Uma onda de ataques rebeldes e de mílicas na República Democrática do Congo (RDC) fez aumentar o números de casos de ébola no país. Em três meses foram registadas 157 mortes, 122 das quais de ébola, avança esta quinta-feira o jornal The Guardian.
O número total de casos prováveis e confirmados subiu para 244, com 63 pessoas a recuperarem da infeção. Este último surto começou em agosto deste ano e está centrado nas províncias de Ituri e Kivu do Norte, ambas devastadas por rebeliões e assassinatos étnicos desde as duas guerras civis que afetaram as regiões na década de 90.
No sábado, na cidade de Butembo, a milícia matou dois membros do exército do Congo. No mesmo dia, na cidade de Beni, foram mortas mais 12 pessoas: 11 civis e 1 soldado.
Os rebeldes atacaram também posições do exército congolês e sequestraram 12 crianças entre os cinco e os dez anos. Esta terça-feira, outras cinco pessoas morreram num ataque perto de Goma, a capital de Kivu do Norte.
Ainda não é claro quem realizou estes ataques. No entanto, sabe-se que as Forças Democráticas Aliadas (ADF) e um grupo islâmico, sediado no Uganda e ativo no leste da RDC, entraram nestas últimas semanas em confronto com as tropas congolesas.
A crescente onda de violência tem preocupado as autoridades internacionais de saúde. No dia 17 de outubro, o comité de Emergência da Organização Mundial de Saúde (OMS) decidiu, numa reunião em Genébra, na Suiça, que o surto de ébola na RDC não era, ainda, uma ameaça em termos de saúde pública internacional. Ainda assim, em comunicado, a OMS afirmou estar ”profundamente preocupada”.
No twitter, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesu, demonstrou, na altura, igual preocupação e afirmou que ”continuam a trabalhar com vigilância para acabar o surto”.
The IHR Emergency Committee on #Ebola in #DRC met today and advised me not to declare a public health emergency of international concern. I have accepted that advice. WHO remains deeply concerned by the outbreak and will continue working with vigilance to bring it to an end. pic.twitter.com/6LOgn2nsND
— Tedros Adhanom Ghebreyesus @ #UNGA (@DrTedros) October 17, 2018
Os ataques têm vindo a interromper os tratamentos para combater a doença e a adiar enterros e programas de vacinação nas últimas semanas.
De acordo com o mesmo jornal, os analistas culpam os atores políticos pelo ressurgimento da violência e a instabilidade criada, devido à aproximação das eleições de dezembro.
Apesar dos frequentes avisos para evitar a contaminação, há alguma parte da população que continua a ter comportamentos de riscos. Cerca de 22 homens desenterraram um corpo de uma vítima de ébola para se certificarem de que as autoridades sanitárias teriam retirado os órgãos, confirmou o ministério da saúde do país. No domingo, foram vacinados.
O presidente da câmara de Beni, defende que o facto de a população se recusar a ser vacinada não ajuda no combate ao surto. ”Combater o ébola é uma responsabilidade da comunidade, mas alguns populares rejeitam os conselhos das autoridades de saúde, o que faz com que a taxa de propagação da doença seja alta”, relata Nyonyi Masumbuko Bwanakawa ao jornal.
”Combater o ébola é uma responsabilidade da comunidade, mas alguns populares rejeitam os conselhos das autoridades de saúde, o que faz com que a taxa de propagação da doença seja alta”, conta o presidente da câmara de Beni ao The Guardian.
Pelo que a OMS informou é expectável que o surto dure vários meses e que se alastre do Nordeste do Congo ao Uganda e a Ruada. A doença apareceu pela primeira vez no rio ébola na República Democrática do Congo, em 1970. Até à data, o maior surto registado fez 11.300 mortos entre a Guiné, a Libéria e a Serra Leoa, entre 2014 e 2016.