Aos 13 anos, dita a tradição que os príncipes herdeiros do trono espanhol façam a sua primeira intervenção pública. Foi assim com Felipe VI, em 1981, e assim é com a princesa Leonor, em 2018, que, coincidência das coincidências, completa 13 anos no dia em que a Constituição espanhola completa 40.

Daí que, este ano, o aniversário da filha mais velha do rei Felipe VI e da rainha Letizia não tenha sido um aniversário qualquer. Foi a primeira vez que a princesa herdeira fez uma intervenção pública num ato oficial da coroa espanhola. No âmbito das celebrações do 40º aniversário da Constituição, a princesa Leonor foi a escolhida para recitar o primeiro artigo da Constituição, numa cerimónia onde a lei fundamental é lida pelas mais diversas personalidades, artigo a artigo.

[Hoje foi Leonor. Lembra-se da estreia de Felipe? Veja o vídeo:]

Ao seu lado estava o pai, o rei Felipe VI. Leonor subiu para um pequeno degrau que tinha sido estrategicamente colocado no púlpito e procedeu à leitura, que durou precisamente meio minuto. Com um ar sereno, a princesa das Astúrias levantava os olhos para a plateia sempre que pronunciava palavras-chave: “liberdade”, “pluralismo político”, “de onde emanam os poderes do Estado”, e “monarquia parlamentar”. Segundo o El Mundo, a rainha Letizia estava na primeira fila a acompanhar de perto a prestação da filha, pronunciando também ela cada palavra.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Artigo 1 º.
1. Espanha torna-se um Estado social e democrático de direito, que defende como valores superiores de sua liberdade legal, a justiça, a igualdade e o pluralismo político.
2. A soberania nacional pertence ao povo espanhol, de quem emanam os poderes do Estado.
3. A forma política do Estado espanhol é uma monarquia parlamentar.”

O momento foi simbólico, tanto por coincidir com a data de aniversário de Leonor como pela escolha daquele momento para primeira intervenção pública da herdeira do trono espanhol. Segundo o El Mundo, a Coroa recebeu durante a cerimónia o apoio de todos os poderes do Estado: executivo, legislativo e judicial. É que a coroa espanhola enfrenta um momento social complexo ao ser alvo de uma campanha de ataque por parte dos independentistas — o Podemos, que apoia o Governo no Parlamento, é um dos partidos que mais tem questionado a instituição.

“Alegra-me partilhar este dia especial com o Governo e todos os poderes do Estado”, disse o rei Felipe, ciente da importância da fotografia conjunta.

O facto de a princesa ter lido o primeiro artigo não foi por acaso. É que é lá que se descrevem os conceitos-chave do Estado que hoje em dia são postos em causa por algumas das forças políticas representadas no Parlamento espanhol. É o caso, claro, do ponto em que se diz que “a forma política do Estado é a monarquia parlamentar”.

À presidente do Congresso, Ana Pastor, coube a leitura do artigo 3, ao presidente do Senado o artigo 4, seguindo-se os presidentes do Tribunal Constitucional, do Conselho Geral do Poder Judicial, e a vice-presidente do Governo, que leu o artigo 7.

O primeiro discurso do pai

Também aos 13 anos, o pai de Leonor, o agora rei Felipe VI, teve o seu ritual de iniciação. Corria o ano de 1981 e o local escolhido pelo então príncipe das Astúrias para fazer a sua primeira proclamação pública foi, precisamente, as Astúrias. Segundo a Hola, o motivo foi uma cerimónia de entrega dos prémios Príncipe de Astúrias e as palavras do jovem Felipe de Borbón foram certeiras:

“Umas palavras para expressar a satisfação que sinto por me encontrar de novo nesta terra a que estou intrinsecamente ligado, a presidir pela primeira vez, e obedecendo a indicação do meu pai, a um ato tão significativo como este que estamos a celebrar”, disse, lendo uma carta escrita pelo jovem Felipe à mão, datada de 3 de outubro de 1981.

Segundo a revista Hola, o pai, o rei Juan Carlos, seguia a leitura do filho de forma atenta. Uma leitura firme e pausada, alternando entre olhar para a folha de papel e olhar para a plateia, numa leitura antes da mudança de voz.