O canal de televisão espanhol Antena 3 divulgou esta segunda-feira parte do interrogatório em que Ana Julia Quezada confessou ter assassinado Gabriel Cruz, o menino de oito anos que foi dado como desaparecido no final de fevereiro e encontrado morto no início de março no porta-bagagens da suspeita. Ana Julia mantinha há alguns meses um relacionamento com o pai de Gabriel, Ángel Cruz, que tinha conhecido durante umas férias e de quem estava noiva. Nas declarações que prestou, a mulher de 43 anos afirmou que a morte da criança não passou de um acidente. “Não sou uma assassina”, disse, enquanto chorava.

Durante o interrogatório, a dominicana residente em Espanha contou que encontrou Gabriel a brincar com um pau perto da casa da avó paterna, em Las Hortichuelas (uma localidade no sul de Espanha), depois de terem almoçado, e que o convenceu a ir consigo até à casa da família em Rodalquilar, a quatro quilómetros dali, dizendo que esta estava em obras e que a ia pintar. “Entra no carro que eu levo-te comigo”, terá dito ao menino de oito anos. Uma vez na residência, Gabriel terá encontrado um machado, o que levou a que Ana Julia lhe pedisse que o largasse porque se podia magoar. A criança ter-se-á negado a fazê-lo, dizendo que a namorada do pai lhe estava sempre a dar ordens.

“Não quero que me dês ordens, és feia. Quero que deixes o meu pai. Quero que o meu pai se case com a minha mãe e te deixe. Tens um nariz muito feio, não gosto de ti”, terá dito Gabriel, segundo o relato de Ana Julia, que, para o calar, lhe tapou a boca e o nariz. Ao juiz, a mulher admitiu não se recordar durante quanto tempo o terá feito. “Quando deixou de fazer barulho, tirei a mão da boca. Lembro-me que, quando o fiz, o menino não respirava”, relatou. Ao aperceber-se do que tinha feito, Ana Julia terá fumado “uns quantos cigarros” porque “não sabia o que fazer”. “Estava-me a deixar louca. Só pensava: ‘O que é que vou dizer ao Ángel?’. Ao pai do Gabriel… Tirei-lhe a coisa mais importante que ele tinha”, contou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O corpo de Gabriel Cruz foi encontrado a 11 de março no porta-bagagem do carro de Ana Julia Quezada, 11 dias depois de ter desaparecido de perto da casa da avó Carmen. A autópsia confirmou que a criança morreu asfixiada e que, antes disso, foi atingido na cabeça, originando um traumatismo cranioencefálico. A mulher de 43 anos negou ter assassinado premeditadamente Gabriel e lamentou a sua sorte: “Perdi tudo”, disse ao juiz.

Ana Julia descreve como matou Gabriel: “Com raiva, acabei por asfixiá-lo, tapando-lhe o nariz e a boca”