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A equipa da vertigem ganhou uma estranha tendência para os desequilíbrios (a crónica do Benfica-Moreirense)

Este artigo tem mais de 5 anos

Jonas voltou, Jonas marcou. Logo aos dois minutos. Nem isso deu a paz de espírito para o Benfica sair das brasas; pelo contrário, errou mais e o Moreirense impôs a terceira derrota consecutiva (3-1).

Jonas regressou à titularidade com um golo, o 100.º na Liga, mas foi curto para evitar mais uma derrota do Benfica
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Jonas regressou à titularidade com um golo, o 100.º na Liga, mas foi curto para evitar mais uma derrota do Benfica

AFP/Getty Images

Jonas regressou à titularidade com um golo, o 100.º na Liga, mas foi curto para evitar mais uma derrota do Benfica

AFP/Getty Images

“Vai-te embora Rui Vitória!”, ouviu-se já na parte final da transmissão da BTV, quando a expressão “noite de pesadelo” tinha sido utilizada vezes sem fim. Nessa altura, as bancadas do estádio da Luz contavam com muito menos pessoas do que no arranque e até mesmo no início da segunda parte, altura em que um par de arrancadas de Salvio mais um remate de Jonas arrebitou os adeptos para confirmar aquilo que dizia a história até esta noite: sempre que o Benfica saía a perder por 3-1 ao intervalo, conseguia no mínimo empatar (ou até mesmo ganhar, como também aconteceu). Agora, não houve resposta. Não houve reação. Não houve sequer a aproximação a uma reviravolta. Depois do encontro, ecoava uma palavra: “demissão”.

Benfica soma terceira derrota consecutiva com o Moreirense (1-3) após primeira parte de loucos

O Halloween já lá vai mas o Benfica teve a sua noite de horror de forma atrasada. Após duas derrotas seguidas com Ajax (1-0) e Belenenses (2-0), o terceiro desaire consecutivo frente ao Moreirense e logo em pleno estádio da Luz carimbou aquela que passou a ser a pior série da era iniciada por Rui Vitória em agosto de 2015. Entre as muitas análises que serão certamente feitas, há uma que nunca deverá passar para plano secundário – os cónegos, orientados por Ivo Vieira, tiveram enorme mérito no primeiro triunfo em casa de um dos “grandes” e logo numa fase em que o clube comemora o 80.º aniversário. Depois, vamos às outras: 1) o Benfica fez um total de quase 60 remates nos últimos três encontros e conseguiu apenas um golo; 2) em 126 minutos a contar para o Campeonato, os encarnados sofreram cinco vezes, à média de um por cada 25 minutos; 3) exceção feita a Vlachodimos, um “achado” até pelo preço que custou, todos os outros reforços têm percentagens de utilização que mostram um peso demasiado diminuto para justificar aquilo que custaram no mercado de Verão. Mas essa é a análise “fácil”.

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Rui Vitória voltou a sofrer três golos numa primeira parte na Luz pela terceira vez em quatro anos (FRANCISCO LEONG/AFP/Getty Images)

Ficha de jogo

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Benfica-Moreirense, 1-3

9.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Nuno Almeida (AF Algarve)

Benfica: Vlachodimos; André Almeida (Salvio, 46′), Rúben Dias, Jardel e Grimaldo; Fejsa, Gedson Fernandes, Pizzi (Castillo, 46′); Rafa, João Félix (Cervi, 68′) e Jonas

Suplentes não utilizados: Bruno Varela, Samaris, Gabriel e Ferreyra

Treinador: Rui Vitória

Moreirense: Jhonatan; D’ Alberto, Abarhoun, Ivanildo, Rúben Lima; Fábio Pacheco, Loum; Arsénio (Bruno Fonseca, 79′), Chiquinho (Neto, 85′), Pedro Nuno e Nenê (Patito Rodríguez, 68′)

Suplentes não utilizados: Trigueira, Iago Santos, Alan Schons e Texeira

Treinador: Ivo Vieira

Golos: Jonas (2′), Chiquinho (5′), Pedro Nuno (16′) e Loum (36′)

Acção disciplinar: cartão amarelo a Jonas (55′), Rúben Dias (74′), Ivanildo (74′), Loum (75′) e Rúben Lima (85′); cartão vermelho direto a Jardel (76′)

Aquele golo sofrido em Amesterdão nos descontos acabou por abanar, e de que maneira, a carreira do Benfica; daí para cá, existe uma nuvem em forma de lei de Murphy que ensombra o conjunto encarnado. A solidez defensiva onde assentava parte do sucesso do conjunto de Rui Vitória desmoronou-se e qualquer transição rápida com boa definição de passe coloca em perigo a sua baliza; o meio-campo que tinha gás para emprestar aos restantes setores esvaziou – perdeu agressividade, tem menos recuperações, não estica jogo, deixou de desequilibrar na frente, de vez em quando até se desequilibra (a primeira parte de Fejsa é exemplo disso); na frente, Jonas é aquela garantia fiável de pelo menos um golo mas não tem parceiro para fazer o resto da diferença. Depois, e logo do capitão, veio a outra face desta semana complicada para o Benfica: o descontrolo emocional pela ansiedade de não conseguir virar o mal que tinha sido feito. Ser expulso por uma cotovelada na barreira, a perder 3-1, não existe.

Sem Seferovic, Jonas foi chamado de forma natural ao onze (seis meses depois da última titularidade na Liga, também contra o mesmo adversário) e João Félix surgiu na esquerda do ataque, passando Rafa para o lado contrário e Salvio para o outro lado da linha – que é como quem diz, para o banco. Numa semana em que tanto se falou da renovação, o argentino que falhou um penálti frente ao Belenenses começou de fora, coisa rara nas últimas temporadas. Opção, poupança, puxão de orelhas? Só Rui Vitória poderá saber mas a verdade é que demorou apenas dois minutos a ter em campo o resultado dessa aposta no miúdo.

Descaído na esquerda, João Félix viu o que poucos conseguiram e descobriu Jonas que, em posição regular, atirou de primeira sem hipóteses para Jhonathan, celebrando aquele que foi o 100.º golo no Campeonato. Para quem corria o risco de jogar sobre brasas, era impossível ter um arranque melhor do que este. E seguindo o raciocínio explorado ao longo da semana por vários jornais de que havia no grupo encarnado uma grande vontade de retificar a derrota com o Belenenses e mostrar a verdadeira valia da equipa, parecia um cálculo simples de 2+2=4 em relação a uma noite que deixasse para trás aquela reação mais negativa dos adeptos presentes no Jamor. No entanto, numa altura em que o estádio comemora o 15.º aniversário, lá apareceu mais uma marca histórica sob a forma de presente envenenado: numa jogada a explorar o espaço na esquerda da defesa do Benfica, Arsénio cruzou atrasado e Chiquinho – jogador contratado pelas águias à Académica que acabou depois por ser vendido aos cónegos – rematou colocado para o empate. Nunca a nova Luz tinha visto dois golos em apenas cinco minutos.

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos em vídeo do Benfica-Moreirense]

O arranque foi de loucos mas não ficou por aí, longe disso. Rafa, após um passe em profundidade nas costas da defesa contrária (com o internacional português em forma, é só colocar a bola que ele ganha sempre em velocidade), aproveitou a subida algo precipitada de Jhonathan para fazer um chapéu de cartola alta mas o brasileiro foi ainda a tempo de recuar e desviar com uma palmada a bola da baliza (7′); pouco depois, André Almeida colocou-se na paralela quando o Benfica trabalhava o jogo ofensivo pela direita, recebeu com espaço mas o remate saiu ao lado (9′). Em dez minutos, os encarnados somavam já cinco tentativas de remate (dentro e fora da área) e tinham 64% de posse contra um Moreirense organizado e que nunca perdia a oportunidade de esticar o jogo com qualidade ao último terço – até porque, nota para todas as equipas que jogam com os “grandes”, se a bola estiver do lado de lá a sua baliza fica sempre salvaguardada. Mas Ivo Vieira trazia outro antídoto para a supremacia dos encarnados: explorar as subidas dos laterais. E foi por aí, pelo lado de Grimaldo, que Arsénio entrou para fazer a bola atravessar toda a área até Pedro Nuno encostar para o 2-1 que fez a reviravolta (16′).

Em desvantagem, o Benfica tentou encostar de vez as linhas do Moreirense para lá do meio-campo. Em termos posicionais, e com Pizzi a cair nas alas para criar superioridades numéricas, Gedson Fernandes também se chegou à frente e arriscou mesmo a meia distância, vendo passar ao lado a oportunidade de repetir o brilharete com o Sertanense para a Taça de Portugal. No entanto, era daquele harmónio em forma de dez jogadores que saía a música mais perigosa na Luz, que não teve outro eco porque uma das tentativas saiu à figura de Vlachodimos (22′) e outra passou um pouco por cima (28′) – ambas por Pedro Nuno. De dentro para fora, a sinfonia ofensiva dos cónegos a explorar os erros posicionais passou a assobios que vinham das bancadas. O Benfica começava a entrar na espiral em que, quando mais queria, menos conseguia. E o Moreirense ganhava outra confiança.

Em três minutos, a lógica do jogo podia ter mudado. Em três minutos, o jogo ficou sentenciado de vez. Na sequência de um lance em que Pizzi ganhou espaço na direita, o cruzamento saiu perfeitinho para a cabeça de Jonas mas o brasileiro desviou por cima da trave (31′); pouco depois, no seguimento de mais uma bola a explorar a velocidade de Rafa, Jhonathan teve uma saída sem sentido, o internacional ficou com baliza sem guarda-redes mas acabou por acertar nas pernas de Ivanildo (33′). O avançado nem queria acreditar no que tinha acabado de falhar e deu murros no relvado mas esse sentimento de frustração não demoraria muito a multiplicar-se: em mais uma jogada desastrada da defesa, do posicionamento de Vlachodimos ao corte defeituoso de Jardel para os pés de Chiquinho, Loum encheu-se de fé e atirou de fora da área para o 3-1 (36′).

Para o segundo tempo, Rui Vitória arriscou tudo com a entrada de Salvio para o lugar de André Almeida e a colocação de Castillo ao lado de Jonas para sacrifício de Pizzi (que até poderia ter ficado mais fixo no meio para dar outro critério de construção) mas os minutos foram passando e, pasme-se, o número de oportunidades e o perigo que daí adveio até caiu a pique. É certo que o Moreirense baixou linhas, percebeu que seria complicado esticar o jogo como nos 45 minutos iniciais e com isso foi conseguindo gerir tempos com um à vontade até inesperado face ao contexto que tinha pela frente. Com onze, entre maiores ou menos dificuldades, foi controlando; contra dez, depois da expulsão de Jardel (76′), ainda mais confortável ficou. E foi assim que o Benfica, de forma arrastada, caminhou até à assobiadela final num tribunal da Luz que vai invertendo o sentido.

Se havia algo que se reconhecia a este Benfica de Rui Vitória, modelos e dinâmicas à parte, era a capacidade que a equipa tinha em fazer aquele jogo de vertigens que causava sempre mossa no adversário e, em paralelo, inviabilizava as saída do adversário. Situações de igualdade ou superioridade numérica do opositor na Luz era algo impensável por causa disso. Essa era uma das marcas mais fortes dos encarnados. Essa é uma das grandes explicações para a atual fase – onde outrora havia harmonia existe agora uma estranha tendência para os desequilíbrios, os mesmos que valeram três tombos consecutivos.

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