O presidente do MLSTP, líder da oposição em São Tomé e Príncipe, desafiou esta quarta-feira o primeiro-ministro cessante, vencedor das legislativas, a regressar ao país para conversar sobre a proposta para a formação de um governo de base alargada.

“Os são-tomenses todos devem conversar, mas conversar aqui no país e nós não podemos admitir que altos dirigentes, em gestão, do nosso país estejam a passear pelo mundo fora e a dar entrevistas nas capitais europeias e africanas. Quem quiser conversar, venha para São Tomé para que se converse”, defendeu Jorge Bom Jesus, presidente do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe – Partido Social Democrata (MLSTP-PSD), em conferência de imprensa na capital são-tomense.

O líder do maior partido da oposição em São Tomé e Príncipe respondia assim ao primeiro-ministro cessante e presidente da Ação Democrática Independente (ADI), Patrice Trovoada, que em entrevista à Lusa, na semana passada, defendeu a necessidade de um “maior entendimento” entre os partidos para governar o país e disse encarar “tranquilamente” a possibilidade de não liderar um próximo executivo.

MLSTP e a coligação PCD-UDD-MDFM, que em conjunto conquistaram 28 dos 55 lugares no parlamento nacional, garantindo assim maioria absoluta para a oposição, reiteraram hoje a garantia de “sustentabilidade parlamentar ao futuro governo” e instaram o Presidente da República, Evaristo Carvalho, a demitir o executivo em funções, liderado por Patrice Trovoada.

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“Já solicitámos um encontro ao senhor Presidente da República no sentido de podermos manifestar a nossa preocupação enquanto garante do regular funcionamento das instituições. A nossa preocupação é porque o país está votado ao abandono pelo Governo em gestão”, disse Jorge Bom Jesus.

“O senhor primeiro-ministro em gestão saiu do país ainda antes da divulgação dos resultados oficiais. Muitos ministros importantes estão fora do país, alguns que aqui estão já não põem os pés nos seus respetivos ministérios. Este país, já de si bastante degradado, está neste momento parado e é preciso encontrar-se uma solução”, acrescentou o presidente do MLSTP.

Em conferência de imprensa conjunta com representantes da coligação, o líder do MLSTP defende que “não se pode continuar a prolongar a agonia deste povo que pediu mudanças e quer ver os seus problemas resolvidos rapidamente”, nomeadamente o dos cortes de energia elétrica, “cada vez mais prolongados”.

Para Carlos Neves, líder da UDD, Patrice Trovoada deveria pôr, por iniciativa própria, o cargo à disposição depois de conhecidos oficialmente os resultados eleitorais, na sexta-feira passada.

“Não o tendo feito, esperávamos que o senhor Presidente o demitisse. Não é sério que um primeiro-ministro que tenha perdido a legitimidade popular continue por aí a dar entrevistas e a falar pelo mundo fora em nome do país, ele já não tem legitimidade para isso”, considerou Carlos Neves.

Pelo menos na semana passada, Patrice Trovoada esteve em Portugal, onde anunciou que iria passar por países do Médio Oriente e da Europa, antes de regressar novamente a Portugal, mas garantiu que voltará para São Tomé.

“O primeiro-ministro deve ser demitido, o seu governo deve cair e entrar em gestão até a tomada de posse do novo governo. E nós esperamos que o senhor Presidente da República entenda isso e que, por respeito a este povo, tome as medidas necessárias”, sublinhou.

São Tomé e Príncipe realizou eleições legislativas, autárquicas e da região autónoma do Príncipe em 07 de outubro. O ADI ganhou com maioria simples de 25 deputados, o MLSTP conseguiu 23 assentos, a coligação PCD-MDFM-UDD, cinco, e foram eleitos dois deputados independentes pelo distrito de Caué.