O governador do Banco Central timorense disse esta segunda-feira que as prioridades do regulador bancário são expandir o acesso a serviços bancários e financeiros nas zonas mais remotas de Timor-Leste e fomentar a educação financeira da população. Abraão de Vasconselos disse esta segunda-feira, em Díli, que apesar de o país ter já 1.200 pontos de acesso ao sistema financeiro – entre balcões, multibancos e pontos de venda – “a maioria da população não consegue usar o sistema”.

“Houve alguns avanços, mas a população continua com dificuldades em aceder aos serviços. Especialmente porque ainda não há total conexão entre as instituições financeiras”, disse em Díli o governador do Banco Central de Timor-Leste (BCTL), na abertura do 28.º Encontro de Lisboa entre os Bancos Centrais dos Países de Língua Portuguesa.

O encontro de Lisboa decorre pela primeira vez fora da capital portuguesa, aproveitando a presença na vizinha ilha indonésia de Bali dos responsáveis lusófonos que estiveram nas reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial. Os balcões das instituições bancárias que operam em Timor-Leste estão apenas nas capitais de município e “a maior parte da população tem que andar mais de 10 quilómetros” para ter acesso a elas.

No que toca à ampliação e melhoria da rede e dos serviços, disse, o Governo tem que ser um dos principais impulsionadores, já que o Estado que financia grande parte da economia – o setor privado ainda é emergente – efetua a maior parte das transações. No futuro, Timor-Leste quer por isso “melhor coordenação, adaptação a avanços tecnológicos e ainda um reforço da cibersegurança”, explicou. “Mas também temos que avançar na literacia financeira, dar prioridade à educação financeira para que a população vá conhecendo e sabendo utilizar os sistemas que vão sendo implementados”, disse.

Intervindo no mesmo encontro, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, disse que o que aconteceu nos últimos anos no setor financeiro internacional criou uma situação de desconfiança da população relativamente à banca. Por isso, disse, é importante refletir sobre “que tipo de sistema financeiro se quer”, em termos de “otimização da utilização da poupança, da promoção da capacidade empresarial e do investimento” para evitar que haja sistemas “muito sofisticados a nível de produtos, mas não tendo capacidade para promover desenvolvimento na escala desejada”.

Um exemplo é o microcrédito, que “nunca pegou” no hemisfério norte, não por não haver dinheiro, mas talvez “por não haver disposição para ensinar o que fazer com esse dinheiro”. “Temos que perguntar se por vezes não perdemos de vista que um sistema financeiro tão hábil a ser conselheiro das grandes empresas, e muito pouco capaz de dar aconselhamento às PME ou empresas nascentes”, disse.

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