Espertinhos, estes Arctic Monkeys. Agora que já deram tempo para que toda a gente perceba que o último disco, Tranquility Base Hotel + Casino, é aquilo a que na gíria se costuma chamar de discão, discaço, disco do catano ou “já ouviste este disco? Mas já ouviste bem?”, agora que já nos deixámos todos de tretas e parámos de choramingar porque isto tem pouca distorção e já não há aquela coisa dos garotos rock’n’roll a fugir da polícia numa noite de má vida; agora sim, os rapazes decidiram que era hora de nos darem um brinde, um docinho em forma de mini doc, aquele formato tão pop mas não muito, só o suficiente para congregar as massas — e indie que chegue para manter o estatuto inalterável.

Os Arctic Monkeys mostram um pouco dos bastidores do disco. Não é um making of, porque isso precisava de muito mais tempo. É uma amostra controlada do íntimo de uma banda. E para nós, que somos todos voyeurs (claro que somos, todos, uns mais, outros menos, mas somos todos), estes 12 minutos valem bem a pena.

Quem é que não quer saber mais sobre uma banda rock? Saber mais é ir além dos discos, das redes sociais, das entrevistas controladas, das sessões de fotografia produzidas e dos concertos, onde os músicos ficam sempre lá tão longe. 12 minutos não é muito tempo. Mas, ao mesmo tempo, 12 minutos chegam para percebermos (pelo menos) isto:

  • Alex Turner tem ainda mais pinta do que julgávamos porque, além de tudo, sabe tocar bateria e cantar ao mesmo tempo. Sinceramente…;
  • Já tínhamos isto como certo, mas conferir é bonito: é preciso muito mais do que quatro músicos que aparecem nos retratos para fazer um disco repleto de boas canções, técnica, uma produção ali no ponto e que consegue criar um mundinho muito próprio;
  • Mesmo em ensaios ou gravações, manter a classe é importante, porque nunca se sabe quando é que alguém está a filmar. Ora tendo isto em conta, uma t-shirt da laranja mecânica ou uma camisa com o padrão certo como a do baixista Nick O’Malley fazem toda a diferença;
  • Matt Helders é um grande baterista, até quando toca pouco (está bem, não é novidade, mas é para REFORÇAR a ideia);
  • A diferença que faz gravar um álbum num sítio confortável, afastado da loucura do dia-a-dia e esse tipo de coisas que a malta do rock diz estragar a criatividade. As melhores imagens foram captadas nos estúdio La Frette, instalados numa antiga mansão nos arredores de Paris;
  • Na dúvida, e se vamos cantar umas canções e gravá-las, tentemos usar o nosso tom natural, porque o esforço é menor, o resultado final é sempre melhor e como estamos à vontade é provável que consigamos até dançar em frente ao microfone;
  • Fazer música dá muito trabalho. Dá mesmo muito trabalho;
  • James Ford, o produtor, aquele de caracóis desgovernados que aparece junto à enorme mesa de mistura, tem um ouvido que vale ouro. E toca guitarra. E bateria. E piano. E deve ter ótimas histórias para contar;
  • Ben Chapell, o realizador destes 12 minutos, já fez muita coisa com músicos, incluindo os Arctic Monkeys. Mas alguém lhe dê os meios necessários para fazer um filme em que uma espécie de James Bond entra num cenário próximo de 2001: Odisseia no Espaço. Se ele não conseguir, alguém aproveite a ideia, talvez funcione;
  • Há sempre qualquer coisa para ver depois dos créditos finais. Mesmo que sejam uns curtos segundos.

E pronto. Agora que aqui chegámos, é ver. Está aqui. Está todo aqui:

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