse segmento”.

Essa “menor restritividade dos critérios” já poderá, assim, ser mais generalizada do que a situação que foi apontada por uma instituição em julho. No relatório divulgado esta quinta-feira, o Banco de Portugal já fala em “bancos inquiridos”, no plural, que “referem que as pressões exercidas pela concorrência têm contribuído para atenuar, de algum modo, a restritividade na concessão de crédito a particulares”.

O Banco de Portugal complementa esta informação com uma análise relativamente aos indexantes de taxa de juro que estão a ser contratados no crédito à habitação, com um “maior dinamismo” na contratação de créditos com taxa de juro variável com prazo inferior a um ano.

A instituição liderada por Carlos Costa sublinha, contudo, que o rácio entre os novos empréstimos para habitação e o montante total das transações de alojamentos familiares em Portugal aumentou face aos níveis mínimos atingidos em 2015.  “Todavia, permanece em níveis bastante mais baixos do que os observados em 2010”, frisa a instituição.

A redução do peso do financiamento bancário nas transações é transversal às várias regiões do país mas a sua magnitude é maior na Área Metropolitana de Lisboa e no Algarve, regiões onde o investimento estrangeiro ou a compra de imóveis por parte de empresas poderá ter um peso mais elevado nas transações.

Porém, o Banco de Portugal alerta que, na área do crédito ao consumo, o “dinamismo do crédito a particulares para consumo tem implicado um aumento da fração de consumo financiada com recurso a crédito, para níveis que se situam acima dos níveis observados na segunda metade de 2009”.

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