Todos os investimentos estão em marcha para que o Norte de Moçambique comece a produzir gás natural liquefeito dentro de cerca de quatro anos, disse em entrevista à Lusa o vice-ministro da Energia e Recursos Minerais, Augusto de Sousa.

O período está assinalado no calendário: “continuamos com 2022, finais de 2023, como previsão e está tudo a correr muito bem para que nessa altura tenhamos a plataforma a funcionar”, explicou.

A plataforma flutuante Coral Sul, a estacionar na Área 4 da bacia do Rovuma, pertencente a um consórcio liderado pela Eni e Exxon Mobil, vai ser a primeira infraestrutura a extrair gás natural de poços abertos no fundo do oceano Índico.

A decisão final de investimento foi anunciada em 2017 e a plataforma está a ser construída num estaleiro na Coreia do Sul.

Depois, para 2025, está previsto o arranque da exploração dos poços da Área 1, que fica mesmo ao lado, mas cuja zona industrial vai ficar em terra e está já a ser preparada na península de Afungi, Cabo Delgado, por um consórcio liderado pela Anadarko.

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A decisão final de investimento (FID, na sigla inglesa) deste consórcio está prevista para “o primeiro semestre do próximo ano”, referiu Augusto de Sousa.

As obras que no terreno para receber o gás da Área 1 são sinal de que o investimento é irreversível.

Mesmo assim, o dia em que a FID for anunciada, vai ser uma data para festejar, sublinha o governante – aquela é uma das siglas que causa mais ansiedade na gíria do gás natural, dado o potencial de investimento que acarreta. “É como um jogo de futebol: todos estamos certos que vamos ganhar, mas, quando marcamos um golo, damos um pulo de alegria e certamente vai ser [motivo de alegria] para todos nós, para o país de uma forma geral”, destacou Augusto de Sousa.

Nada afeta o cronograma para ver o gás fluir, nem uma onda de violência, que dura há um ano, em aldeias remotas da região onde decorrem os investimentos e que já provocou perto de 100 mortos entre civis e militares. “Nada atrasou os trabalhos. Neste momento está tudo dentro do cronograma”, referiu o vice-ministro, para quem os ataques parecem ser uma situação que, para os investidores, “vai ser controlada com facilidade”.

“Com o gás, vamos dar um pulo qualitativo e os nossos inimigos estão sempre atentos (…), querem ir no sentido contrário, mas cabe-nos a nós ter capacidade de reagir”, acrescentou, sem especificar quem são os inimigos, considerando que “nas áreas de negócio, é sempre assim”.

A plataforma da Área 4 vai produzir 3,4 milhões de toneladas de gás liquefeito por ano, mas da fábrica da Área 1 vai sair o triplo, que além da exportação vai também alimentar projetos domésticos.

Augusto de Sousa entende que a utilização do gás para a produção de eletricidade deve ser uma prioridade, porque “todas as outras indústrias precisam de energia”.

“Se conseguirmos a produção de energia a um preço barato, viabilizamos as outras indústrias que também que também precisam de energia”, sublinhou.

Além disso, o Plano Diretor de Desenvolvimento das Infraestruturas de Eletricidade determina que mais de metade vai ser produzida a partir de gás natural dentro de 25 anos.

“Se nós conseguirmos um preço preferencial [junto das concessionárias de exploração de gás], isso vai ser uma mais-valia” para todo o país”, realça.

Já há um preço indicativo para o gás que Moçambique vai usar na Área 1 para produzir eletricidade, mas ainda vai ser negociado, referiu.

Augusto de Sousa adiantou à Lusa que, até final do ano, o Ministério dos Recursos Minerais e Energia vai operacionalizar uma Unidade de Planeamento Energético porque há outros projetos ancorados na fatia de gás natural para uso doméstico.

Já está aprovada uma fábrica de fertilizantes da empresa norueguesa Yara, outra da anglo-holandesa Shell para produzir combustíveis e um terceiro projeto da GL Energy Africa, empresa britânica, que vai transformar gás em eletricidade – e mais projetos podem estar na calha.

Representantes de várias entidades públicas cruzam-se “à porta do ministro, cada um com o seu projeto” baseado no gás natural, “mas tem de haver um ‘ranking’ sobre o que é prioritário para o pais”, a partir de uma avaliação por mérito dos projetos, que será feita por essa nova unidade, referiu.

“Cada setor puxa para o seu lado. Temos de ter capacidade de planificação”, sublinhou.

Augusto de Sousa vai mais longe e disse entender que a experiência de Moçambique, mostra que este trabalho de preparação de projetos deve ser feito antes das descobertas de gás e petróleo para dar maior poder negocial ao Estado.

Uma lição a aplicar agora, numa altura em que Moçambique acaba de assinar contratos para prospeção e exploração noutras cinco áreas, no mar e em terra, válidos por oito anos.