Antes do dérbi de Milão, este domingo, Luciano Spalletti tinha lançado um desafio aos seus jogadores: que provassem que são “doidos pelo Inter” frente ao rival Milan. O repto, em jeito de enredo de filme dos anos 90, estava criado. Faltava o protagonista. Mauro Icardi achou que o papel lhe assentava como uma luva e, depois de ter andado a fugir dele durante todo o jogo, assumiu-o, enfim. Mas só no último minuto da partida.

Até lá, foi preciso esperar e a bom esperar. Apesar de uma primeira parte com alguns laivos de bom futebol, as duas equipas souberam sempre anular-se — e, quando não souberam, recorreram à falta, muitas vezes a roçar a violência.

O Inter começou por fazer um jogo de paciência, a jogar a parir de trás e à espera do rival Milan, que começou por tentar controlar a bola. A tal paciência, para muitos uma virtude, quase deu frutos aos 12 minutos. Brozovic conduziu as operações pela esquerda, cruzou para Icardi, que se esticou ao segundo poste, fazendo a bola entrar colada ao teto da baliza. Problema: entre um jogador e outro houve Vecino, que penteou a bola ao de leve e colocou o companheiro de equipa em fora de jogo.

Nada feito para os da casa. Mas o lance pareceu dividir a primeira parte em duas: a partir daqui, as duas equipas trocaram de papel e ficou o Milan enfiado no seu meio-campo só ferindo os nerazzurri em cima do intervalo.

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Carregou o Inter, que ainda voltou a criar perigo através da cabeça de Perisic, mas Donnarumma fez aquilo que fez durante todo o jogo: palmada na bola para afastar o perigo. Um jogo que ainda se chegou a temer que fosse de prudência foi ganhando algum rasgo. Já depois do golo anulado, o Inter ainda acertou no poste através de um remate desajeitado de De Vrij: o holandês recebeu mal a bola depois de um ressalto e não conseguiu melhor do que fazê-la embater nos ferros.

Já muito perto do descanso, foi a vez de Vrsaljko mostrar por que o Inter o foi buscar ao Atlético de Madrid: fez uma espécie de centro-remate pela direita, deixando Icardi a centímetros do golo — o argentino falhou por muito pouco.

O Milan continuava sem saber o que fazer da bola no último terço do campo e a única vez em que o descobriu teve o mesmo destino do rival no início da partida. Suso levantou a bola pela direita, Musacchio, no poste contrário, conseguiu bater Handanovic, mas, antes disso as costas de Romagnoli desviaram a bola e deixaram o argentino em fora de jogo. O auxiliar levantou a bandeira e foi tudo a zeros para o intervalo.

E se o jogo tinha sido vibrante na primeira parte, o mesmo não se pode dizer da segunda. Nenhuma das duas equipas parecia conseguir alinhar dois passes seguidos com perigo, pelo menos até Perisic colocar o golo nos pés de Politano — o avançado é que tentou rematar de primeira, agarrou mal a bola e o tiro saiu ao lado.

Emoção procurava-se — assim como bom futebol. E, já agora, pernas. É que vários jogadores das duas equipas pareciam não aguentar o ritmo do jogo, o que contribuiu, definitivamente, para a sua perda de qualidade. A partida parecia talhada para o empate sem golos mas, de súbito, acendeu-se a chama da emoção. No último minuto, Vecino encostou à linha direita e de lá tirou um cruzamento à medida de Icardi. O ponta de lança argentino, que pouco tinha tocado na bola até então, mostrou que basta acertar-lhe bem uma vez: quando viu a bola chegar na sua direção, fugiu do defesa que o estava a marcar e, com o instinto na ponta da cabeça, atirou para a baliza onde já não estava Donnarumma.

O golo foi festejado como se festejam as grandes conquistas. É verdade que o grande título anda arredado de Milão desde 2010/11, é verdade que o jogo não deslumbrou. Mas poucas coisas serão tão saborosas como vencer um grande rival no último minuto. Com essa vitória, o Inter subiu à terceira posição, recuperando dois pontos à Juventus de Ronaldo. O Milan mantém-se a meio da tabela, em 12.º lugar.