Até este domingo, a última vez que a Seleção Nacional se tinha deslocado à Escócia tinha sido há exatamente 26 anos: a 14 de outubro de 1992. Na altura, ao contrário do que se passou agora, o jogo não era um particular e contava diretamente para o Grupo 1 da qualificação para o Campeonato do Mundo, a disputar em 1994 nos Estados Unidos. O jogo, esse, não teve grande história e terminou com um morno empate sem golos. E o destino das duas seleções, ironicamente, foi semelhante – nem Portugal nem Escócia se qualificaram para o Mundial dos Estados Unidos.

Os escoceses falhavam uma fase final depois de terem estado no Euro 1992 e no Mundial de 1990, enquanto que Portugal adiava mais uma vez o regresso à alta competição de seleções, num hiato que já durava desde o Mundial do México, em 1986. Ainda assim, e apesar de nem um nem outro terem conseguido marcar presença no Campeonato do Mundo que o Brasil de Romário, Ronaldo e Bebeto viria a vencer, as duas seleções viviam fases diferentes. A Escócia tinha estado no último Europeu, estaria no Europeu seguinte e, ainda que estivesse longe da glória de Dalglish e Souness, tinha nas fileiras jogadores como Gary McAllister, campeão inglês na temporada anterior com o Leeds United, Tom Boyd e Paul McStay, peças fulcrais do Celtic daqueles tempos.

Portugal, por outro lado, não marcava presença numa fase final de um torneio de seleções desde 1986 e só voltaria a qualificar-se para o Euro 1996, quatro anos depois deste particular empatado a zeros em Hampden Park. 26 anos depois, as histórias não podiam ser mais diferentes.

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Ficha de jogo
Escócia-Portugal, 1-3

Jogo particular
Hampden Park, em Glasgow, na Escócia
Árbitro: Rudy Buquet (França)
Escócia: Gordon; O”Donnell, Hendry, McKenna, Robertson; McGinn (Shinnie, 67’), Forrest, Armstrong (McDonald, 76’), McBurnie (Mackay-Steven, 75’); Naismith, McGregor
Suplentes não utilizados: Allan McGregor, McLaughlin, Johnny Russell, Devlin e Christie
Selecionador: Alex McLeish
Portugal: Beto (Cláudio Ramos, 86’); Cédric, Rúben Dias (Pedro Mendes, 56’), Luís Neto, Kevin Rodrigues; Danilo (William, 90’), Sérgio Oliveira (Renato Sanches, 56’), Bruno Fernandes (Gedson Fernandes, 67’); Bruma (Rafa, 90’), Hélder Costa e Éder
Suplentes não utilizados: João Cancelo, Mário Rui, Pizzi, Rúben Neves, André Silva
Selecionador: Fernando Santos
Golos: Hélder Costa (43’), Éder (73’), Bruma (84’) e Naismith (90+3’)
Ação disciplinar: Cartão amarelo a Sérgio Oliveira (29’)

À entrada para este particular, no mesmo dia e no mesmo estádio onde se defrontaram em 1992, Portugal vinha de uma vitória e a Escócia de uma derrota. A seleção portuguesa venceu a Polónia na passada quinta-feira (3-2), em jogo a contar para a Liga das Nações, e no mesmo dia os escoceses perderam na deslocação a Israel (2-1), numa partida para a mesma competição. Ora, Portugal, para além de ser campeão europeu em título, não falha uma fase final de um torneio de seleções desde 2000. A Escócia, porém, não consegue qualquer qualificação desde o Mundial de 1998.

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Depois de dispensar Pepe, Rui Patrício e Bernardo Silva, Fernando Santos fez dez alterações no onze inicial português e só poupou Rúben Dias face à equipa que venceu a Polónia. Éder voltou à titularidade e Hélder Costa, jogador do Wolverhampton, estreou-se de forma absoluta com a camisola da Seleção Nacional (para além de Pedro Mendes e Cláudio Ramos, que entraram já na segunda parte). O jogo começou e manteve-se morno, sem grandes incursões ofensivas de parte a parte e com poucas reais oportunidades de golo: a Escócia ia tentando chegar à baliza de Beto mas sem grande sucesso e Portugal optava por manter a posse de bola e não arriscar. Quando o relógio começou a aproximar-se dos 45 minutos, as melhores ocasiões de golo tinham sido um quase autogolo de Sérgio Oliveira e um remate à meia volta de Éder.

Mas foi nesta altura que Bruma, Kévin Rodrigues e Hélder Costa – dois novatos e um estreante na Seleção Nacional – decidiram que não queriam ir para o balneário com um nulo no placard. Bruma controlou a bola no vértice da área de Gordon, Kévin Rodrigues surgiu em alta velocidade no corredor esquerdo, cruzou tenso e rasteiro e Hélder Costa surgiu no coração da grande área, superiorizou-se ao central escocês e encostou para a baliza quase deserta. Estreia melhor era difícil.

Pouco se jogou depois do golo do avançado do Wolverhampton e no regresso para a segunda parte foi a Escócia quem imprimiu alguma – ainda que pouca – velocidade no jogo. A equipa orientada por Alex McLeish tentou chegar ao empate mas com pouca qualidade e organização e a estrutura defensiva improvisada por Fernando Santos bastou para evitar que Beto tivesse de enfrentar muito perigo. Do outro lado, Portugal não parecia muito empenhado em acelerar o ritmo do jogo e foi preciso esperar pela entrada de Renato Sanches, aos 56 minutos, para ver a seleção portuguesa regressar às aventuras ofensivas.

E foi precisamente dos pés de Renato Sanches que surgiu o segundo – e quase definitivo – golpe de misericórdia para os escoceses. O médio do Bayern Munique marcou um livre a descair na direita do ataque e Éder surgiu ao segundo poste a cabecear sem qualquer hipótese para o guarda-redes Gordon: no regresso à titularidade, o herói de Paris voltou a marcar com a camisola da Seleção Nacional (não o fazia precisamente desde o golo na final do Euro 2016). E a seis minutos dos 90, ainda houve tempo para Bruma deixar um central escocês à procura da bola e assinar o melhor golo do jogo, naquela que foi também a sua estreia a marcar pela seleção.

Naismith ainda conseguiu marcar o golo de honra dos escoceses na última jogada da partida mas Portugal sai mesmo de Glasgow com a segunda vitória da história na Escócia – a primeira tinha sido já em 1966, na qualificação para o Mundial de Inglaterra. Num jogo fraco, algo apático e com pouca qualidade, as estreias e os apontamentos curiosos deram cor a um particular de domingo que só deixou (ainda mais) patente que Fernando Santos tem soluções ofensivas de sobra mas a manta continua curta em terrenos mais recuados.