90 milhões de dólares. Foi este o valor que a Google acertou pagar a Andy Rubin para que criador do software Android — o sistema operativo móvel mais utilizado no mundo — abandonasse a empresa. Desde 2014 que Rubin tem vindo a receber (e ainda recebe) dois milhões de dólares por mês, no âmbito deste acordo. “Quero desejar ao Andy o melhor para o que vem a seguir” disse na altura Larry Page, chefe executivo da Google. Agora, uma investigação do New York Times mostra algo que a gigante tecnológica nunca tornou público: uma funcionária acusou Andy Rubin de assédio sexual, a Google terá investigado o caso, concluiu que as acusações eram credíveis, mas protegeu o empresário, pagando até pela sua saída.
O caso remonta a 2012, quando Rubin mantinha, alegadamente, um relacionamento extraconjugal com uma funcionária da equipa da Android, diz o The New York Times, que obteve documentos corporativos e judiciais e falou com mais de 30 pessoas da empresa — ainda que a maior parte delas tenha preferido manter o anonimato por acordos de confidencialidade ou por receio de represálias. Uma das políticas da Google é que os funcionários informem a empresa quando mantêm algum relacionamento com alguém que, direta ou indiretamente, está ligado à instituição. Segundo o jornal norte-americano, não foi o que aconteceu neste caso.
Em 2014, e depois de o relacionamento entre os dois ter terminado, a mesma mulher decidiu quebrar o silêncio e acusou o empresário de a ter forçado a fazer sexo oral num quarto de hotel em março de 2013, de acordo com dois executivos que tiveram conhecimento do alegado assédio. Foi apresentada uma queixa às autoridades e ao departamento de recursos humanos da Google, que abriu uma investigação ao caso. Não há informações sobre a natureza da acusação e os termos financeiros da mesma.
Em setembro desse ano, algumas semanas após a abertura de um inquérito, a Google terá considerado que a acusação era credível, mas Andy Rubin negou sempre as acusações de que estava a ser alvo. O porta-voz do empresário, Sam Singer, afirmou que o criador do Android nunca foi informado de qualquer conduta inapropriada na empresa e disse ainda que o Rubin deixou a empresa por vontade própria. “Qualquer relacionamento que Rubin teve na Google foi consensual”, sublinhou.
Ao mesmo tempo que tudo isto acontecia, a Google pagava 90 milhões de dólares a Andy Rubin e terá pedido para o empresário sair, com um acordo que o impedia de se juntar à concorrência ou revelar qualquer detalhe publicamente. Na altura em que abandonou a Google, o empresário disse que a sua saída se devia à vontade em investir em projetos na área da robótica. A empresa não deu mais explicações.
Além de Andy Rubin, o New York Times revelou que há mais dois executivos que a Google terá protegido na última década, depois de terem sido acusados de assédio sexual. Em todos os casos, a decisão foi semelhante: o motivo de saída foi encoberto e os empresários receberam grandes quantias de dinheiro, quando a empresa não tinha a obrigação de fazer qualquer pagamento.
Eileen Naughton, vice-presidente de operações da Google, disse ao jornal norte-americano que a empresa tem levado cada vez mais a sério o assédio e analisa cada uma das queixas que são recebidas. “Investigamos e tomamos medidas, incluindo a demissão”, disse. “Nos últimos anos, adotamos uma postura particularmente rígida quanto à conduta inadequada de pessoas em posições de autoridade. Estamos a trabalhar duramente para continuar a melhorar a forma como lidamos com este tipo de comportamentos”, referiu.