A introdução do novo sistema de medições de consumos WLTP (de World Harmonized Light Vehicles Test Procedure), mais rigoroso do que o anterior NEDC, complicou a vida a todos os veículos, dos que queimam gasolina ou gasóleo, aos eléctricos, que também viram as suas autonomias reduzidas. Mas um dos segmentos que escapou ao maior realismo do WLTP foi o dos híbridos plug-in, que continuam a usufruir de um tratamento preferencial que não só não faz qualquer sentido, como é completamente desprovido de realidade.

Vem isto a propósito do novo Mercedes GLE, o SUV topo de gama da marca alemã, que já prometeu surgir em meados de 2019 com uma versão híbrida plug-in (PHEV). Só que, ao contrário do que é habitual nos PHEV existentes no mercado, que anunciam 50 km de autonomia em modo eléctrico (e, às vezes, nem isso), para depois percorrerem apenas 20 ou 30, o novo GLE PHEV vai ser capaz de circular impulsionado exclusivamente pelo motor eléctrico 100 km. Um incremento que se saúda.

É claro que a Mercedes não montou maiores baterias no seu SUV apenas para proteger o ambiente. Fê-lo porque segundo o WLTP, a maioria dos PHEV anuncia agora mais de 50 g de CO2 por cada 100 km percorridos, o que os coloca fora das facilidades concedidas a esta classe de veículos numa série de países, a começar pela China. E daí que, para se colocarem sob a fasquia dos 50g, têm de percorrer um maior número de quilómetros accionados exclusivamente a electricidade, o que obriga a acumuladores com maior capacidade.

14 fotos

Ainda assim, não é fácil perceber a filosofia muito à brasileira “me engana que eu gosto” com que as autoridades de Bruxelas encaram os PHEV actuais, atribuindo-lhes um estatuto de veículos “verdes” que não merecem, permitindo-lhes anunciar consumos, muitas vezes inferiores a 3 litros/100 km, o que obviamente não corresponde à realidade. Nem mesmo nos primeiros 100 km, quando ainda têm a bateria carregada a 100%, o que assegura uns quilómetros sem recorrer ao motor a combustão. Os mesmos PHEV, quando avaliados pelo sistema americano, anunciam consumos entre 8 e 10 litros, um valor bem mais razoável e próximo da realidade.

Face a esta (triste) realidade, é de saudar que esta marca alemã tenha enveredado por um PHEV apto a anunciar 100 km em WLTP, o que deverá permitir percorrer 60 a 70 em condições reais, desde que se opte por um ritmo calmo, ou até mesmo ir mais longe se a deslocação for exclusivamente em cidade. Segundo o membro da administração da Daimler, responsável pela Investigação e Desenvolvimento, Ola Källenius, que será o sucessor de Dieter Zetsche na cadeira de CEO do grupo a partir de Janeiro, “nesta geração, os nossos híbridos percorrem entre 30 a 50 km em modo eléctrico, mas o GLE vai ser o primeiro da próxima geração, a anunciar 100 km de acordo com o WLTP”.

A Mercedes não divulgou mais informações sobre o modelo, mas é evidente que não recorrerá às pequenas baterias montadas nos actuais GLE 550e, que têm apenas 8,8 kWh de capacidade, ou às de 13,5 kWh que monta nos Classe S. Para conseguir anunciar 100 km em modo eléctrico, o GLE tem de, no mínimo, transportar cerca de 30 kWh. Isto implica mais peso e maiores custos, mas uma ajuda mais realista para a redução de consumos e emissões. E ao que se sabe, também a próxima de PHEV eDrive da BMW apontará aos 100 km como objectivo, de forma a também ela tornar os plug-in mais atractivos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR