O primeiro-ministro, António Costa, assegurou esta quarta-feira, no Porto, que nunca comentará qualquer atuação de um Presidente da República com quem tenha trabalhado por considerar que “é uma questão de sentido de Estado”.

Apesar de ainda não ter lido o livro do antigo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, que o acusa de “empurrar para a frente os problemas de fundo da economia portuguesa”, António Costa sublinhou que as conversas com este ou outro chefe de Estado serão “exclusivamente a dois”.

“Eu não li o livro do professor Cavaco Silva, mas há uma coisa que posso, absolutamente, garantir: é que todas as conversas que mantive com o atual Presidente da República, com o anterior Presidente da República, ou que venha a manter com futuros Presidentes da República com quem venha a trabalhar, serão conversas a dois, exclusivamente a dois, e nunca com mais alguém para além dos dois. Portanto, nunca comentarei qualquer conversa que tenha mantido ou não tenha mantido”, acentuou.

Aos jornalistas, o chefe do executivo garantiu que não seguirá o exemplo de Cavaco Silva que publica agora o segundo volume do seu livro de memórias, “Quintas-feiras e outros dias”.

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O primeiro-ministro disse ter esperança de que, quando se dedicar a outra vida que não a atual, tenha coisas mais interessantes para fazer do que transmitir as suas memórias.

“A vida política não se faz de memórias, faz-se de vontades, de convicções, de contemporaneidade e de futuro. As minhas memórias, ficarei com elas. Agora há uma coisa que é certo: é que nunca, em circunstância alguma, quebrarei aquilo que considero que é o dever de lealdade de qualquer primeiro-ministro, que é as conversas com os Presidentes da República serem só entre os dois e mais ninguém”, defendeu.

O chefe de governo falava à margem de uma sessão que contou ainda com a presença da ministra da Cultura e na qual foi anunciado o estabelecimento de dois protocolos que permitirão manter a coleção Miró no Porto por 25 anos.

No segundo volume do livro “Quintas-feiras e outros dias”, o antigo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, acusa António Costa de ser “um mestre a gerir a conjuntura política em capitalizar a aparência de ‘paz social’ e em empurrar para a frente os problemas de fundo da economia portuguesa”.

Cavaco Silva que fala da formação da geringonça e dos primeiros meses do Governo liderado por António Costa, mostra-se convicto que “a não ser que algo de muito extraordinário acontecesse, o seu governo [António Costa] completaria a legislatura”.

Sobre os nomes apresentados por António Costa para integrar o Governo, o antigo Presidente da República confessa ter tido reservas em relação ao novo ministro da Defesa, Azeredo Lopes, já que tinha informações que o apontavam como “uma pessoa difícil, desagradável no trato e de linguagem um pouco agressiva”, o que o levava a recear “dificuldades nas suas relações com as chefias militares e em reconhecer devidamente a especificidade da condição militar”.

Sobre os 105 dias em que ‘coabitou’ com o Governo da geringonça, Cavaco Silva confessa ter sido um tempo demasiado curto para ficar com um bom conhecimento da personalidade de António Costa.

“Retive a ideia de que era um homem pessoalmente simpático e bem-disposto, de sorriso fácil. Um hábil profissional da política, um artista da arte de nunca dizer não aos pedidos que lhe eram apresentados. Uma habilidade patente na sua política de equilíbrio entre a satisfação dos interesses do PCP e do BE e as exigências de disciplina orçamental da Comissão Europeia”, escreve.

António Costa, continua, perante os problemas complexos e graves mantém “uma atitude descontraída, sem revelar grande preocupação, como se tudo fossem meras trivialidades”.