O porta-voz da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, afirmou esta quinta-feira que as negociações de paz com o Governo continuam, mas as reclamações sobre as eleições autárquicas podem ter um efeito negativo.

“As negociações são um processo, estão em curso, só estamos a ter esses reveses que podem vir a influenciar, de facto, de forma negativa [o processo negocial]”, declarou José Manteigas à comunicação social.

O porta-voz respondia a perguntas dos jornalistas sobre o processo de paz em Moçambique, no final de uma declaração do coordenador interino da Comissão Política da Renamo, Ossufo Momade, sobre o anúncio na quarta-feira dos resultados das eleições autárquicas pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).

O porta-voz da Renamo assinalou que “os sobressaltos” registados nas eleições autárquicas do dia 10 deste mês podem afetar negativamente as negociações de paz. “Até aqui estamos em processo de negociações, mas sentimos que estes sobressaltos podem criar-nos algum problema”, disse José Manteigas.

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Na quarta-feira, o mandatário da Renamo junto aos órgãos eleitorais, André Majibire, disse à Lusa que o partido vai interromper temporariamente as negociações de paz para “gerir o conflito eleitoral”. “Não queremos misturar as coisas. Achamos por bem que devemos parar e gerir o conflito eleitoral, porque neste escrutínio houve muita fraude e nós submetemos vários recursos”, declarou o mandatário.

O partido prosseguiu, não vai “interromper definitivamente” as negociações, mas neste momento está preocupado com o processo eleitoral. “Queremo-nos concentrar primeiro na resolução destes conflitos eleitorais”, acrescentou André Majibire, lembrando que as eleições têm sido sempre fonte de conflito no país.

O coordenador interino da Renamo exigiu esta quinta-feira uma comissão de inquérito às eleições autárquicas do dia 10 em cinco municípios, com o envolvimento da ONU, qualificando o escrutínio como uma “autêntica farsa”.

“Nós, a Renamo, exigimos uma comissão de inquérito independente que irá trazer a verdade eleitoral”, declarou Ossufo Momade, falando por telefone, a partir de Gorongosa, centro de Moçambique, para a comunicação social presente na sede da Renamo em Maputo.

A comissão de inquérito independente vai averiguar o processo eleitoral em cinco municípios: Monapo, Alto Molocué, Marromeu, Moatize e Matola, afirmou o coordenador interino da Comissão Política do principal partido da oposição.

A CNE confirmou na quarta-feira a vitória da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, em 44 municípios nas eleições autárquicas e dos dois principais partidos da oposição em nove.

O Mapa de Centralização Nacional e do Apuramento Geral dos Resultados das Eleições Autárquicas, lido pelo presidente da CNE, Abdul Carimo, dá a vitória à Renamo em oito municípios e ao Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro maior partido no município da Beira, centro do país.

Os resultados confirmam os dados apurados pelas comissões distritais de eleições das 53 autarquias do país. Com a votação que conseguiu no escrutínio do dia 10, a Frelimo perdeu cinco dos 49 municípios que controlava antes das eleições, enquanto a Renamo aumentou de um para oito o número de municípios em que vai governar.