O governo russo vai suspender todos os voos tripulados para o espaço da agência espacial Roscosmos depois de um problema no propulsor de um foguetão Soyuz ter obrigado o astronauta Nick Hague da NASA e o cosmonauta Alexey Ovchinin a regressarem a Terra pouco depois de ter descolado do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão. A decisão foi anunciada por Yuri Borisov, vice-primeiro ministro da Rússia, depois de o diretor-geral da Roscosmos ter oficializado que vai abrir uma investigação ao que aconteceu à missão espacial abortada esta manhã.

Quando o primeiro estágio e o segundo estágio do Soyuz se separaram, o cosmonauta Alexey Ovchinin descreveu “uma sensação de ausência de peso”. Foi então que a falha foi detetada: essa sensação sugere que os propulsores do segundo estágio não estão a funcionar — indicando problemas no motor.  A Roscosmos não confirma a origem da falha nem dá mais informações sobre os erros detetados. Diz apenas que o segundo dos três estágios que compõem o foguetão Soyuz “sofreu uma falha não especificada”.

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Esta foi a primeira vez que uma missão tripulada não conseguiu chegar à Estação Espacial Internacional. Aliás, em toda a história das missões tripuladas do programa espacial russo só foram registadas duas falhas: a desta quinta-feira e uma que aconteceu em setembro de 1983, quando um foguete Soyuz explodiu na plataforma de lançamento com dois cosmonautas a bordo. Os dois cosmonautas, Vladimir Titov e Gennady Strekalov, conseguiram ejetar-se e sobreviveram sem ferimentos.

Quanto ao que aconteceu esta manhã, apesar dos erros no funcionamento do foguetão Soyuz, os sistemas de salvamento da tripulação resultaram, garantiu o vice-primeiro-ministro: a cápsula da Soyuz foi automaticamente descartada e desligada do propulsor quando ele falhou 123 segundos após o lançamento. Nick Hague e Alexey Ovchinin regressaram à Terra dentro de uma cápsula do foguetão Soyuz através de um percurso quase a pique em modo balístico, acionado em casos de emergência, e foram submetidos a uma força equivalente a entre seis e sete vezes a força gravítica sentida em terra.

A cápsula aterrou a 20 quilómetros de Dzhezkazgan, uma cidade do Cazaquistão, e pouco depois os astronautas foram acudidos por uma equipa de busca e salvamento destacada para esta missão. Primeiro foram submetidos a exames médicos, que confirmaram que estavam bem, mas depois foram levados novamente para Baikonur. Jim Bridenstine, administrador da NASA, já veio confirmar que Nick Hague e Alexey Ovchinin vão depois ser enviados para o Centro de Treinos do Cosmonauta Gagarine em Cidade das Estrelas, uma área do programa espacial russo e de acesso altamente restrito que fica a nordeste de Moscovo, onde os cosmonautas são treinados desde os anos 60 para serem enviados para o espaço.

O momento em que o Soyuz MS10 levantou voo no Cosmódromo de Baikonur. Créditos: KIRILL KUDRYAVTSEV/AFP/Getty Images

Nos últimos tempos, apesar da eficácia da Roscosmos em levar tripulação e carga útil para a Estação Espacial Internacional, os foguetões Soyuz têm levantado algumas dúvidas em termos de segurança. Em 2016 foram encontradas falhas nessas aeronaves do tempo soviético, mas a responsabilidade foi atirada para a fabricante Voronezh. Essas falhas obrigaram a Roscosmos a levar 70 foguetões para as oficinas para substituir as peças defeituosas, o que afetou o envio de satélites para o espaço.

Em agosto deste ano, as atenções também se viraram para a Roscosmos quando um buraco com dois milímetros de diâmetro provavelmente feito com uma broca provocou uma fuga de ar na parte russa da Estação Espacial Internacional. O buraco foi entretanto remediado pelos astronautas a bordo do laboratório espacial, mas ainda não há conclusões sobre o quê ou quem pode ter aberto esse buraco.