Preso preventivamente há mais de um mês por suspeitas de ter sido o coautor da morte do triatleta, António Joaquim vai voltar ao Tribunal de Vila Franca de Xira na próxima sexta-feira para ser interrogado pelo Ministério Público, confirmou ao Observador fonte ligada ao processo.

O pedido de interrogatório complementar foi feito pelo próprio arguido, com quem Rosa Grilo mantinha uma relação extraconjugal. O seu objetivo poderá ser o de juntar novas informações à investigação ou clarificar explicações prestadas anteriormente, que levem o Ministério Público a considerar que não tem de o manter em prisão preventiva. Caso o considere, o Ministério Público poderá propor à juíza que a medida de coação seja atenuada, e este poderá aceder ou não.

Quando questionado no primeiro interrogatório sobre o que tinha feito no dia 15 de julho — dia em que a investigação acredita ter sido aquele em que Luís Grilo morreu — António Joaquim afirmou que não se lembrava. O interrogatório complementar poderá agora servir para o oficial de justiça explicar onde estava nesse dia. Na versão que Rosa Grilo apresentou no seu interrogatório, a viúva garantiu que o amante não esteve na sua casa “nem no domingo nem na segunda-feira”. “Até porque no domingo o António foi buscar os meninos dele, que ele está separado. Podem comprovar com a mulher e… não sei… com quem for possível”, assegurou a suspeita.

A tese defendida por Rosa Grilo vai ao encontro do que o amante disse no Tribunal de Vila Franca de Xira. António Joaquim disse que os dois amantes tinham combinado encontrar-se no dia 16 de julho — dia em que a viúva afirma ter sido aquele em que o marido foi assassinado por dois angolanos e um “branco” que lhe invadiram a casa em busca de diamantes. Segundo o oficial de justiça, Rosa Grilo disse que não podia encontrar-se.

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Contradições e “explicações absurdas”. Porque é que a PJ não acredita na versão de Rosa Grilo para a morte do marido

No mesmo interrogatório, a viúva negou qualquer envolvimento de António Joaquim na morte de Luís Grilo. “Nunca pensei que ele pudesse ser envolvido por causa disto… Ele não teve conhecimento”, disse. O inverso não aconteceu. Já no final do interrogatório, o oficial de justiça admitiu o envolvimento da amante na morte de Luís Grilo, apesar de ter acreditado na sua inocência durante mais de um mês.

Pensei é que não tivesse nada a ver. Como as coisas têm acontecido tem de ter algum envolvimento”, explicou António Joaquim, no interrogatório divulgado pelo Correio da Manhã.

O oficial de justiça disse não saber de nada sobre o crime nem sobre os angolanos de que Rosa Grilo fala e que a terão ameaçado, já depois da morte do triatleta. António Joaquim disse ainda que a arma que a Polícia Judiciária admite ter sido usada para matar Luís Grilo estava em sua casa, mas não sabe nem como é que Rosa lha tirou nem quantas balas tinha em casa. “Não sei como é que ela me tirou“, garantiu à juíza de instrução.

Já depois de saber que ficava em prisão preventiva, António Joaquim pediu à juíza que não o mandasse “para uma cadeia comum”, usando como argumento o facto de ser funcionário judicial há 18 anos. “Nunca conseguiria sobreviver”, disse nas declarações divulgadas pelo Correio da Manhã, justificando: “Trabalhei quase sempre na área criminal, estive pouco mais de um ano no cível. Por favor, tenham isso em atenção, senão não chego ao julgamento. As pessoas conhecem a cara, sou linchado lá dentro num instante. Por favor, peço uma cadeia especial, aquela de agentes da PSP, penso que o meu estatuto permite, tenho a certeza”, pediu o oficial de justiça.

“Contou-me que o Luís lhe batia”

“Foi um empurrão e uma ameaça de soco que não se chegou bem a concretizar”. Durante o interrogatório da juíza de instrução, António Joaquim garantiu que a viúva do triatleta sofria de violência doméstica por parte do marido. O amante detalhou ainda que o último episódio de agressão terá acontecido no escritório e que Rosa Grilo “inclusivamente terá contado aos pais”.

Lembro-me de ela me ter contado que noutra vez, já há muitos anos, que tinha sido agredida. Terá sido empurrada e também uma chapada”, disse ainda.

O oficial de justiça disse que o casamento de Rosa tinha “altos e baixos”. É um elemento que vai contra às declarações de vários amigos que, ainda antes de o corpo de Luís Grilo ter sido encontrado, afirmavam que o casal se dava bem e nunca discutiam — algo que a própria viúva chegou a assegurar, em entrevistas dadas antes de ser detida. Numa entrevista ao jornal O Mirante, de 2015, o triatleta descreveu um casamento sem problemas: “Estamos um com o outro 24 horas por dia porque trabalhamos juntos e para que as coisas corram bem temos áreas bem definidas nas responsabilidades da empresa. Em casa não luto com ela pelo comando da televisão”.

“Não luto com a minha mulher pelo comando da televisão.” A entrevista que Luís Grilo deu em 2015

Os dois suspeitos do homicídio de Luís Grilo estão em prisão preventiva, desde 29 de setembro — três dias depois de terem sido detidos por suspeitas de serem os autores do homicídio do triatleta. Luís Grilo terá sido morto a 15 de julho, de acordo com a investigação. No dia seguinte, a mulher deu conta do desaparecimento às autoridades, alegando que a vítima tinha saído para fazer um treino de bicicleta e não tinha regressado a casa. O corpo acabou por ser encontrado já no final de agosto, com sinais de grande violência, a mais de 130 quilómetros da aldeia onde o casal vivia, em Álcorrego, no concelho de Avis.

A PJ acabou por concluir que foi morto a tiro, em casa, pelos dois suspeitos e deixado depois no local onde foi encontrado. Rosa Grilo e o alegado co-autor do crime terão tido motivações de natureza financeira e sentimental. A investigação prossegue e a PJ, que tem fortes indícios de ter sido um crime premeditado, ainda está a apurar o móbil do crime.

Triatleta assassinado. A relação secreta que acabou em crime