Os mais de 100 sinos do Palácio Nacional de Mafra começaram esta quarta-feira a ser apeados das torres pela primeira vez, ao fim de mais de 200 anos, para serem analisados e restaurados, num investimento de 1,5 milhões de euros.

Sob o olhar dos visitantes e de residentes, uma grua foi esta quarta-feira de manhã instalada na frente do palácio e começou a retirar os sinos maiores, o primeiro deles a pesar mais de sete toneladas.

“É historicamente importante, porque o carrilhão foi sendo intervencionado ao longo destes séculos, mas os sinos grandes são retirados pela primeira vez desde 1730”, explicou à agência Lusa o diretor do palácio, Mário Pereira.

O diretor da obra, Filipe Ferreira, afirmou que entre a presente quarta-feira e quinta-feira deverá ficar concluído o trabalho para retirar os sinos maiores da torre norte.

Além de apear os sinos para virem a ser intervencionados, o consórcio responsável pela empreitada tem já em curso o tratamento da pedra, o restauro dos cabeçalhos, estruturas de madeira que suportam os sinos, e a construção de novas estruturas de suporte da torre norte.

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Os técnicos já começaram também a montar os andaimes para iniciar o mesmo processo na torre sul.

Aquele especialista em engenharia civil e em conservação e restauro do património adiantou que a equipa encontrou alguns dos sinos em “muito mau estado”, em risco de se “desprenderem da estrutura e criarem um efeito de dominó”, que poderia resultar na queda de sinos na frente do palácio.

“Estou tão confiante no bom curso desta obra que já tenho alguns carrilhonistas convidados para o concerto inaugural em setembro do próximo ano”, avançou Mário Pereira.

A empreitada de requalificação dos sinos e carrilhões do palácio, onde houve interdições de circulação por ameaçarem cair com o mau tempo do último inverno, começou no início do verão.

As obras arrancaram depois de ter sido dado o visto do Tribunal de Contas para a assinatura do contrato de consignação com o empreiteiro, a empresa Augusto de Oliveira Ferreira Lda, de Braga, e de os ministérios das Finanças e da Cultura terem autorizado a repartição, por 2018 e 2019, dos encargos, no valor de 1,5 milhões de euros.

O concurso público tinha sido lançado em novembro de 2015.

O Governo reconheceu a “urgente necessidade de proceder à reabilitação” dos sinos e carrilhões “face ao avançado estado de degradação”, assim como os “riscos de segurança não só para o património em si, como para os utentes do imóvel e transeuntes da via pública”.

Os sinos, alguns a pesarem 12 toneladas, estão presos por andaimes desde 2004, para garantir a sua segurança, e as respetivas estruturas de suporte, em madeira, se encontram apodrecidas.

Por isso, foram classificados como um dos “Sete sítios mais ameaçados na Europa” pelo movimento de salvaguarda do património Europa Nostra.

Os dois carrilhões e os 119 sinos, repartidos por sinos as horas, da liturgia ou dos carrilhões, constituem o maior conjunto sineiro do mundo, sendo, a par dos seis órgãos históricos e da biblioteca, o património mais importante do palácio. Em 2017, o palácio foi visitado por 377 mil pessoas.