A Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal alertou hoje para o perigo que as ciclovias em Lisboa representam para os cegos, por estarem entre os passeios e a estrada, defendendo a circulação das bicicletas nas faixas de rodagem.

Em declarações à agência Lusa, por ocasião do Dia Mundial da Bengala Branca, que se assinala a 15 de outubro, o presidente da ACAPO apontou que as ciclovias estão, maioritariamente, colocadas entre as faixas de rodagem e os passeios, o que pode ser um perigo para as pessoas cegas.

“Já me aconteceu, o autocarro para na berma, eu saio, penso que estou a sair para o passeio e estou a sair para a ciclovia. Se uma senhora não me puxasse para trás, eu seria atropelado por uma bicicleta”, contou Tomé Coelho.

De acordo com o responsável, as ciclovias tornaram-se “mais um obstáculo na deslocação das pessoas cegas”, já que, muitas vezes, os pisos da ciclovia e do passeio são iguais ou com diferenças pouco percetíveis.

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“Na [avenida] 24 de julho, o piso do passeio é exatamente igual ao da ciclovia e as pessoas cegas não sabem se estão a circular no passeio ou na ciclovia. Isso é problemático e é mais um obstáculo, mais um afastamento rumo à inclusão”, criticou o responsável.

Tomé Coelho aproveitou também para falar do novo serviço de aluguer de bicicletas da Câmara Municipal de Lisboa, a GIRA, para apontar que estão presas a um suporte, colocado em cima dos passeios, o que pode levar alguns cegos a chocarem com a estrutura, já que têm de se orientar pelas bermas.

“A Câmara Municipal de Lisboa deveria repensar porque não podemos falar em inclusão e defender uma cidade inclusiva e depois criar infraestruturas e serviços que vão contra aquilo que se disse defender, que é a inclusão”, defendeu.

Tomé Coelho frisou que a ACAPO não é contra as ciclovias, “pelo contrário”, mas entende que deveriam ter sido instaladas “num local mais indicado, dentro da faixa rodagem e não em cima do passeio, já que são consideradas um veículo”.

O responsável lamentou que a ACAPO não tivesse sido ouvida antes da implementação da rede de ciclovias, mas adiantou que a associação vai pedir uma audiência à autarquia lisboeta e que pretende apresentar propostas para minorar o problema para as pessoas cegas.

Tomé Coelho apontou que as soluções poderão passar por uma diferenciação dos pisos das ciclovias e dos passeios, pela criação de sinalização tátil junto das paragens dos autocarros a indicar a presença de uma ciclovia ou outro tipo de sinalética que permita às pessoas com deficiência visual terem uma noção mais exata de quando estão a atravessar uma ciclovia.