Mais de 10.000 pessoas atravessaram a fronteira que separa a Eritreia da Etiópia no primeiro mês da reabertura, na sequência da declaração de paz entre os dois países africanos, que colocou fim a décadas de conflito fronteiriço.

“Estamos a observar os frutos da paz, um mês depois da histórica reabertura da fronteira”, referiu a diretora na Etiópia do Conselho Norueguês para os Refugiados, Stine Paus, em comunicado.

Stine Paus regozijou-se pelo facto de “famílias previamente divididas por um período de 20 anos” estarem a celebrar “encontros felizes”.

De acordo com o Conselho Norueguês para os Refugiados, 83% dos que atravessaram a fronteira desde a Eritreia fizeram-no para se reunirem com um familiar ou familiares.

“Graças a Deus, não tenho palavras para expressar a minha felicidade”, disse uma mulher, que voltou a abraçar os três filhos e outros familiares, depois de 10 anos de separação, em que esteve no campo de refugiados de Mai Aini, no norte da Etiópia.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Com a reabertura dos postos fronteiriços, o comércio nas localidades circundantes da fronteira entre Eritreia e Etiópia está a aumentar, à medida que mais pessoas cruzam a fronteira e numerosos comerciantes etíopes, com os seus veículos carregados de mercadorias, se dirigem a Asmara, capital eritreia, para realizar negócios.

A fronteira entre os dois países do Chifre de África reabriu oficialmente no passado 11 de setembro, com postos fronteiriços em Zalambesa e Rama.

Os registos do Conselho Norueguês para os Refugiados indicam um aumento de 53 para 390 pessoas por dia a cruzarem a fronteira desde a Eritreia.

Se bem que a fronteira esteja aberta à livre circulação em ambas as direções, são muitos mais os que anseiam chegar à Etiópia, cuja Agência para os Refugiados continua a aceitar e registar as pessoas que procuram asilo.

“Devido ao aumento dos pedidos de asilo, os centros de receção estão sempre cheios de pessoas. Mais ajuda é necessário para fornecer abrigo, comida e água aos centros de acolhimento e campos de refugiados”, referiu a Agência para os Refugiados.

A Eritreia, considerado um dos regimes mais repressivos do mundo, mantém um serviço militar obrigatório de duração indefinida e condições próximas da escravatura, o que levou muitos cidadãos a fugir do país.

O acordo de paz entre as duas nações, firmado no passado 9 de julho, foi resultado do esforço iniciado pelo reformista primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, de 42 anos, desde que assumiu o cargo, há pouco mais de seis meses.

Esta declaração de paz propiciou a reabertura de fronteiras, embaixadas e linhas aéreas diretas, depois da recuperação das relações diplomáticas, que tinham sido suspensas durante duas décadas devido a disputas fronteiriças após a independência da Eritreia, em 1993.