Quatro organizações de defesa dos direitos humanos pediram à Turquia para solicitar “urgentemente” ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, uma investigação “oportuna, credível e transparente” da ONU ao desaparecimento e possível assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi. Amnistia Internacional, Human Rights Watch, Comité para a Proteção dos Jornalistas e Repórteres Sem Fronteiras acreditam que essa é “a melhor garantia contra um encobrimento saudita ou de tentativas de outros governos de varrer o assunto para debaixo do tapete para preservar negócios lucrativos com Riade”.

O documento publicado esta quinta-feira faz referência às suspeitas de encobrimento dos Estados Unidos ao possível papel da Arábia Saudita no desaparecimento de Jamal Khashoggi. Os dois países mantêm relações diplomáticas muito próximas. Donald Trump escreveu no Twitter que, em conversa telefónica, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman “negou totalmente qualquer conhecimento sobre o que aconteceu no seu consulado turco”. Mas no mesmo dia que Mike Pompeo, secretário de Estado norte-americano, foi a Riade conversar com ele sobre Jamal Khashoggi, os Estados Unidos receberam um pagamento de 100 milhões de dólares que, segundo o Departamento de Estado, são para o plano de estabilização no nordeste da Síria contra o Estado Islâmico.

Estados Unidos pedem à Turquia a gravação da morte do jornalista Jamal Khashoggi

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As quatro organizações também pedem a António Guterres que nomeie um investigador criminal sénior com “grande experiência em casos internacionais para liderar a equipa”. E solicitam que, no final da investigação, seja publicado um relatório com as conclusões: “A família de Jamal Khashoggi e o resto do mundo merecem saber toda a verdade sobre o que lhe aconteceu. Explicações parciais e investigação de apenas um lado da história pela Arábia Saudita, que é suspeita de envolvimento, não são boas o suficiente. Apenas as Nações Unidas têm a credibilidade e a independência necessária para expor os cabecilhas por detrás do desaparecimento forçado do Khashoggi e de levá-los à justiça”, explicam.

Para estas organizações, a investigação saudita não basta: “Dado o possível envolvimento das autoridades sauditas no desaparecimento forçado e possível assassinato de Khashoggi, e a falta de independência do sistema de justiça criminal da Arábia Saudita, a imparcialidade de qualquer investigação pelas autoridades sauditas estaria em questão”, diz o comunicado. E completa: “Isto demonstra claramente quão imperativa é uma investigação imparcial e independente para estabelecer a verdade e garantir a justiça para Jamal. Se a ONU está realmente mobilizada para combater a impunidade por crimes contra jornalistas, então, no mínimo, deve estar totalmente envolvida num dos casos mais chocantes e extremos nos últimos anos ao realizar esta investigação”.

Sobre a possibilidade de a Arábia Saudita não ter qualquer responsabilidade no desaparecimento do jornalista, o comunicado diz que então “tem mais a ganhar ao ver uma investigação imparcial da ONU determinar o que aconteceu”: “Sem um inquérito credível da ONU, haverá sempre uma nuvem de suspeita a pairar sobre a Arábia Saudita, não importa o que a liderança diga para explicar como Khashoggi desapareceu”.