O Presidente timorense afirmou, esta quinta-feira, que a compra da participação da empresa ConocoPhillips no consórcio dos campos petrolíferos de Greater Sunrise dominou a reunião inesperada com o ex-chefe de Estado Xanana Gusmão.

“Realmente tivemos um encontro que incidiu mais nos últimos acontecimentos, particularmente, sobre a compra de ações da ConocoPhillips”, explicou à Lusa Francisco Guterres Lu-Olo, confirmando que a reunião foi pedida por Xanana Gusmão “através do primeiro-ministro”, Taur Matan Ruak.

“Disse-lhe [a Xanana Gusmão] que esta é uma questão que deve ser abordada muito mais profundamente quando ele voltar das negociações”, acrescentou o chede de Estado, numa referência a uma nova ronda de contactos no estrangeiro que Xanana Gusmão vai manter nos próximos dias sobre o projeto Greater Sunrise.

Lu-Olo falava depois de presidir à abertura do 3.º Congresso da Câmara de Comércio e Indústria de Timor-Leste (CCI-TL), que arrancou com bastante atraso devido ao encontro inesperado com Xanana Gusmão. O pedido de reunião, que não estava prevista na agenda da Presidência, foi transmitido a Lu-Olo pelo primeiro-ministro durante o encontro semanal, esta manhã, entre os dois responsáveis. O encontro com Xanana Gusmão realizou-se em seguida.

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Esta reunião decorreu na sequência de meses de tensão com Xanana Gusmão, que escreveu várias cartas a Lu-Olo, divulgadas depois publicamente, e prestou várias declarações públicas a criticar a decisão do chefe de Estado de não dar posse a vários nomes propostos para a equipa governamental. O chefe de Estado disse que esse assunto “não foi discutido” na reunião e que o importante não são as críticas, mas os assuntos de Estado.

“O ambiente correu normalmente. Ele realmente fez tudo [as críticas] mas como chefe do Estado não entrei nisso neste encontro. Quero ver discutidas as outras questões que dizem respeito à vida do nosso país e do nosso povo”, destacou.

O Presidente timorense terá que dar o seu aval à operação de compra, através da promulgação das contas públicas de 2019, onde estão inscritos 350 milhões de dólares (303 milhões de euros) para financiar o negócio. Na quarta-feira, o Governo timorense aprovou em Conselho de Ministros uma resolução sobre a operação, que tem ainda de ser aprovada pelo Parlamento.

Timor-Leste considera a operação um passo essencial na estratégia para trazer um gasoduto de Greater Sunrise até à costa sul do país, e marcar assim o desenvolvimento nacional do setor e antecipando um impacto adicional da estratégia na economia doméstica.

A operação, que poderá estar concretizada “no primeiro trimestre de 2019”, necessita igualmente de aprovação dos reguladores e de passar pelo processo de opção de direitos de preferência de parceiros, indicou a petrolífera ConocoPhillips. O consórcio de Greater Sunrise é liderado pela australiana Woodside, com 33,44% do capital, incluindo a ConocoPhillips (30%), a Shell (26,56%) e a Osaka Gas (10%).

Os campos de Greater Sunrise estão, na quase totalidade, em águas territoriais timorenses, no âmbito do novo tratado de fronteiras marítimas, assinado em março, com a Austrália e que está ainda para ser ratificado pelos Parlamentos dos dois países. Os campos contêm reservas estimadas de 5,1 triliões de pés cúbicos de gás e estão localizados, a aproximadamente 150 quilómetros a sudeste de Timor-Leste e a 450 quilómetros a noroeste de Darwin, na Austrália.