O trânsito é um dos principais motivos de stress das sociedades modernas. Seja de manhã, na correria para chegar a horas ao trabalho, ou ao final do dia, na hora de ponta de regresso a casa, a verdade é que as horas perdidas a arrancar e travar nas estradas nem sempre têm explicação: na maioria das vezes, não há acidentes, obras ou desvios a provocar os habituais engarrafamentos. São filas de trânsito intermináveis que terminam assim como começaram – sem motivo aparente. Mas, afinal, existe uma justificação… científica.

No seu mais recente livro “Ciência na Cidade” – onde explica cientificamente vários acontecimentos do quotidiano, como o que se passa quando alguém toca num interruptor -, a física irlandesa Laurie Winkless dá uma justificação bastante simples para estes engarrafamentos aparentemente inexplicáveis: simplesmente “custa às pessoas manter uma velocidade constante”. Laurie Winkless chegou a esta conclusão depois de participar numa experiência de um grupo de investigadores japoneses da Mathematical Society of Traffic Flow que queria descobrir o que acontece ao fluxo de trânsito quando não existe uma supressão da estrada, ou seja, quando a superfície disponível para a circulação de carros não sofre uma redução.

Na experiência, foi pedido a 22 condutores que circulassem ao longo de um circuito circular a uma velocidade constante de 30 quilómetros/hora – mantendo sempre a mesma distância de segurança para o carro seguinte. Ainda que todos os participantes tenham seguido as instruções, o tráfego acabou mesmo por desacelerar e alguns carros ficaram até parados.

De acordo com o ABC, o grupo de investigadores concluiu que os condutores mantêm a velocidade à base de travagens: assim que se apercebem de que estão acima do limite de velocidade, seja por distração ou por qualquer outro motivo, travam para compensar, provocando a mesma reação no carro que segue atrás – que, por sua vez, provoca a travagem do carro anterior e assim sucessivamente até os veículos começarem mesmo a parar. “Não são os condutores que vão até ao engarrafamento, é o engarrafamento que vai até eles”, diz o jornalista Tom Vanderbilt no livro “Traffic”, onde também cita Laurie Winkless.

A teoria é apoiada pela Temple University, dos Estados Unidos, que acrescenta que estas “ondas de choque” acontecem mesmo que todos os condutores conduzam de forma perfeita. “Existe o hábito de culpar condutores concretos, mas as experiências demonstram que estas ondas aparecem mesmo que ninguém faça nada de mal”, explica Benjamin Seibold, matemático da universidade.

A teoria das “ondas de choque” dos engarrafamentos estende-se à grande maioria dos transportes e ainda à circulação das pessoas na rua já que, segundo conta Laurie Winkless, “independentemente da situação de partida, os resultados observados são sempre os mesmos”. Mas existe uma exceção: as formigas. A física irlandesa explica que não existem engarrafamentos na circulação destes insetos porque a distância de segurança é sempre mantida e as formigas têm tempo para desacelerar o passo em caso de obstáculo na travessia. “Acho que todos os condutores podem aprender algo com isto”, conclui Laurie Winkless.

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