O chefe de Estado cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, defendeu esta terça-feira uma regulação no setor do ensino superior, recusando a resolução pela via administrativa do problema da proliferação de universidades no país.

O Presidente da República, que falava à imprensa durante uma visita à universidade pública de Cabo Verde (Uni-CV), disse que há uma “coexistência boa” entre a universidade pública e as privadas, mas salientou que deve ser analisada a dimensão institucional do ensino superior no país.

Além da universidade pública (Uni-CV), Cabo Verde tem mais oito universidades privadas, num total de nove estabelecimentos, número considerado elevado tendo em conta a dimensão do país.

Jorge Carlos Fonseca admitiu, também, que “pode ser que seja um número muito elevado”, mas considerou que o problema não deve ser resolvido meramente pela via administrativa.

“Deve haver um esforço de regulação do Estado”, mostrou, dizendo, porém, que a regulação não deve passar pela imposição do número de universidades no país.

“O mercado tem um papel a dizer, a qualidade das instituições deve ter alguma coisa a dizer. Entendo que na regulação, o papel do Estado deve ser orientar, propor, sugerir, apoiar, estimular, tendo em conta também as perspetivas de desenvolvimento do país”, reforçou.

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Considerando que o Estado deve apoiar aquilo que traz benefícios à sociedade cabo-verdiana, independentemente de ser público ou privado, Jorge Carlos Fonseca realçou, neste sentido, que a regulação deve avaliar as propostas de criação de universidades e de cursos.

Questionado se a fusão de universidades pode ser uma solução, Fonseca disse que “não é só uma” e considerou que o critério não deve ser apenas o público e o privado, mas também a qualidade e os resultados que cada instituição oferece à sociedade cabo-verdiana.

O chefe de Estado cabo-verdiano considerou ainda ser “importante e decisivo” o país priorizar áreas de formação, para evitar que muitos estudantes terminam o curso e ficam desempregados.

“Mas as universidades e o ensino superior não devem ver apenas isso. Não podemos ter uma visão muito redutora. Temos de ter uma perspetiva mais de longo prazo, mais ambiciosa”, pediu.

Na visita à Uni-CV, Jorge Carlos Fonseca fez uma avaliação do ensino superior em Cabo Verde, entendendo que o setor deve ser visto “sem dramatismo”, mas sublinhando que está num momento em que é preciso ser avaliado e reavaliado, por forma a ultrapassar os problemas.

E um dos principais problemas do ensino superior em Cabo Verde é a sustentabilidade financeira, com o Presidente a entender que é preciso “muita criatividade” para se encontrar formas alternativas de financiamento, através da elaboração e concretização de projetos e da cooperação internacional.

“Hoje em dia temos fenómenos de milhares de estudantes que se formem e não têm acesso ao emprego e ao mercado de trabalho, temos de incentivar mais a investigação, temos muitas universidades, pública e privadas, é preciso termos equilíbrio, saber qual o papel do Estado, a medida do seu financiamento. Tudo isso deve ser pensado, repensado, reavaliado”, disse.

O mais alto magistrado da Nação cabo-verdiana apelou ainda a abertura e diálogo para encontrar as melhores formas e os melhores modelos para o ensino superior num país com as características de Cabo Verde, arquipelágico, com muita juventude e que não tem muitos recursos.

“Sei que os Governos de Cabo Verde têm feito um esforço meritório, pensando todos em conjunto conseguiremos encontrar as melhores saídas e soluções para que tenhamos um ensino superior de qualidade e ao serviço do desenvolvimento da democracia cabo-verdiana”, prosseguiu o chefe de Estado, que vai visitar outras universidades na cidade da Praia.

Segundo dados da Direção Geral do Ensino Superior (DGES) Cabo Verde tem nove universidades, com cerca de 12 mil alunos, em Cursos de Estudos Superiores Profissionalizantes, bacharelato, complemento de licenciatura, licenciatura, mestrado e doutoramento.